quinta-feira, 16 de julho de 2015

O que os carrões de Collor contam sobre o Brasil.

Que Mujica diria disso?
Que Mujica diria disso?




O episódio dos supercarros de Collor é revelador das complexidades – e das misérias —  da política brasileira.
Considere.
No Twitter, o editor do Globoesporte, Gustavo Poli, postou uma foto em que Dilma aparece num palanque com Collor.
Mas um momento.
Estamos falando de um homem que é sócio dos patrões de Gustavo, como Jota Hawilla, Sarney etc.
Tudo bem isso? Subir num palanque com Collor é um horror, mas ser sócio dele é ok.
É a seletividade marota do que provoca indignação.
Suponhamos que alguém mandasse a Poli uma foto de seus patrões com Collor. Ele publicaria? Não. Acharia imoral a imagem? Aí não sei, mas penso que não, por incrível que pareça.
Para além disso, os carrões de Collor simbolizam o atraso monumental das oligarguias políticas brasileiras.
Falávamos outro dia no DCM das virtudes do Papa Francisco. Ora, a mensagem essencial de Francisco é a simplicidade franciscana, da qual deriva todo o resto.
Sempre falamos também de Mujica, uma espécie de alma gêmea de Francisco.
Um homem que controla seus impulsos de aquisição e ostentação tem os melhores atributos para a vida pública.
Mas o que dizer de alguém que tem aqueles carros que saíram, em desfile abjetamente triunfal, da Casa da Dinda?
O que ele não faz para ter aquele tipo de coisa?
Pouco tempo atrás, numa entrevista à BBC, Mujica falou tudo. Quem gosta de dinheiro, disse ele, não deve entrar na política. Deve ser empresário.
A política exige, ou deveria exigir, frugalidade, abnegação, capacidade de você se doar à sociedade.
A frota de Collor é a negação disso. Collor é a negação disso.
Para alimentar suas pretensões políticas, Collor encontrou na Globo o melhor aliado do mundo.
A questão básica é: como Collor pode ser dono de uma emissora – a afiliada da Globo em Alagoas — quando a Constituição proíbe isso?
Políticos no controle de tevês e rádios farão disso uma propaganda ininterrupta para si próprios.
Isso vai dar em outros Catões de ocasião da política nacional.
Aécio é um desses casos. Sem cerimônia, e sem cobrança da imprensa nacional, colocou dinheiro público nas suas empresas jornalísticas quando foi governador de Minas.
Isso, em circunstâncias normais, liquidaria a carreira de um político, mas Aécio está aí, nos importunando com suas lições de moral fajutas.
Meritocracia à Aécio
Meritocracia à Aécio
Até recentemente, o Brasil sequer sabia que ele tinha rádios em Minas. A informação apareceu quando ele foi pego numa blitz na noite carioca com um veículo – uma Land Rover — de que estava em nome de uma rádio sua.
Eduardo Cunha é outro caso, com uma rádio evangélica no Rio da qual se serve para fazer autopropaganda e ganhar dinheiro.
É um tema que tem que ser discutido também neste episódio dos carros de Collor.
Há reflexões paralelas, igualmente. Uma delas é a seguinte: os carrões de Collor provavelmente ficariam ignorados na Dinda se ele pertencesse ao PSDB.
Outra já é antiga: boa parte das reformas imprescindíveis na política brasileira não foram feitas por causa da governabilidade.
O PMDB ficou com FHC e depois seguiu com Lula e Dilma.
Isso significou a impossibilidade, na prática, de modernizar a política.
O estremecimento entre o PMDB e o governo de Dilma tem um mérito: minar as bases desse câncer imobilizador chamado governabilidade.
Sem isso, qualquer governo vai ter que se esforçar muito mais para emplacar coisas no Congresso — mas você não será obrigado a ver coisas como aqueles supercarros saindo da casa de Collor.

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