quinta-feira, 27 de agosto de 2015

O depoimento de Youssef deixou claro que a Veja cometeu um crime na véspera das eleições.

Crime
Crime.


Pouca gente notou uma coisa.
O depoimento de ontem do doleiro Youssef desmascarou o crime jornalístico da Veja às vésperas das eleições.
Lembremos.
A Veja deu no sábado, um dia antes do turno decisivo, uma capa em que afirmava que Dilma e Lula sabiam de tudo no escândalo da Petrobras.
Era uma afirmação amparada exatamente em Youssef.
Pela gravidade da acusação e pelo tom peremptório do texto, o leitor era induzido a acreditar que Youssef tinha evidências poderosas, como conversas gravadas ou coisa do gênero.
Mas não.
O que se viu ontem é que Youssef estava palpitando como qualquer transeunte.
Ele usou a expressão “no meu entendimento”. Trazido para o português coloquial, Youssef disse que estava por fora, e arriscava um palpite.
No contexto, ele poderia dizer sem provocar surpresa: “Não sei de nada, e se alguém souber por favor me avise.”
A declaração cândida de ignorância sobre a eventual participação de Lula e Dilma na roubalheira foi transformada criminosamente pela Veja numa peça cabal de incriminação.
Foi uma agressão não apenas a Dilma e Lula, mas também à democracia.
Quantas pessoas sobretudo em São Paulo, onde a revista montou uma operação de guerra contra Dilma e a favor de Aécio, não foram influenciadas pela falsa revelação?
É um episódio tão sinistro quanto a edição desonesta pela Globo do debate entre Collor e Lula, em 1989.
A única diferença é que então o crime compensou. Collor venceu. Agora, não compensou. Aécio perdeu.
Jamais a Globo pagou o preço pela trapaça, a não ser pelo lado moral, o que é muito pouco.
O mesmo tende a se repetir agora com a Veja.
Dilma, no fragor dos acontecimentos, disse na televisão que processaria a revista.
Mas cadê o processo?
Dilma deveria se inspirar em Romário, que reivindica uma edição de 75 milhões de reais por uma conta fajuta na Suíça que a revista inventou para ele.
Citei outro dia o jurista alemão Rudolf von Ihering, um inovador do século 19. Ihering consagrou a ideia de que, quando você for vítima de injustiça, tem o dever de procurar reparação, e não apenas o direito.
Dever porque é um serviço que se presta à sociedade.
Ihering mostrou que a Justiça só avança quando as pessoas lutam pelos seus direitos.
Lula tem feito isso ao processar quem o calunia e difama.
Não é uma luta fácil no Brasil. Gentili acusou Lula de forjar o atentado ao Instituto Lula, e foi intimado a esclarecer na Justiça a acusação.
O juiz conseguiu entender que ali havia uma piada, numa interpretação de texto peculiaríssima.
Não é fácil, repito, procurar justiça no Brasil, mas é imperioso fazê-lo. Em algum momento decisões absurdas como a que favoreceu Gentili serão insustentáveis.
Não sei o que terá feito Dilma recuar da promessa de acionar a Veja.
Mas foi um erro.
A impunidade estimula outros crimes, ao passo que o enfrentamento, como o de Romário, previne futuras delinquências.
Youssef, involuntariamente, revelou o crime da Veja.
Mas tudo indica que a revista não será cobrada por isso.
É uma pena para o país.
Quem sabia de tudo eram os donos e os editores da Veja. E mesmo assim seguiram em sua mentira brutal e, tudo indica, impune.

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