segunda-feira, 12 de outubro de 2015

O que sabe Eduardo Cunha sobre o PSDB?

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Segundo a denúncia do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, ao STF, no período compreendido entre junho de 2006 e outubro de 2012 o deputado federal pelo PMDB do Rio de Janeiro Eduardo Cosentino da Cunha “Solicitou para si e para outrem e aceitou promessa de vantagem indevida” no valor total de 40 milhões de dólares.
A propina derivaria de intermediação de Cunha para que ocorresse contratação pela Petrobrás de fornecimento de navios-sonda do estaleiro coreano Samsung Heavi Indústries ao custo de mais de um bilhão de dólares.
Como todos sabem, até ontem esses movimentos que pedem o impeachment de Dilma Rousseff apoiavam Cunha afirmando que através de seu “probo” líder político estariam “combatendo a corrupção do PT”.
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Recentemente, parte dessa vultosa propina a Cunha foi encontrada na Suíça e nos Estados Unidos em nome de familiares dele. A Procuradoria tem documentos que comprovam que esses recursos milionários encontrados nas contas dessas pessoas não têm explicação quanto à origem, o que torna praticamente irrefutável a tese de que são recursos ilegais.
Dificilmente esses grupos devem ter lido a denúncia da Procuradoria contra Cunha – para quem não leu, basta clicar aqui e aqui. Se esses analfabetos políticos tivessem lido, não diriam as bobagens que dizem.
Como todos também sabem, porém, são grupos movidos por questões ideológicas que não têm nada que ver com corrupção. Apesar de haver dinheiro de origem obscura financiando esses movimentos, a massa que os compõe é formada por hordas de inocentes uteis, gente de baixo nível intelectual, apesar das contas bancárias gordas.
Muito diferentes, porém, seriam os motivos da oposição a Dilma Rousseff, PSDB à frente. Sob o discurso hipócrita de “combate a corrupção”, tucanos e demos, sobretudo, estariam sustentando Cunha por julgarem que só ele, na Presidência da Câmara, seria capaz de fazer o que fosse necessário para derrubar o atual governo.
Por essa razão, o líder do PSDB na Câmara dos Deputados, Carlos Sampaio (SP), afirmou ao Estadão, na segunda-feira passada, que seu partido pretendia aguardar mais informações sobre a existência de contas bancárias na Suíça em nome de Cunha para deixar de apoiá-lo. “Seria leviano da minha parte afirmar que ele [Cunha] está envolvido. Ele tem o benefício da dúvida”, disse Sampaio.
Contudo, esse cenário começou a mudar ao longo da semana passada.
Apesar do silêncio da grande mídia sobre Cunha – devidamente destacado pela ombusman da Folha -, novas revelações sobre dinheiro de propina encontrado no exterior fizeram explodir nas redes sociais uma onda de revolta contra ele poucas vezes vistas. Durante a semana, este blogueiro postou uma piada sobre o presidente da Câmara no Facebook que viralizou de uma forma impressionante.
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No Twitter, a hashtag #CunhaNaCadeia tornou-se a segunda mais repercutida em todo o mundo.
Definitivamente, a mídia não tem mais poder de interditar assunto algum.
O apoio a Cunha pela oposição demo-tucana e pelos movimentos pró-impeachment, portanto, já começa a ficar inviável, de modo que esses grupos políticos já ensaiam dizer que não são mais “milhões de Cunhas”.
A oposição demo-tucana chegou a emitir uma nota “mela-cueca” sobre o presidente da Câmara que não convenceu nem mesmo apoiadores do PSDB como o blogueiro da Globo Ricardo Noblat, quem, em postagem recente, afirmou que A oposição finge pedir o afastamento de Eduardo Cunha.
Diz Noblat:
Não é nota de adversários, mas de admiradores de Eduardo, sinceramente preocupados com o seu futuro. Nada cobram pelas denúncias que o atingem, sequer se referem a elas (…)A nota é para satisfazer os formadores de opinião que cobram mais decência da parte da oposição”.
Quando um antipetista como Noblat escreve algo assim, é bom a oposição ter cuidado.
Porém, neste domingo a Folha de São Paulo publicou artigo do colunista Janio de Freitas – decano do colunismo político brasileiro e um dos jornalistas mais respeitados do país – que insinua que o apoio renitente da oposição a Cunha, apesar do desgaste político que gerou a PSDB e DEM, pode ter razões bem menos político-ideológicas, por assim dizer.
Na coluna intitulada Vozes da Moralidade, Janio explica que PSDB e DEM têm duas motivações distintas para submeterem-se ao desgaste de apoiar alguém contra quem pesam denúncias tão graves e tão cheias de provas.
Vamos a elas (by Janio de Freitas):
1 – “Os taradinhos do impeachment preservam o presidente da Câmara porque esperam dele que instale a ação para a derrubada de Dilma e não têm pudor de dizê-lo. Aécio Neves não foi sugerir a Eduardo Cunha que se licenciasse coisa nenhuma, se nem disfarçou o desejo de que seja poupado para encaminhar o processo. O 1aquilo1 em que esses taradinhos só pensam não é aquilo, é o impeachment
2 – “A outra vertente de proteção peessedebista a Eduardo Cunha veio dos mais velhos que ainda influem no partido. São remanescentes do governo Fernando Henrique. Ou seja, do escândalo das privatizações causado por grampos telefônicos que levaram à saída forçada de ministros e de outros do governo, comprometidos com fraudulências surpreendidas pelas gravações
Bingo!
A razão número 1 não é forte o suficiente para fazer o PSDB submeter-se ao desgaste de apoiar alguém tão enrolado quanto Cunha – o PSDB vem dando mais apoio a Cunha que o partido dele, o PMDB, no qual não faltam vozes eminentes pedindo sua cabeça. Qualquer outro presidente da Câmara que sucedesse Cunha poderia dar vazão ao processo, pois todos sabemos que o PT não terá força para impedir que algum outro tipo de Cunha seja colocado no lugar daquele que for tirado.
O restante do artigo de Janio de Freitas explica melhor por que o colunista acha que o PSDB não tem coragem de agir contra Cunha da mesma forma que age contra Dilma, que não tem em seu desfavor nem um milionésimo por cento do que há contra o presidente da Câmara: o colunista acha que Cunha tem informações que podem complicar os tucanos.
Confira, abaixo, o trecho final da coluna de Janio de Freitas na Folha de São Paulo em 11 de outubro de 2015.
Confrontado de repente com uma pergunta sobre a origem das fitas, o general Alberto Cardoso, da Casa Militar, disse que foram encontradas sob um viaduto em Brasília. A verdade era outra. A maior parte dos procedimentos para as privatizações transcorreu no Rio, sede das empresas e do BNDES, além das extensões de ministérios também envolvidos, como Indústria e Fazenda. Tudo se passava, portanto, nos domínios territoriais e operacionais de Eduardo Cunha, presidente da Telerj, a telefônica estatal do Rio, no governo Collor e até a posse de Itamar Franco.
Logo, nada de extraordinário que, pelas investigações ou por dedução, o circuito fechado do governo Fernando Henrique desse as gravações como obra de Eduardo Cunha, que em anos recentes já fora dado como responsável por grampos em série. No seu “diário” de presidente, Fernando Henrique refere-se a Eduardo Cunha deste modo, transcrito da revista “piauí” pela Folha: “O Eduardo Cunha foi presidente da Telerj, nós o tiramos de lá no tempo do Itamar porque ele tinha trapalhadas, ele veio da época do Collor”. Esse “nós” é invenção da vaidade. Fernando Henrique estava indo para Relações Exteriores e nada teve com a exoneração rápida de Eduardo Cunha, decidida e feita por Itamar. Sem sequer considerar trapalhadas, mas, como muitas outras demissões, por ser ligado a PC Farias.
Gravações clandestinas não começam no exato momento comprometedor da conversa. Quem as instalou pode fazer coleções de conversas, personagens e assuntos. E quem sabe que gravações podem trazer-lhe complicações, diretas ou indiretas, não ousa contra o possível colecionador. A não ser quando o veja batido, esvaído, inerte. Como muitos têm esperado ver Eduardo Cunha, para lembrar-se de que são grandes defensores da moralidade. Privada e pública.
Mas não só de grampeamentos se fazem coleções biográficas. Como ex-presidente da Telerj, Eduardo Cunha sabe –e ninguém duvide de que também comprove– que a estatal dava dinheiro a políticos. Quantias fixas. Mês a mês. Por nada.
E Eduardo Cunha não só investigou. Também pagou. Se vai cobrar, ainda não se sabe”.
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