sexta-feira, 12 de agosto de 2016

Péssimo dia para a democracia: senado aprova julgamento de impeachment de Dilma - O golpe seria o fim de 13 anos de liderança Partido dos Trabalhadores, e deixaria no Michel Temer, que não passou pelo crivo das urnas.

Roberto Stuckert Filho/PR


Andrea Germanos, Common Dreams


O Senado brasileiro, na quarta-feira (10), votou para manter o julgamento de impeachment para a suspensa presidente Dilma Rousseff, um esforço que poderia marcar o fim de 13 anos de liderança do seu Partido dos Trabalhadores.

“Hoje não é um bom dia para a democracia”, disse o Senador Paulo Rocha, um aliado da primeira presidente mulher da nação. Ele adicionou que “há uma aliança política que cheira a golpe” trabalhando contra ela.

Rousseff é acusada de infringir leis orçamentárias, mesmo que o Ministério Público Federal, mês passado, tenha estabelecido que ela não cometeu crime.

A votação de 59-21 marca “o passo final antes do julgamento e votação de remoção da presidente do cargo”, relatou a Associated Press.

“É esperado um veredito no final do mês e serão necessários dois terços dos votos do Senado para condenar Rousseff, cinco votos a menos do que seus oponentes conseguiram na quarta-feira”, relata a Reuters.

Rousseff está suspensa desde maio quando o senado votou pelo inicio do julgamento de impeachment contra ela. Isso significou que o então vice-presidente, Michel Temer, se tornou presidente interino. Se Rousseff for removida do cargo, o não eleito, de centro-direita, Temer, ficaria no cargo até 2018, o resto do mandato de Rousseff.

Rousseff chamou a movimentação de golpe, e o maior jornal do Brasil, em maio, publicou evidências de “conspiração evidente” entre um importante oficial do governo e um executivo do petróleo que disse que a saída dela era o único jeito de travar uma grande investigação de corrupção e propina.

Uma votação para removê-la do cargo já é um “destino certo – o veredito será duplamente inteiramente merecido e profundamente injusto”, escreveu essa semana, Franklin Foer, editor colaborativo do Slate. “De um lado, não há como negar que ela falhou miseravelmente como presidente – tão mal que é difícil imaginá-la governando efetivamente nos próximos meses e anos. Por outro lado, incompetência não é suficiente para sua remoção. O caso contra ela é uma condição, tocada por figuras sinistras.”

O Senador Bernie Sanders (I – Vermont) entrou na discussão na segunda-feira, divulgando uma declaração, dizendo que estava “preocupadíssimo” com o caso, que representa “não um julgamento legal mas sim um julgamento político”. Ele adicionou, “para muitos brasileiros e observadores o processo controverso de impeachment lembra um golpe de estado”.

“Depois de suspender a primeira presidente mulher do país com bases duvidosas, sem um mandato para governar, o novo governo interino aboliu o ministério das mulheres, igualdade racias e direitos humanos. Imediatamente substituíram uma administração diversa e representativa por um gabinete feito inteiramente de homens brancos. A nova e não eleita administração rapidamente anunciou planos para impor a austeridade, o aumento da privatização, e para instalar uma agenda social de extrema direita”, continuou a declaração de Sanders.

A denúncia do Senador de Vermont “do ataque à democracia brasileira é parte de um reconhecimento internacional crescente da ilegitimidade do comando de Temer”, escreveu Glenn Greenwald no The Intercept. Ele continuou:

Apenas duas semanas atrás, “40 membros Democratas do Congresso dos EUA publicaram uma carta … expressando 'profunda preocupação' com as ameaças à democracia no Brasil”. Denúncias similares do impeachment de Dilma foram divulgadas pelo líder do Partido Trabalhista, Jeremy Corbyn, por membros do Parlamento e líderes trabalhistas, pela Organização dos Estados Americanos, por dezenas de membros do parlamento da UE e pelo primeiro ganhador do prêmio Pulitzer no Brasil.

A posição de Temer é tão dúbia que, como relatou a AP mês passado, muitos líderes mundiais estão evitando as Olimpíadas do Rio para evitar apertar sua mão.

Temer – que escolheu um gabinete de homens brancos e ricos – está envolvido em escândalos de corrupção e é muito impopular mas é “simpático às corporações”, de acordo com o Reuters.
Ele foi recebido com vaias na abertura da cerimônia dos Jogos Olímpicos no Rio. E, como relatou a NPR, foi somente “o primeiro de muitos protestos dentro de locais Olímpicos. Postagens nas redes sociais viralizaram, mostrando pessoas com ingressos sendo removidas à força pela segurança – algumas por simplesmente usarem camisas pedindo pela saída de Temer”.

O autor Jules Boykoff adicionou na Jacobin Magazine: “Fora Temer era o pedido de uma enorme mobilização na praia de Copacabana no dia 5 de agosto, a manhã da cerimônia de abertura. O presidente do Brasil é extremamente impopular no país, com uma pesquisa recente mostrando sua taxa de aprovação em 11%. [...]”
“Muitos ativistas conectaram os pontos Olímpicos entre a crise política mais ampla e os Jogos”, ele continuou. “Alguns usaram camisas escritas G-O-L-P-E dentro dos anéis do símbolo dos Jogos. Muitas bandeiras com 'Fora Temer' e com os anéis Olímpicos no lugar do 'o' de 'Fora'”.
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