quinta-feira, 20 de outubro de 2016

Merval me ataca e sugere que Lula seja preso por se defender.

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Mais um que resolveu tirar uma lasquinha do pobre blogueiro por ter divulgado que recebeu informação de que Lula poderia ser preso por estes dias, aproveitando o momento desfavorável para o PT por conta das últimas eleições e no embalo dos indiciamentos sequenciais do ex-presidente na Justiça.
Merval  Pereira é um velho conhecido dos blogueiros de esquerda. Em 2014, por exemplo, em programa na rádio CBN, ao lado de Carlos Alberto Sardemberg, acusou blogueiros que entrevistaram Lula de ser “pagos pelo governo” para dizer o que dizem.
Os blogueiros atingidos cogitaram processar Merval em grupo pela calúnia, mas não chegaram a um acordo sobre os custos da ação e acabou ficando tudo por isso mesmo.
Poucos dias depois, o jornal O Globo publica uma incrível matéria sobre quem eram os jornalistas que haviam entrevistado Lula. Publicou matéria de página inteira no primeiro caderno do jornal e uma matéria ainda mais ampla em um encarte especial (vide foto no alto da página).
E o tom que seria impresso à matéria se revelava na pergunta da repórter do Globo que me entrevistou: quis saber se eu não achava que os blogueiros haviam sido muito brandos com Lula e se não deveriam ter sido mais imparciais fazendo perguntas incômodas a ele, o que já é uma contradição porque fustigar um entrevistado é uma decisão pra lá de parcial.
Nesta quarta-feira 19, Merval volta à carga, agora contra este blogueiro. O que mais me chamou atenção na matéria foi ataque do colunista ao direito de defesa de Lula – ele diz que o ex-presidente se defender e criticar os processos contra si é tentativa de “desacreditar a Justiça”.
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Claro que Lula poderia ser mais colaborativo com os anseios políticos do colunista “imparcial” de O Globo. Não precisava ficar se defendendo com tanto empenho. Afinal, a Globo quer a prisão do Lula, o PSDB quer, a Fiesp quer, de modo que é “absurdo” Lula ficar lutando para não perder a liberdade e morrer na cadeia, pois está com quase 70 anos.
O mais engraçado, porém, é o ataque que Merval me faz. Como evidência de que dei “notícia falsa”, ele cita que tive 1300 votos na eleição deste ano. Ou seja, se eu tivesse tido uma votação 10 vezes maior, por exemplo, na avaliação do colunista estaria comprovada a minha “notícia”.
Desde o primeiro momento eu disse que não tinha como comprovar o que estava dizendo, mas que acreditei em uma notícia que ouvi de uma fonte confiável.  Pareceu-me lícito acreditar que havia a possibilidade de Lula ser preso sob alguma desculpa em um país em que um juiz de primeira instância grampeia a presidente da República e depois pede desculpas ao STF.
Cada um pode julgar o que quiser sobre a informação que divulguei. É uma questão de fé ou falta de fé. A pessoa acredita se quiser. Como todos sabem, oito meses atrás eu acertei. Agora, não se sabe. Posso ter errado ou pode ser que minha denúncia tenha atrapalhado os planos da Lava Jato de prender Lula de surpresa sob uma desculpa qualquer e criar um fato consumado.
Dizem que não há elementos para prender Lula. Eu concordo. Ele tem bons antecedentes, residência fixa etc. Porém, estamos em um país em que há dúzias de pessoas cumprindo pena de prisão há muito tempo sem que sequer tenham sido julgadas.
É nesse país que vou duvidar de que podem inventar uma desculpa para prender Lula?
Por fim, Merval Pereira mostrou, mais uma vez, a má qualidade do seu jornalismo. No post anterior, reproduzi comentário da jornalista Monica Bergamo na Band News no qual ela contextualiza a razão pela qual o mordomo de tucanos comentou meu trabalho – Monica lembra que como acertei em fevereiro/março sobre a condução coercitiva do Lula, isso me deu credibilidade para fazer as pessoas coçarem a cabeça desta vez.
Merval não achou importante informar aos seus leitores que quem ele desmerecia tinha um histórico de acertos. Preferiu dizer que não merecia a credibilidade que conquistei porque só tive 1300 votos na eleição deste ano.
Se eu tivesse tido muitos votos, então ele acreditaria na minha denúncia ou me enxergaria como alguém confiável?
Você, leitor, acha que ter 1300 ou 13.000 ou 130.000 votos desmerece ou enaltece alguém? Quantos votos teve Eduardo Cunha? Ele se tornou um homem decente por conta da sua votação? E Bolsonaro? Campeão de votos no Rio e campeão de falta de caráter e humanidade.
Eu digo que os votos que recebi são de qualidade, porque quem votou em mim sabia em quem estava votando e por que estava votando, o que é muito mais do que se pode dizer da maioria dos eleitores de candidatos que foram eleitos. Além disso, só fiz campanha na internet. Nem entreguei o monte de panfletos que o meu partido me doou e não fiz um único evento de campanha.
Com minha candidatura, quis aprender como funciona o sistema e fazer um ato simbólico de resistência.
Mas o que revolta mesmo é a conclusão da arenga de Merval. Ele insinua que Lula pode pedir asilo político a outro país e, por isso, estaria tentando desacreditar a Justiça. Fica mais do que claro, no artigo de Merval, que ele tenta voltar a reação de Lula contra ele mesmo, sugerindo que ele seja preso por estar se defendendo acusando a Lava Jato de parcialidade.
Bem, Lula não está sozinho. O jornalista italiano Gianni Barbacetto (dir.), autor do livro “Operação Mãos Limpas”, que inspirou Sergio Moro, pensa a mesma coisa que o presidente.
Na Foto abaixo, reunião recente dele com o juiz antipetista.
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Em entrevista concedida há poucos dias ao jornal brasileiro Zero Hora, Barbacetto fez fortes críticas ao seu admirador; disse que Moro age com “seletividade” só contra o PT.
Se o juiz brasileiro não engoliu uma coluna de jornal, não é difícil imaginar como deve estar encarando as observações do autor de uma obra para a qual ele, Moro, contribuiu com um texto.
Reproduzo um trecho da fala de Barbacetto ao jornal Zero Hora:
“(…) Na Itália, após a Mãos Limpas, desapareceram cinco partidos do governo, e um partido de oposição mudou de nome e de programa. Isso aconteceu porque os cidadãos, depois que souberam da corrupção através das investigações conduzidas pelos magistrados, não quiseram mais votar nesses partidos. Isso levou ao surgimento de novos partidos e mudou todo o sistema político, nasceu naquele momento na Itália o que se denomina a “Segunda República”. Na realidade, em seguida, descobrimos que os novos partidos nada mais eram do que os velhos reciclados. Apesar de saber pouco sobre a situação brasileira, estou surpreso que apareçam acusações só contra o PT e seu líder Lula, porque parece-me que todo o sistema está envolvido pela corrupção (…)”
Pois é, Merval. Pelo visto, Lula tem boas razões para dizer o que está dizendo sobre a Justiça brasileira. E eu tive boas razões para acreditar na hipótese de que venham a inventar alguma razão para encarcerá-lo no momento que todos reconhecem ser favorável ao antipetismo.
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PS: essa prisão de Eduardo Cunha veio cheia de simbolismo, não?

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