domingo, 5 de fevereiro de 2017

Lula se despede da 'galeguinha' Marisa: 'Ela sustentou a barra'

 



 "Minha vida não seria um décimo do que é se não fosse este sindicato. Aqui eu aprendi a falar, aqui eu perdi o medo do microfone. Eu não esqueço os acontecimentos deste salão. Aqui eu conheci a Marisa. 


Aqui a Marisa sustentou a barra para que eu me transformasse no que eu sou", disse Lula, emocionado. "Ela praticamente criou os filhos sozinha...", acrescentou, interrompendo a fala. "Na verdade, ela foi mãe, pai, filha, foi avó, foi tudo."


A ex-presidenta Dilma Rousseff, governadores, ex-ministros, representantes de diversos partidos e de movimentos sociais e muitos antigos companheiros de Lula estiveram desde cedo na sede do sindicato. O velório foi aberto ao público às 10h, após um momento reservado para a família. Até as 15h, aproximadamente, a fila vinha do térreo até o terceiro andar do prédio. Lula permaneceu três horas em pé, ao lado do caixão, até sair para uma área mais retirada, ao lado. A cerimônia terminou às 15h30. 

O corpo seria levado para o cemitério Jardim da Colina, também em São Bernardo, para ser cremado, em cerimônia reservada à família.

O discurso do ex-presidente não estava previsto. Ele falou após as manifestações de Dom Angélico Sândalo Bernardino – que há dois dias administrou o sacramento dos enfermos –, do bispo da Diocese de Santo André, dom Pedro Carlos Cipollini, e do padre Júlio Lancelotti, da Pastoral do Povo de Rua. Foram evitados discursos políticos, mas dom Angélico fez referências às reformas trabalhistas e da Previdência Social, para que não sejam "contra os trabalhadores, contra os pobres". E pediu a Lula que descanse a partir de amanhã, "pois o Brasil vai precisar muito de você".
"A Marisa Letícia está viva. Foi uma guerreira na luta a favor da classe trabalhadora. Ela está dizendo ao povo para continuar mobilizado na rua", acrescentou o bispo, citando trechos do bíblico Sermão da Montanha: "Bem-aventurados os que têm sede e fome de justiça, serão saciados". "Quem ama é imortal. Quem ama não morre jamais. Marisa sempre", exclamou padre Júlio. As milhares de pessoas rezaram o Pai-Nosso, depois de gritos de "Lula, guerreiro do povo brasileiro", "Marisa, guerreira da pátria brasileira".
Lula lembrou de quando conheceu Marisa e disse que o casamento é "o maior exercício de democracia" que existe, acrescentando que eles nunca brigaram. "Ela certamente vai encontrar figuras extraordinárias lá em cima", afirmou, citando dona Regina, mãe da ex-primeira-dama, usando o chamativo familiar "Regineta".
Também enfatizou o papel político de Marisa ao seu lado, como companheira e conselheira. "No fundo, ela era mais do que uma ministra. Ela tinha muito mais importância que os ministros. Ela dizia ' não esqueça nunca de onde você veio e para onde você vai voltar'', lembrou.
E recordou de uma passagem no Palácio da Alvorada, residência presidencial, quando a então primeira-dama começou a rir sem parar. Ela explicou depois, ainda rindo, que provavelmente os funcionários da cozinha nunca imaginariam que teriam um presidente da República e uma primeira-dama pedindo para cozinhar "pé de frango". Segundo ele, era uma "galeguinha que parecia frágil, mas quando ficava brava botava medo". Olhando para a companheira, disse que iria agradecer por toda a vida. Contou ter ele mesmo escolhido o vestido, vermelho. "A gente não tinha medo de vermelho quando era vivo, não tem medo de vermelho quando morre", falou, sob aplausos. Também pôs a tradicional estrelinha do PT no vestido: "Eu tenho orgulho".
Dizendo esperar que os "facínoras" tenham a humildade de pedir desculpas, repetiu ter a consciência tranquila e se emocionou mais uma vez na despedida: "Marisa, descanse em paz, que o seu Lulinha paz e amor vai continuar para brigar por você..."

 Fonte: Rede Brasil Atual

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Marisa deixa exemplo de mulher de luta e despertar contra intolerância


 


Do lado de fora, uma longa fila dobra as esquinas no entorno do prédio. Um dos primeiros a chegar ao velório de Marisa Letícia, o presidente do sindicato, Rafael Marques falou à Rádio Brasil Atual sobre a escolha da entidade para as cerimônias.

"Foi aqui que Marisa Letícia conheceu o presidente Lula. Ela era uma frequentadora do sindicato, usuária dos serviços oferecidos pelo sindicato nos anos 70. Aqui ela conheceu o presidente Lula e não fechou essa relação com ele em casa, ela se juntou com ele à família metalúrgica. Uma pessoa que sempre esteve ao redor do sindicato, motivando os dirigentes que passaram depois dele, sempre presente, com palavras de força e conforto nas horas difíceis, de valorização nas conquistas. Uma figura da maior importância para a história da categoria", afirmou.

O dirigente destacou ainda que Marisa Letícia "representa muito bem aquilo que as mulheres metalúrgicas significam para as lutas do sindicato. A história dessa luta foi reforçada pelo coletivo de mulheres trabalhadoras e de companheiras de trabalhadores. Muitas greves foram vitoriosas pela atuação das mulheres e a Marisa sempre esteve junto com esses movimentos. Foi uma grande consternação nas fábricas."

Rafael Marques acredita ainda que a morte de Marisa Letícia traga um novo legado, além do exemplo de luta e dedicação às bandeiras da classe trabalhadora. "Acho que nessa conjuntura que vivemos, de tanta raiva, de gente insensata, que a morte da Marisa vai abrir o debate que nós queremos. Nas redes sociais já se percebe muita gente querendo reagir contra esse clima de intolerância que a gente está vivendo. Intolerância que ela sofreu muito, com os ataques contra a família, os vazamentos da conversada família feita pelo juiz da lava jato. Ela se machucou muito e agora deixa um despertar, uma mensagem de que precisamos ir por outro caminho, não pode mais querer dar na cara um do outro, só porque pensa diferente."
 

Fonte: Rede Brasil Atual

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