sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Raul Castro: “Problema principal com os EUA não foi resolvido”

III Cúpula da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac). Foto: Roberto Stuckert Filho/PR.

A Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC) está reunida desde ontem em San José da Costa Rica com uma pauta que nunca foi tão expressiva nos últimos anos: nesta cúpula 2015 (a 3ª do bloco) os dois principais pontos da agenda são a volta de Cuba à Organização dos Estados Americanos (OEA) e o fim do embargo econômico norte-americano à Ilha.
Além da retirada de Cuba da lista de países patrocinadores do terrorismo, na qual o país foi incluído por ação dos Estados Unidos e que é uma aberração igual ao bloqueio criminoso que estrangula a Ilha há décadas. A expectativa é que o Congresso norte-americano revogue a legislação sobre o bloqueio e que o Executivo, o presidente Barack Obama, nem espere a decisão do Legislativo e adote medidas já ao seu alcance seu alcance para fazer letra morta o infame bloqueio, para modificar “substancialmente sua aplicação”.
Um dos primeiros a discursar nesta 3ª Cúpula da CELAC, o presidente cubano Raul Castro passou um recado a Washington e para o mundo. Afirmou, com todas as letras, que o “problema principal (com Washington) não foi resolvido” e sugeriu que o presidente Obama  use as prerrogativas de que já dispõe para mudar a aplicação do embargo à ilha. para modificar “substancialmente a aplicação do bloqueio”
Continuidade do bloqueio é uma violação do direito internacional
“O problema principal não foi resolvido. O bloqueio econômico e financeiro causa enormes danos à população cubana e é uma violação do direito internacional”, afirmou Castro. O dirigente cubano disse saber que o fim do bloqueio será um “caminho longo e difícil, que vai exigir um esforço das pessoas de boa vontade nos EUA e no mundo”.
No pronunciamento o presidente Castro também cobrou que os Estados Unidos retirem Cuba da lista de países patrocinadores do terrorismo. “Como explicar o restabelecimento de relações diplomáticas sem que se retire Cuba da lista de patrocinadores do terrorismo?”, questionou.
Em um dos momento mais importantes e expressivos de seu discurso, Castro lembrou que seu governo não vai ceder “nem um milímetro” na defesa da soberania nacional. “Representantes do governo norte-americano têm sido claros em precisar que estão sendo mudados os métodos, mas não os objetivos da política. Eles insistem na ingerência nos assuntos internos”, disse. “Não vamos aceitar das contrapartes estadunidenses que se relacionem com a comunidade cubana como se em Cuba não houvesse um governo soberano”, completou.
Absurdos são cometidos pelos EUA contra a Venezuela
A III Cúpula da CELAC entrará para história não só como o palco da defesa de Cuba e da Venezuela, mas colocará luz sob alguns dos absurdos cometidos pelos EUA em nome dos direitos humanos e da democracia. Raul Castro está certo em seu discurso, assim como os líderes reunidos que tentam combater o imperialismo americano que subjuga os países de nossa região.  Frear Washington não será fácil, mas é necessário posicionar-se no mundo contra esse tipo de postura.
Assim que tem que ser e é assim que Cuba irá garantir sua reentrada no comércio mundial e a queda do embargo sem comprometer sua soberania. Todos sabem que a insistência de Washington neste bloqueio já não cabe mais no cenário internacional.
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DILMA DEFENDE CUBA E UMA MAIOR APROXIMAÇÃO DAS AMÉRICAS DO SUL E CENTRAL COM O CARIBE.

Como todos esperavam o discurso da presidente Dilma Rousseff, na abertura da III Cúpula da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC), em San José, na Costa Rica, foi enfático e abordou a sempre presente e delicada  questão diplomática entre Cuba e Estados Unidos.
A presidenta pediu, é claro, o fim do embargo econômico a Cuba e disse considerá–lo uma “medida coercitiva” a ser “superada” o quanto antes.  “Começa a se retirar da cena latino-americana e caribenha o último resquício da Guerra Fria em nossa região. Não tenho dúvidas de que a CELAC tem sido um catalisador desse processo. Foram necessários coragem e sentido de responsabilidade histórica por parte dos presidentes Raúl Castro e Barack Obama, para dar esse importante passo”, afirmou a mandatária brasileira, durante seu discurso assistido pelos lideres dos Estados membros da cúpula, inclusive  o presidente da Ilha, Raul Castro.
Dilma classificou a reaproximação dos dois países como um episódio de  “transcendência histórica” e reafirmou que os dois chefes de Estado à frente da iniciativa, Obama e Castro, merecem reconhecimento. A presidenta brasileira encareceu a necessidade das negociação prosseguirem até a suspensão total do embargo econômico dos EUA a Cuba.
Fim do bloqueio é defendido por todos os países da CELAC
“Essa medida coercitiva, sem amparo no direito internacional, que afeta o bem-estar do povo cubano e prejudica o desenvolvimento do país deve ser superada. Tenho certeza esse é o ponto de vista de todos os países aqui representados”, completou.
A presidenta brasileira abordou a questão da necessidade do crescimento do comércio entre os países das Américas do Sul, Central e do Caribe. Considerou a proposta imprescindivel diante na queda do crescimento do comércio internacional e das dificuldades de recuperação do mercado principalmente nas economias norte-americana, europeia e japonesa.
Por isso, a presidenta avalia – de forma correta – que  a situação da economia mundial vai exigir “cautela e esforço dos países da América Latina e do Caribe para estimular a competitividade de suas economias”.
O porto de Mariel
Ela tratou, ainda, de fazer um diagnóstico sobre a desaceleração econômica de potências mundiais.  Sobre o Brasil, disse que “continuamos a enfrentar muitas dificuldades. Parte dos efeitos da crise foi amenizada pelo modelo de desenvolvimento econômico que adotamos, com forte ênfase na inclusão social e nas políticas anticíclicas”.
Para a infelicidade daqueles que torcem o nariz para o porto de Mariel, em Cuba, financiado pelo Brasil, a presidenta aproveitou o encontro internacional para elogiar a iniciativa brasileira de financiar a construção do porto na Ilha. Passando um recado bem claro a presidenta classificou que o investimento do Brasil foi “em prol de uma integração abrangente” entre os países de todas as Américas.
A presidenta também aproveitou seu discurso para agradecer ao governo e ao povo cubano o apoio que “têm dado ao atendimento dos serviços básicos de saúde para 50 milhões de brasileiros”. Referia-se à participação de profissionais da ilha ao programa Mais Médicos.
O Fórum de Empresários da CELAC
Afim de aprofundar estas e outros tipos de parceria entre os países América Latina e do Caribe, a presidenta Dilma propôs a criação de um Fórum de Empresários da CELAC, um espaço onde os  governos da América Latina e do Caribe mantenham diálogo com empresários.
Nas palavra de Dilma esse espaço tornará possível “desenvolver o comércio, aproveitando as oportunidades diversificadas que nossas economias oferecem e estimular a integração produtiva no espaço CELAC, promovendo nossas relações com o resto do mundo”.
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