quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Está em curso uma tentativa de golpe?

Dia do golpe de 64
Dia do golpe de 64.

Está em curso um golpe? Ou, mais precisamente, uma tentativa de golpe?
Sim.
A direita brasileira faz sempre isso. Ou tenta fazer.
Não se pode alegar surpresa. 1954 foi assim. 1964 foi assim.
É sempre assim.
Quando imagina que velhas mamatas e privilégios estão em risco, a direita brasileira – uma das mais predadoras do universo — parte para o golpe.
Isso, ao longo da história, se provou mais fácil do que o penoso caminho das urnas.
Mudam as circunstâncias. Em 1954, você tinha a voz de Carlos Lacerda, o Corvo, símbolo da imprensa reacionária nacional.
Você tinha também militares formados sob a égide da Guerra Fria, visceralmente conservadores – e loucos para sair das casernas.
Em 1964, você tinha, fora Lacerda e os militares, os Estados Unidos, ávidos por consolidar países como o Brasil como seu quintal.
Em 2015, não existe mais Lacerda, não existem mais militares depois do fracasso espetacular da ditadura, não existem mais tropas americanas dispostas a assegurar a vitória dos golpistas num eventual confronto no Brasil.
Mas existem duas coisas. Uma é velho hábito da direita de tirar da frente qualquer ameaça à sua abjeta hegemonia política e econômica.
E a outra são novas formas de fazer o que sempre gostaram de fazer. O nome da arma, agora, é impeachment.
Você – a direita — venezueliza o país: cria uma situação de polarização extrema. Promove, pela mídia, uma lavagem cerebral na opinião pública. E depois instala um processo de impeachment no Congresso.
A fórmula foi testada, com sucesso, no Paraguai. Mesmo no Brasil funcionou para derrubar Collor.
É o que está ocorrendo?
Dura questão. Mas você conhece a história do elefante. Você não sabe se é mesmo um elefante o que avistou. Mas tem trompa de elefante, orelhas de elefante, peso de elefante, patas de elefante, andar de elefante.
Em 1954 era um elefante, em 1964 também e agora cada um dê seu palpite.
Este expediente não foi usado contra Lula, no Mensalão, por medo, por covardia. Havia o receio de que as forças sociais petistas – sindicatos, UNE etc – paralisassem o país.
O tempo passou, e hoje a direita parece descrer do poder de mobilização social do PT.
Nos protestos de 2013, a Maré Vermelha do PT foi um fiasco diante da capacidade de aglutinação de grupos como o Passe Livre.
É dentro desse quadro que a direita se anima agora. A militância petista parece, para muitos, gorda, envelhecida e de alguma forma deslocada no tempo.
Hora, portanto, de fazer o que sempre foi feito: apear a esquerda, ou aquilo que um dia foi esquerda.
O desfecho só não será o clássico caso as forças sociais petistas demonstrem claramente que não estão gordas, envelhecidas e deslocadas no tempo.
Que ainda pulsam. Que ainda vivem. Que são capazes de defender a democracia e o voto de 54 milhões de brasileiros.
Há um lugar, um único lugar, para mostrar que uma eventual tentativa de golpe receberia a devida resposta: as ruas.
As ruas têm que gritar para eles: sem aventuras, amigos, sem aventuras.
Se este grito não for dado, 2015 pode repetir 1954 e 1964, por outros meios mas com os mesmos ingredientes.

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A CANDIDATURA À PRESIDÊNCIA DE ALCKMIN EM 2.018 VAI NAUFRAGAR NA FALTA DE ÁGUA E NAS MENTIRAS.
Ele
“Brasil pra frente, Geraldo presidente!”
Esse grito foi lançado assim que Geraldo Alckmin terminou seu discurso de posse em janeiro. Esse plano corre um risco enorme diante do caos da falta de água em São Paulo e do Alckmin que emergiu disso: um mitômano na melhor tradição malufiana e um gestor medíocre.
O apelido “Picolé de Chuchu” serviu para um propósito. Se a imagem de Serra é a do Velho do Rio Hades e a de Aécio a do Menino do Rio, Alckmin transmitia uma certa sensação de que, apesar da falta completa de carisma, era um sujeito confiável e até competente.
Um médico do interior do estado, com cara de honesto, cumpridor de suas obrigações. A vitória acachapante no primeiro turno lhe deu condições de disputar novamente a presidência em 2018.
Essa perspectiva fica seriamente abalada com a condução criminosa da crise hídrica. Todo o mundo pode, sim, ser enganado o tempo todo, mas até para isso há um limite. O limite é quando as pessoas não conseguem nem cozinhar o jantar.
Alertado em 2004 para a insuficiência do Sistema Cantareira, Alckmin respondeu com a inoperância e, quando cobrado, com a mentira. Na campanha de 2014, repetiu sistematicamente que:
. “Não haverá racionamento em São Paulo.”
. “Nós estamos preparados para a seca.”
. “Não falta água em São Paulo, não vai faltar água em São Paulo.”
. “O abastecimento está garantido na região metropolitana”.
. “A crise hídrica está com os dias contados”.
Agora tem culpado o clima — e mesmo nesse particular ele é falso. “Esta é a maior seca em 84 anos”, declarou no fim do ano passado. No programa Canal Livre, da Band, há duas semanas achou melhor dilatar o tempo: “Nós estamos enfrentando a maior seca dos últimos 125 anos”.
Uma coisa é não cumprir uma promessa na educação, por exemplo, cujo efeito será sentido de maneira diluída. Outra é ser irresponsável com um serviço essencial para a sobrevivência.
O site da revista The Atlantic tem uma boa matéria sobre como a nevasca de 1888 construiu o gestor público americano moderno. A neve caiu sobre a costa leste das metrópoles, destruindo a infra-estrutura e paralisando o comércio. “A devastação deixou os eleitores convencidos de que as cidades funcionariam somente se os governantes tiverem um papel maior e mais pró-ativo”, diz o texto.
Foi um cataclisma. “A maioria dos moradores foram pegos despreparados. As cidades do século 19 eram monumentos ao domínio do homem sobre a natureza. (…) As tempestades são agora a régua pela qual se avalia a habilidade dos políticos em operar a maquinaria complicada da administração.”
A maquinaria da administração. Por mais inofensivo que possa parecer aquele tiozinho no Palácio dos Bandeirantes, por mais que ele representasse para muita gente o Bem contra o Mal Supremo, o cidadão quer votar em alguém que, no mínimo, não acabe com seu banho ou com seu 10.
Quando o eleito não garante nem isso e ainda engana a multidão de maneira compulsiva, é preciso pôr em prática a Lei dos Teletubbies: é hora de dar tchau. O projeto de Geraldinho para a presidência em 2018 está sendo imolado diariamente no altar da Sabesp.

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10 FRASES DE ALCKMIN AO LONGO DE 2.014 SOBRE A QUESTÃO DA ÁGUA.
Uma das melhores cenas da campanha eleitoral
Uma das melhores cenas da campanha eleitoral.
10 frases de Alckmin ao longo de 2014 sobre a questão da água, colhidas numa pesquisa do estudante Gustavo Lobato Rates:
1- “Sou contra (o racionamento), por motivos técnicos e sociais. Nós estamos num momento excepcional e a água está garantida.”
Ao jornal Estado de São Paulo, em 4 de agosto.
2- “Não vai faltar água. Temos uma grande reserva técnica que achamos que nem vamos usar. Substituímos o Sistema Cantareira. O governo trabalhou.”
No debate dos candidatos ao governo de São Paulo na Globo, em 30 de setembro.
3- “Não há risco de racionamento de água em 2015.”
Publicado na Folha de S.Paulo em 30 de setembro.
4- “Não haverá racionamento nem este ano nem o ano que vem.”
Na coletiva de imprensa da Parada Gay, em 4 de maio.
5- “Seria uma atitude até irresponsável fazer racionamento.”
A jornalistas, em 2 de agosto.
6- “Não planejamos usar a 2ª cota do volume morto.”
Para a imprensa, em 13 de julho.
7- “Não haverá racionamento em São Paulo.”
Para jornalistas, em 4 de fevereiro.
8- “Já estamos na primavera e não vai faltar [água]. Nós temos uma reserva de mais de 200 bilhões de litros de água. Nem pretendemos usar tudo isso.”
À imprensa, em 6 de outubro.
9- “Não há necessidade nem é tecnicamente adequado fazer racionamento. Nós estamos preparados para a seca.”
A jornalistas, em 4 de agosto.
10- “Nós não precisamos ter chuva abundante. Pode até chover menos do que a média que ultrapassaremos o novo período seco. Por quê? Porque temos as demais represas bem cheias, temos sistemas de substituição crescentes e há mais reserva técnica. Há um conjunto de fatores.”
Para a Folha, em 3 de outubro.
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