domingo, 8 de março de 2015

A lista de Janot é um avanço para o Brasil.

Desarmou os oportunistas
Desarmou os oportunistas.

Uma lista de nomes é boa quando agrada todo mundo ou desagrada todo mundo.
A lista de Janot se enquadra na segunda categoria, e merece aplausos a despeito das compreensíveis imperfeições.
Sua maior virtude é tirar o caráter cínico, hipócrita, canalha do “combate” à corrupção que a direita predadora sempre utiliza para sabotar governos populares, de Getúlio a Jango, de Lula a Dilma.
A direita sonhava com um Mensalão 2, com todos os holofotes e todas as acusações centradas no PT para a mídia fazer o trabalho sujo de sempre.
Com o caráter pluripartidário dos nomeados, Janot frustrou os planos da direita, e isso merece ser celebrado.
A esquerda gostaria – com justas razões — de ver Aécio na lista, da qual ele escapou por pouco. Mas a presença de Anastasia, cria de Aécio, vai forçar os tucanos a ser mais comedidos em suas detestáveis prédicas pseudomoralistas.
Até aqui, os líderes do PSDB encampavam imediatamente qualquer acusação contra petistas, por mais absurda.
Agora, até para preservar Anastasia, terão que ser mais cautelosos. Talvez reaprendam que as pessoas são inocentes enquanto a culpa não for provada, e sejam menos ávidos em endossar coisas como a Teoria do Domínio dos Fatos.
Essa teoria poderia complicar as coisas para Aécio, dada sua ligação com Anastasia.
Tirado o foco do PT e do PSDB, a sociedade lucra com o choque de realidade que se abateu sobre Eduardo Cunha.
Apoiado pela mídia, Cunha vinha agindo como um obstáculo não apenas ao governo – mas a qualquer tipo de pauta progressista.
Seu inevitável enfraquecimento pode desbloquear o caminho para uma reforma política decente que inclua a origem maior da corrupção – o financiamento privado das campanhas, um expediente pelo qual a plutocracia toma de assalto a democracia.
O horror do financiamento privado se observou nestes dias quando Cunha impediu uma CPI dos Planos de Saúde. Como informou o deputado Ivan Valente, Cunha foi bancado em sua campanha pela Bradesco Saúde.
A lista de Janot também tira o ímpeto de golpistas que sonhem com um impeachment pelo Congresso.
Deputados e senadores que poderiam cair em tentação diante do canto de sereia da mídia agora terão que se concentrar em sua defesa.
O que eles por acaso fizerem agora perderá qualquer valor por se caracterizar como uma desprezível vingança.
Eduardo Cunha, segundo o jornalista Lauro Jardim, estaria falando em impeachment.
Se for verdade, será apenas uma demonstração de seu desespero diante da possibilidade de sua até há pouco florescente carreira política terminar abruptamente em lágrimas.
Não é o Mensalão 2, graças a Janot – e não a Sérgio Moro, como sabemos todos.
É bom para o Brasil, que deve essa a Rodrigo Janot.
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A METAMORFOSE DE MARTA SUPLICY EM RACHEL SHEHERAZADE.

Sheheramarta
Sheheramarta.
O ódio não é um bom conselheiro e Marta Suplicy é uma prova ululante disso.
Marta voltou a ser colunista da Folha e, a julgar pelo último artigo, tomou Rachel Sheherazade como modelo — com a diferença fundamental de que Sheherazade não era petista até ontem.
A neopitbull defende que a vaca foi para o brejo por duas razões: a “negação da realidade” e a “estratégia errada”.
“O começo foi bem antes da campanha eleitoral deslanchar. Percebiam-se os desacertos da política econômica. Lula bradava por correções. Do Palácio, ouvidos moucos”, diz. “Era visto como um movimento de fortalecimento para a candidatura do ex-presidente já em 2014. E Lula se afasta. Ou é afastado. A história um dia explicará as razões.”
O país afundou, a propaganda enganosa cobre uma realidade econômica tenebrosa, não há transparência, não há autocrítica etc. O caos, a desgraça, a tragédia, o apocalipse.
Finalmente: “Os brasileiros passam a ter conhecimento dos desmandos na condução da Petrobras. O noticiário televisivo é seguido pelo povo como uma novela, sem ser possível a digestão de tanta roubalheira. Sistêmica! Por anos.”
Espera um pouco.
O que Marta sabe que você não sabe sobre a “roubalheira sistêmica”? Ela entrou no partido em 1981, foi deputada, prefeita, ministra duas vezes. Não era uma estafeta. Saiu em dezembro, se antecipando à reforma ministerial, chutando o balde. Fez ilações sobre a gestão anterior, de Juca Ferreira.
Em 33 anos, não provocou a desejada “autocrítica”? Depreende-se, pelo texto, que Marta faria parte do tal “grupo lulista” que teria perdido a corrida na campanha de 2014.
Se é o que ela sugere, como é que a “história um dia explicará as razões”?? Por que ela mesma não explica?
Porque, nessa cavalgada ressentida, Marta quer marcar seu ponto na oposição com vistas a disputar a prefeitura em 2016. Ou ela enganava no PT ou ela tenta enganar agora fora do PT — ou, o que é mais provável, ambas as alternativas.
Numa coisa a Sheherazade rediviva foi precisa, especialmente se fizesse referência a si mesma: “O povo, e aí refiro-me a todas as classes sociais, está ficando muito irritado com o desrespeito à sua inteligência”.
Ninguém terá o direito de se surpreender de vê-la brilhando na Jovem Pan em breve.
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