sábado, 23 de maio de 2015

Não foi só Beto Richa. PSDB escondeu todos os seus governadores - Sem projeto para o Brasil nem vitrines nos estados em que é governo, aos tucanos restou em seu programa na TV maquiar Aécio e FHC como 'mortos-vivos' para encarnar o antipetismo.


A propaganda partidária nacional do PSDB de dez minutos na TV, levada ao ar na noite de terça-feira (19), continua rendendo assunto na mídia partidária, que a todo momento procura o senador Aécio Neves (PSDB) para o disse-me-disse. O programa só exibiu duas “lideranças”: o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso – que já pendurou as chuteiras em disputas eleitorais – e Aécio, que luta para manter um protagonismo político raivoso, destilando ódio. Talvez o partido tenha ficado com vergonha de mostrar os seus cinco governadores. Nenhum deles foi sequer mencionado.
É do jogo que partido na oposição ataque quem está no governo, e o PSDB atacou o governo Dilma – e de fato “sangram'” Dilma, na expressão do senador Aloysio Nunes, para desidratar o nome mais robusto na disputa de 2018 pelo Planalto, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Mas os partidos, se querem ser confiáveis, precisam apresentar também propostas sobre o que fariam se fossem governo. E isso o PSDB não fez. Os tucanos governam cinco estados, inclusive o mais populoso e de maior PIB. Geralmente as administrações estaduais, quando exitosas, são vitrines para o partido se cacifar como alternativa para o Planalto. Mas FHC mirou sua metralhadora em Lula, evidenciando ser este o maior oponente para o PSDB em 2018.
Que vitrine o governador Beto Richa tem para mostrar no Paraná? Propinas, corrupção, quebradeira nas finanças e massacre de professores.
Por um lado, Richa diz que o estado está quebrado a ponto de jogar despesas que eram da competência do tesouro estadual para o fundo de previdência dos funcionalismo pagar a conta, além de arrochar os salários dos funcionários. E quem reclama ou protesta de forma organizada e pacífica, como fizeram os professores, é massacrado pela violência, em uma ação que despertou o repúdio de toda a sociedade e derrubou o secretário de Segurança, Fernando Francischini.
Por outro lado, descobre-se que havia um esquema de corrupção na Receita Estadual para fiscais acobertarem sonegação em troca de propina que supostamente alimentava o caixa da campanha eleitoral do próprio Richa. O auditor do fisco paranaense Luiz Antônio de Souza afirmou em delação premiada que ele e seus colegas arrecadaram até R$ 2 milhões via caixa 2 para a reeleição do tucano no ano passado. Souza mostrou como prova notas fiscais de compra de mobiliário para um comitê de campanha de Richa, pago por ele com dinheiro supostamente de propina, sem contabilizar na prestação de contas da campanha.
A Promotoria de Justiça e Patrimônio Público de Curitiba investiga uma denúncia contra a própria mulher do governador, Fernanda Richa, que teria exigido R$ 2 milhões de auditores fiscais para que o tucano os promovesse. “O valor teria sido arrecadado mediante contribuições espontâneas de integrantes da Receita Estadual e estaria destinado à campanha de reeleição de Carlos Alberto Richa”, diz o texto da denúncia. A primeira-dama afirmou em nota que esses fatos são “inverídicos e caluniosos” e que “jamais interferiu em atos administrativos de competência do governador”.
É preciso aguardar o resultado das investigações – desde que não sejam engavetadas, como costuma ocorrer com malfeitos tucanos –, mas vamos desenhar: se os sonegadores pagassem os impostos em vez de subornar fiscais a situação econômica do estado estaria bem melhor e não precisaria meter a mão no fundo de previdência nem nos salários dos professores e demais funcionários. Se confirmado o caixa dois da sonegação, significa que os cofres públicos eram desfalcados enquanto a campanha tucana ficava mais rica.

Sem educação

Outra vitrine difícil de mostrar é a do governador tucano de São Paulo. Do ponto de vista do marketing político, melhor esconder do que mostrar a falta d’água, o abandono da educação, a falta de ímpeto para investigar os escândalos das propinas nos trens, o próprio desdobramento da Operação Lava Jato, que encontrou em uma planilha apreendida do doleiro Alberto Youssef indícios de corrupção em obras do monotrilho do Metrô paulista, em obras da Sabesp e do Rodoanel.
Geraldo Alckmin impõe um racionamento no abastecimento de água de fato, apesar de se recusar a oficializá-lo. Também aumenta a tarifa para equilibrar a perda de receita da companhia de águas Sabesp com o racionamento, e isso depois de distribuir polpudos lucros a acionistas na Bolsa de Nova York, em vez de investir na segurança hídrica.
O governador paulista também lida mal com a greve dos professores. Não chegou ao ponto de promover o massacre ocorrido no Paraná, mas não dialoga, não negocia, e busca asfixiar os professores recorrendo ao Poder Judiciário para cortar o ponto. As reivindicações dos professores não se limitam a salários. São contra o fechamento de 2.700 salas de aula, redistribuindo os alunos para superlotar outras salas. É o choque de gestão tucano cuja proposta para educação é entupir as salas de aula com até 50 alunos, prejudicando bastante o aprendizado.
Há também a eterna crise na segurança pública, abafada no noticiário da imprensa oligopolista simpática aos tucanos, mas com os problemas se agravando ao serem varridos para baixo do tapete.
Como se não bastasse, os tucanos paulistas na Assembleia Legislativa chegaram ao deboche de escolher o deputado estadual Coronel Telhada para representar o partido na Comissão de Direitos Humanos. A pessoa errada no lugar errado. O que antigos membros do antigo PSDB comprometidos com a causa, como José Gregori, dizem disso?
O governador de Goiás, Marconi Perillo, vive atualmente um período menos turbulento do que Richa e Alckmin, mas se foi reeleito em Goiás, sua imagem nacional continua associada ao escândalo do bicheiro Carlinhos Cachoeira, que indicava nomes no alto escalão estadual. Coim o programa do PSDB já parecido com o desempenho de um ator “canastrão”, ao colocar um FHC posando de indignado com a corrupção que ele nunca combateu, imagine se colocar Perillo junto.
Outro governador tucano que não deu as caras foi Simão Jatene, do Pará. No programa em que Aécio Neves falava em reduzir ministérios sem explicar quais (das Mulheres? da Igualdade Racial? do Desenvolvimento Social? do Desenvolvimento Agrário?), não pegaria bem Jatene aparecer após criar no Pará a Secretaria Extraordinária de Integração de Políticas Sociais e nomear para titular da pasta a própria filha, com salário de R$ 21 mil. Também não favorece Jatene a ação movida pelo Ministério Público Eleitoral de cassação de seu mandato por abuso de poder político.
O quinto governador tucano escondido na TV, Reinaldo Azambuja, do Mato Grosso do Sul, foi acusado pelo senador paraguaio Arnoldo Wiens de ter vínculos com o empresário Vilmar Acosta, suspeito de ter mandado assassinar o jornalista paraguaio Pablo Medina, correspondente do jornal ABC Color, e a assistente dele, Antonia Almada. Os nomes de todos os envolvidos foram delatados pelo motorista de Vilmar Acosta, Arnaldo Cabrera.

O que restou

Como nenhum governador tinha uma agenda positiva para mostrar na TV, sumiu-se com eles. Restou FHC e Aécio, não para expor projetos, mas se limitando ao papel de antipetistas.
O primeiro praticamente lançou a candidatura do ex-presidente Lula à presidência em 2018, ao se escalar para falar mal dele. O problema é que FHC vestiu um figurino que não lhe cai bem, de “indignado” com a corrupção, pois atitudes e condutas de seu governo favoreceram a impunidade de políticos corruptos que sobrevivem até hoje. Não convenceu.
FHC só convencerá quando fizer uma espécie de delação premiada ao público contando o que se passou nos bastidores da compra de votos de deputados para aprovar a emenda da reeleição; os bastidores da privataria tucana e quais os métodos de persuasão foram usados para conseguir vender a Vale a preço de banana; a privatização camarada da rede estadual de bancos em vez de incorporá-los à Caixa Econômica Federal e ao Banco do Brasil; e a privatização do sistema Telebrás com prejuízo para a União, pois foi vendida por menos do que se investiu para privatizá-la – entregando os ovos de ouro da então iminente era digital às teles privadas estrangeiras .
Pensando bem, FHC precisaria de uma verdadeira comissão da verdade sobre corrupção em seu governo para esclarecer as centenas de escândalos de corrupção que marcaram seus mandatos.
Já Aécio se escalou para atacar a presidenta Dilma Rousseff, com quem disputou a última eleição e perdeu. Mas se reparar bem nas entrelinhas, Aécio também usou seus minutos para se defender. Ele foi delatado pelo doleiro Alberto Youssef por supostamente rachar propinas com o ex-deputado José Janene vindas de Furnas e existe uma robusta representação apresentada por deputados mineiros ao Procurador Geral da República pedindo para investigar o senador o tucano, já que as declarações de Youssef coincidem com a chamada Lista de Furnas, outro escândalo de corrupção envolvendo tucanos nunca investigado. Daí Aécio dizer defensivamente que “quer tudo apurado”, em tom de bravata.
O programa foi fraco também em mensagem política. A abertura colocou “paneleiros” se associando à grupos que defendem a volta da ditadura ou o golpe do impeachment.
O PSDB não se manifestou sobre nenhuma reforma, nem sobre a reforma política. Nem sobre qualquer outro grande tema nacional. Não defendeu os trabalhadores e o emprego. Nada falou sobre a ameaça da terceirização ilimitada. Foi um programa de paneleiros. O deputado Carlos Sampaio denunciou a mudança nas regras do seguro-desemprego, mas silenciou sobre os índices de brasileiros sem trabalho nos anos FHC.
Como se não bastasse, nem a estética do programa ajudou. A fotografia escolheu cores escuras e soturnas. FHC e Aécio, com tons pálidos e sombras escuras, pareciam maquiados para estrelar um episódio da série The Walking Deads (os mortos-vivos). Tudo a ver com um ex-presidente que encerrou seus dois mandatos rejeitado pela população e um senador que perdeu as eleições em seu próprio estado.
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