quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

Quer dizer então que Lula, ao contrário do que tanto se propalou, nunca pediu NADA a Gilmar?

A verdade enfim revelada
A verdade enfim revelada




Montaigne escreveu, nos Ensaios, que um dos problemas trazidos pela má memória é que você esquece as mentiras que contou.
Isso cabe perfeitamente para Gilmar Mendes na entrevista que ele concedeu a Jorge Bastos Moreno, blogueiro do Globo.
O assunto era a infame carona que Gilmar pegou com Temer no avião presidencial.
Gilmar estava tentando desesperadamente justificar o injusticável quando Lula apareceu na conversa.
Gilmar disse que Lula nunca lhe pediu nada quando presidente. Gilmar colocou Lula na entrevista a Moreno para dizer que mantém com Temer o mesmo padrão de relacionamento “republicano”.
Mas um momento.
Não foi Gilmar que foi procurado secretamente por Lula, às vésperas do Mensalão, com um pedido abjeto de postergar os julgamentos para que o PT não fosse prejudicado nas eleições de 2012?
A mídia massacrou Lula. A Veja, particularmente, tratou do falso pedido por semanas intermináveis.
Você pode imaginar o tom dos textos. Lula não era acusado de procurar Gilmar. Ele tinha procurado Gilmar. Não era uma denúncia, segundo a Veja: era um fato consumado.
Nas reportagens, ou melhor, nas pseudo-reportagens sobre o caso, Gilmar era um heroi da República. E Lula, bem, Lula era um corrupto para o qual não havia limites.
Gilmar jamais esclareceu a história. Nunca saiu do pedestal para dizer que Lula nunca lhe pedira nada.
Não lhe convinha. Ele provavelmente gostou do papel de mocinho que lhe deram na trama.
Passados anos, eis que a verdade emerge. Ou a mentira submerge.
Quantas outras calúnias a Veja publicou? Cem, duzentas?
O certo é que a revelação tardia de Gilmar ajuda a entender melhor Lula, a Veja, a mídia plutocrata, o golpe — e sobretudo o próprio Gilmar.
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Antes da “carona” de Temer, Aécio emprestou o helicóptero de Minas para Gilmar.


Chegando a Portugal
Chegando a Portugal.



O discurso de Gilmar Mendes em torno da revolta generalizada por causa de sua ida a Portugal com Temer é algo que vai para a antologia da vida política nacional pós-golpe.
“Meu compromisso é com a Constituição. É com a lei”, disse ele ao Blog do Moreno.
“A maior prova de que o presidente Temer e eu temos uma relação altamente republicana está justamente no fato de ele, sabendo que fui eu que reabri esse processo, mesmo assim ter me convidado para integrar a comitiva”.
Ele “explicou” o que aconteceu. “Eu estou de férias em Portugal. Precisei vir ao Brasil para resolver problemas pessoais. O presidente me convidou para voltar com ele”, falou.
“Chegamos em Lisboa por volta das quatro da manhã. A cerimônia ocorreria horas depois. Desembarquei com uma crise de labirintinte. E por isso não fui.”
E deu uma amostra de seu modus operandi:
Se aceitar caronas, convites para almoçar e jantar comprometessem a atividade de cada um que os aceitasse, seria impossível trabalhar em Brasília. Quantas vezes sou convidado, por exemplo, para almoçar ou jantar com jornalistas e empresários de comunicação e isso nunca interferiu no trabalho deles nem no meu. Sou às vezes muito e até injustamente criticado pela mídia. E nem por isso deixo de atender seus convites.

Noves fora tudo — o desrespeito à liturgia do cargo, o conflito de interesses, os “problemas pessoais” não esclarecidos, o custo para o erário, a confusão entre público e privado, o silêncio de Temer sobre o caso —, Gilmar força a mão para que as pessoas encarem como absolutamente normais esses acidentes éticos pavorosos.
Não, não é uma coisa ordinária a quantidade de vezes em que ele aceita convites de “jornalistas e empresários”, sempre os mesmos, sempre do mesmo lado, e não é verdade que isso não interfira no trabalho deles e na agenda política brasileira.
É comum para ele. Não é a primeira vez e não será a última em que GM toma uma boleia do gênero.
Em 2009, usou o famoso helicóptero do estado de Minas Gerais, uma das aeronaves que Aécio Neves tomou como suas durante seu governo.
Foi em Belo Horizonte e está registrado na planilha com os vôos realizados durante os 7 anos e três meses da administração aecista, entre 2003 e 2010.
Aécio se apropriou de um Citation, um Learjet, um helicóptero Dauphin e um turboélice King Air como se fossem de sua companhia de aviação.
Foram 1430 viagens ao todo, 110 com pouso ou decolagem do aeroporto de Cláudio, construído nas terras do tio Múcio Toletino, que ficou com a chave.
Em pelo menos 198 vezes ele não estava a bordo. Os aviões e o helicóptero carregaram figuras como Delcídio do Amaral, Roberto Civita (para visitar com a mulher um museu em Brumadinho), José Dirceu, Luciano Huck, “Roberto Marinho” (em email ao DCM, a advogada de João Roberto Marinho, dono da Globo, nega que seja seu cliente), Ricardo Teixeira, além de toda a família e amigos.
De acordo com o documento obtido pelo DCM através da Lei de Acesso à Informação, Gilmar, então presidente do STF, pegou sozinho o Dauphin no dia 23 de junho.
Naquele dia, segundo seu site oficial, ele recebeu uma medalha: “Do Tribunal Regional do Trabalho da 3ª Região, concessão da Medalha da Ordem do Mérito Judiciário do Trabalho Desembargador Ari Rocha, no de grau Grã-Cruz. Belo Horizonte/MG”.
página de GM sobre suas premiações diz o seguinte: “Gilmar Mendes possui diversas menções honrosas recebidas, em especial pelos serviços prestados à cultura jurídica, como defensor das garantias do Estado Democrático de Direito e da altivez do Poder Judiciário Brasileiro, e pelo reconhecimento em homenagem aos relevantes serviços prestados à Justiça Brasileira.”




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