quinta-feira, 14 de setembro de 2017

Julgamento do herói José Dirceu entrará para a História, não a dos jornais que forram gaiola, mas a dos livros da posteridade.

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Gostaria de ter escrito o texto abaixo. Não fui eu. Não fui, porque não vivi aquelas situações e prisões. Porém fui vítima das mesmas pressões e de suas consequências, como tantos outros brasileiros que tiveram suas famílias dilaceradas. Por isso minha enorme admiração pelos que lutaram bravamente, correram riscos, foram ao fundo do poço, e por aqueles que emergiram vivos deste caldeirão de crueldades, mantendo intactas suas convicções, íntegros em seus princípios e na ideologia. Entre eles, incluo José Dirceu. Seu silêncio ao longo de todo o tempo desta sua prisão, altivo e leal, diz o que ele é. Compreende-se porque seus inimigos desejam se livrar dele, enquanto aqueles implicados ostensivamente em fatos que nos causam tanta aversão, permanecem impunes. E mandando. Orientando o processo.

O texto abaixo é do advogado e ex-deputado federal João Paulo Cunha. Foi postado há pouco no site www.Brasil247.com .  Hoje, 13 de setembro, o recurso de José Dirceu será julgado pelo TRF 4, em Porto Alegre.

Diferente do ex-deputado, que prevê uma condenação, eu firmemente creio que há juízes justos no Judiciário brasileiro, e espero que aí se encerre essa via sacra judicial, que mais parece pretender penalizar o passado heroico e histórico de José Dirceu do que qualquer ação que por ventura ele haja cometido no presente.

Um julgamento que vai entrar para a História. Não a história mesquinha, de breve curso, das páginas de jornal, que no dia seguinte forram gaiolas de pombos. Mas aquela dos livros, que ficam para a posteridade, frequentada por nossos heróis.


CAMARADA ZÉ DIRCEU

por João Paulo Cunha
Vivemos tempos sombrios!
Hoje, mais uma vez, você caminhará na direção de seus algozes. Provavelmente eles não olharão em seus olhos. As meninas de suas íris terão brilho e encararão a toga amarrotada de vergonha.
Eles, juízes de uma causa só, olharão de esgueiro para as câmeras de TV e disfarçadamente fecharão suas pálpebras avermelhadas pela injustiça. Mas se manterão falsamente firmes.
E você empurrará o cabelo para trás e lembrará da bandeira do Brasil, da estrela do PT e do dia primeiro de janeiro de 2003.
Você não abaixará sua cabeça!
Você será culpado por sonhar um Brasil para seu povo. Por organizar um partido que mudou a história do país e por um governo que devolveu aos trabalhadores o lugar de sujeito na história.
Você será declarado perigoso porque foi altivo, estabeleceu relações solidárias e companheiras e soube juntar gente para formar coletivo e andar por caminhos abertos pelas próprias mãos.
Escreverão com caneta vermelha que tu és um transgressor desde muito jovem. Que não respeitou a ordem, que pegou em armas e consolidou um pensamento de solidariedade entre os povos.
Será acusado de ter amizade com os sem terra, de formar dirigentes partidários, de ser companheiro dos sindicalistas e defender as mulheres os negros e a comunidade LGBT.
É causador de uma vitória espetacular chamada Lula, de construir um governo com a cara do Brasil real e implantar programas revolucionários para o momento do país.
Será incriminado por gostar da juventude e reconhecer nela o vigor das mudanças.
Camarada Zé Dirceu, és meu companheiro de muitos anos. Carregamos muitas bagagens. Brigamos, divergimos, mas o resultado foi sempre a soma. Fizemos planos, tabelamos e muita coisa deu certo.
Sofremos a solidão da cela, o desterro das ruas, a frieza de quem ficou e a amargura dos dias sem sol. Mas não desanimamos nem nos entregamos. Nos escoramos uns nos outros.
Agora assisto o seu caminhar para um julgamento já definido e não posso fazer nada. A impotência aflige todos nós. Sei das razões políticas para tal ato, mas a alma entristece em ver você pagar mais uma vez por todos nós.
Fique tranquilo, camarada: seus filhos sentirão orgulho de você!
Seus amigos e companheiros falarão de você com brio e dignidade!
É claro que ainda existem recursos para serem usados. É claro que é possível retardar o processo para fazer justiça.
Mas, consumando a condenação, sei que muita gente gostaria de dividir com você o cumprimento da sentença.
Entendo, não é possível.
Então leve nossas memórias e cultive a esperança. Ainda há tempo.
No mais, com altivez e repetindo a crença no amanhã, digo: vá em frente, camarada Zé Dirceu. Nos encontraremos onde estiver um brasileiro lutando por justiça, solidariedade e igualdade.
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C/ Zé Dirceu em Passa Quatro, em 08/05/10.

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