sexta-feira, 19 de outubro de 2018

Bolsonaro inflama seus soldados do crime - Inspirados no candidato de extrema-direita, apoiadores cometem agressões e até assassinato de ativistas de esquerda e da comunidade LGBT. A polícia fecha os olhos.

Manifestante carregam placas com os dizeres
Créditos da foto: Manifestante carregam placas com os dizeres "Rua Marielle Franco", em resposta a foto que circula nas redes sociais mostrando candidatos de extrema direita eleitos quebrando uma placa parecida (Carl de Souza/AFP)


Que importa, no fundo, que a ONU denuncie a violência maciça entre os dois turnos eleitorais no Brasil, se o candidato de extrema-direita, Jair Bolsonaro, não exclui sair do fórum multilateral, que chama de um antro dos "direitos humanos" e, pior, de "comunistas". Enquanto os crimes de seus partidários se multiplicaram desde o primeiro turno, há pouco mais de uma semana, o representante do Partido Social Liberal (PSL) não considerou necessário condenar esses atos contra simpatizantes e minorias de esquerda. Mal haviam sido divulgados os resultados e uma mulher de 19 anos com uma camiseta "Ele não" foi espancada em Porto Alegre. Os agressores completaram o trabalho gravando uma suástica na sua barriga. Sinal da fascistização do país, o delegado disse à BBC que a suástica era um símbolo da paz budista. Na Bahia, na mesma noite, Romualdo Rosário da Costa, mestre de capoeira e eleitor do Partido dos Trabalhadores, foi morto com doze facadas por ter expressado seu voto em público. Uma onda de violência atinge também as lésbicas, os gays, bissexuais e transgêneros (LGBT). Em Curitiba, José Carlos de Oliveira Neto, cabeleireiro de 57 anos, foi atacado até a morte. Um de seus assassinos gritou: "Viva Bolsonaro!" no momento da morte, o que não impede a polícia de investigar um "roubo seguido de morte".

Jair Bolsonaro, pela liberação do porte de armas

"O que tenho a ver com isso?”, contentou-se em se esquivar Bolsonaro, alertando para que não se faça uma inversão de papéis, uma vez que ele próprio passou semanas no hospital depois de ser atacado a faca: "Quem foi esfaqueado fui eu (...) peço para que as pessoas parem, mas não tenho controle. A violência vem do outro lado, a intolerância vem do outro lado”. Fechem as cortinas... No domingo, milhares de pessoas se reuniram em homenagem à vereadora Marielle Franco, defensora dos direitos das pessoas LGBT e dos negros, assassinada há sete meses, no Rio de Janeiro. O ato tinha valor simbólico. Os manifestantes levantaram placas com as palavras "rua Marielle-Franco", em referência a uma foto que viralizou nas redes sociais em que então candidatos de extrema direita orgulhosamente quebravam a mesma placa. Dias depois, o deputado Rodrigo Amorim (PSL), já reeleito, ameaçou: "Preparem-se, esquerdistas, seus dias estão contados".

Bolsonaro, que apoia a liberação do porte de armas, incita seus partidários a partir para a ação. "Meu oponente fomenta a violência, incluindo a cultura do estupro. Ele disse a uma deputada que não a estupraria porque ela não merecia. Quer um sinal mais forte?", perguntou seu rival Fernando Haddad (PT), recordando as palavras de Jair Bolsonaro contra a deputada do PT Maria do Rosário, em episódio ocorrido em 2014. Se a insegurança é uma preocupação real no Brasil, com 553 mil homicídios ocorridos entre 2006 e 2016, como o candidato da extrema direita pode garantir o retorno à ordem, quando ele mesmo sugere que a justiça é inoperante? Seu companheiro de chapa, o general Hamilton Mourão, dá a entender que recorreria a um "auto-golpe de estado" em caso de "anarquia".

"Imagine alguém cujo herói é um dos maiores torturadores do continente", acrescenta Fernando Haddad. Em 2016, antes de votar pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff, Jair Bolsonaro dedicou o voto a "Deus" e "ao coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra" primeiro oficial militar a ser reconhecido como torturador durante a ditadura (1964-1985) por um tribunal civil, em São Paulo, em 2008. Na biblioteca central da Universidade de Brasília, livros sobre a ditadura com referências à "luta pelos direitos humanos" foram destruídos. "Onde se queimam livros, cedo ou tarde se queimam homens", como disse o escritor Heinrich Heine.

*Publicado originalmente no L'Humanité | Tradução de Clarisse Meireles

CARTA MAIOR

Nenhum comentário: