segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Esqueça o povo: o “grande eleitor” nestas eleições pode ser o juiz Sérgio Moro.

Em breve, no Supremo?
Em breve, no Supremo?

Um declarado eleitor de Aécio Neves, o advogado criminalista Antonio Carlos de Almeida Prado, o Kakay, disse o seguinte ao blogueiro Josias de Souza, do UOL: “Houve uma grave instrumentalização do Poder Judiciário.”
Kakay estava se referindo à liberação seletiva de trechos dos depoimentos em casos de delação premiada pelo juiz paranaense Sérgio Moro.
Repito: Kakay disse a Josias que vai votar em Aécio. “Até fui a um jantar de adesão. (…) Alternância no poder é importante. Não quero que o Brasil fique fossilizado como São Paulo, administrado há duas décadas pelo PSDB.”
O ponto central de Kakay é: por que parte do vazamento é aberta e parte não, e justamente às vésperas de uma eleição presidencial?
“Parece brincadeira. Aqui, tem segredo. Ali, é tudo aberto. Isto se chama instrumentalização. É muito grave. A poucos dias da eleição, as consequências são gravíssimas.”
Nada foi aberto, por exemplo, em relação ao que os depoimentos trazem sobre Eduardo Campos, cuja família acaba de declarar apoio a Aécio.
Por quê? A resposta mais provável é que por trás dos vazamentos estão razões políticas e partidárias, e não de justiça.
Para Kakay, o juiz Sérgio Moro “está fazendo um jogo extremamente perigoso” – mas não surpreendente.
Moro, no Mensalão, ajudou a juíza Rosa Weber em seus trabalhos. Rosa entrou para a história ao condenar Dirceu com as seguintes palavras: “Não tenho prova cabal contra Dirceu, mas vou condená-lo porque a literatura jurídica me permite.”
Neste exato momento, Moro é candidato à vaga de Joaquim Barbosa no Supremo. Eleito Aécio, quais serão suas chances?
Num artigo publicado na Folha algumas semanas atrás, Kakay escreveu que os brasileiros estavam diante da seguinte situação: um delator – Paulo Roberto Costa – poderia ser o “grande eleitor” nas eleições presidenciais.
Com base em acusações não investigadas e nem, muito menos, provadas. Em seu artigo, Kakay imaginava a seguinte situação: e se Costa decidisse, por algum motivo, citar Dilma? Os brasileiros, neste caso, teriam um novo presidente escolhido por um delator.
Na entrevista a Josias, Kakay voltou à mesma lógica, apenas com nome trocado.
O “grande eleitor”, agora, segundo ele, é o juiz Sérgio Moro.
E ele não precisa tirar uma self na cabine do voto para que saibamos quem é a sua escolha.
A Justiça brasileira fala como Justiça, se veste como Justiça, respira como Justiça – só não age como Justiça.
Pobre sociedade. Pobres brasileiros.


***
***
***


Ninguém tem o direito de se surpreender com o apoio de Marina a Aécio.


Ela
Ela.

Marinistas ou antimarinistas, dilmistas e aecistas, alienados, cientistas políticos, direitistas, esquerdistas, libertários, ufologistas — ninguém tem o direito de se surpreender com a decisão de Marina Silva de apoiar Aécio Neves.
Um dos atributos de se colocar acima da política, acima de direita e esquerda, além do bem e do mal, é ter uma espécie de salvo conduto para justificar qualquer coisa.
Sim, o PT e o PSDB eram a polarização desprezível que ela condenava. Mas, ao declarar o voto em Aécio, ela não está sendo contraditória. Longe disso. “O que nós estamos fazendo é inaugurar, sim, a nova política. Todos estavam imaginando que seria apenas o apoio como sempre é feito. Mas foi feito em base de um programa [sic]. Como foi feita a aliança que eu e Eduardo Campos fizemos há um ano”, afirmou. “Em uma eleição em dois turnos, você toma uma decisão em relação àquilo que acha que é o melhor para o Brasil.”
É sua novilíngua em ação. Em 2010, Marina ficou neutra. Quem achou que ela fosse repetir a dose agora, quando a polarização tornou-se mais forte do que nunca, escutou a conversa de que Aécio fez as mudanças programáticas que ela pediu. Dilma teria sido responsável por um retrocesso na agenda ambiental — tema que ela, Marina, deixou de fora da campanha por absoluta vontade própria.
Aécio não topou o recuo na proposta de redução da maioridade penal, obra de seu vice Aloysio Nunes. De resto, aceitou a “flexão social” (termo cunhado pelo o coordenador da Rede Walter Feldman) das demais exigências de Marina.
Há aí também um forte componente de ressentimento. Marina guarda uma raiva do PT que não faz mais questão de esconder. Em seu pronunciamento, Marina se queixa dos “ataques destrutivos de uma política patrimonialista, atrasada e movida por projetos de poder pelo poder”.
Sim, ela apanhou muito do PT. Mas, por esse critério, o PSDB não a poupou. Pelo contrário. Segundo o levantamento de uma agência de propaganda paulista, nos últimos dias do primeiro turno 60% das cotoveladas vieram do lado de Aécio.
De acordo com o Datafolha, 13% dos marinistas seguiriam à risca o voto da líder; 16% poderiam ser levados a escolher o candidato dela; para 67%, não faria diferença.
O endosso à candidatura conservadora de Aécio é apenas mais uma marinada, de tantas que ela deu nas eleições. Não há nada mais velha política do que ela. Por essas e outras, tem um futuro brilhante pela frente.
*

Nenhum comentário: