segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Proibir falar de Cláudio é um atentado contra a democracia.

Publicar o pecado não pode
Publicar o pecado não pode.

A decisão do TSE de proibir menções ao aeroporto de Cláudio me lembrou uma das melhores frases de Machado de Assis.
“O maior pecado depois do pecado é a publicação do pecado”, escreveu Machado.
Quer dizer: o problema, sob a estranha lógica do TSE, não é a existência de um aeroporto de uso privado construído com dinheiro público no governo Aécio em Minas.
O problema é falar nele.
É uma pancada na democracia. Não basta a mídia não cobrir o assunto, em seu esforço épico para eleger Aécio. Agora, também na propaganda eleitoral o caso não pode ser explorado.
Quem acredita na explicação do TSE, como dizia Wellington, acredita em tudo. A campanha tem que ser propositiva, esta a alegação.
É uma bobagem que vem envolta em pretensos ares civilizatórios.
O real objetivo das campanhas é permitir que os eleitores conheçam os candidatos.
Num mundo menos imperfeito, isso seria feito pela mídia. Mas não é o que acontece.
Quando a mídia informou a sociedade sobre as rádios de Aécio – um palanque permanente e indecente?
Quando a mídia contou que aos 25 anos Aécio, o Senhor Meritocracia, ganhou o cargo de diretor da Caixa Econômica Federal?
Quando a mídia noticiou que aos 17 anos Aécio tinha um emprego público em que deveria estar em Brasília no mesmo momento em que estudava no Rio?
Nunca.
O TSE exorbitou. Caso algum candidato se sinta vítima de calúnia no programa eleitoral, que recorra à Justiça.
Aécio ao longo de toda a vida foi protegido. Em Minas, a mídia foi sempre controlada, por meio de publicidade, para não publicar coisas ruins sobre ele.
Jornalistas locais disseram que já sabiam faz tempo do aeroporto de Cláudio, mas eram impedidos de escrever sobre o assunto.
Democracia? Liberdade de expressão? Transparência? Meritocracia?
Quer dizer: justo quando os brasileiros podem conhecer um contendor para a presidência, o TSE ajuda na blindagem.
É um gesto simplesmente indefensável.
Se falar em Cláudio não é “propositivo”, falar na Petrobras é?
Desde que vi os togados do STF na televisão no julgamento do Mensalão, perdi todas as expectativas sobre a Justiça nacional.
Mas, ainda assim, pela mão do TSE, ela conseguiu se superar em obtusidade nesta decisão.

***
***
***

Como o equilíbrio inédito entre os candidatos transformou o Rio num campo de batalha.

00951 Rio de Janeiro
Publicado na BBC Brasil.
Terceiro maior colégio eleitoral do país, após São Paulo e Minas Gerais, o Rio de Janeiro prepara-se para ser um dos estados-chave e com uma das disputas mais acirradas entre os dois candidatos à presidência na etapa final da corrida eleitoral. De olho, sobretudo, nos 2,6 milhões de eleitores que votaram em Marina Silva no primeiro turno, Dilma Rousseff e Aécio Neves planejam visitas ao Estado nos próximos dias para conquistar o eleitorado fluminense até o domingo das eleições.
No primeiro turno, Dilma obteve 36% dos votos válidos, Marina, 31% e Aécio, 27%. Ainda que Dilma tenha conquistado a liderança, foi o pior resultado no Rio de Janeiro de um candidato do PT à presidência desde as eleições de 1998. Existe um equilíbrio inédito nas disputas de segundo turno entre PT e PSDB.
A presidente tem diante de si a tarefa de reverter tal cenário. Desde a redemocratização, o Estado favorece o PT nas disputas de segundo turno contra o PSDB, franqueando ao partido um porcentual de votos a seus candidatos acima da média nacional no pleito presidencial. Ou seja, nas eleições de Lula e Dilma, o Rio puxou para cima o resultado final dos candidatos do PT.
Historicamente, o índice de rejeição aos tucanos tende a ser maior no Rio de que em outros Estados do Brasil. Nas dez votações presidenciais (sete primeiros turnos e três segundos turnos) desde o fim da ditadura, o PSDB sempre teve um percentual de votos menor no Estado do que na soma do resto do país.

Histórico

Em 2002, por exemplo, quando o PT assumiu pela primeira vez o poder, José Serra, então candidato do PSDB, teve, nacionalmente, 23% dos votos no primeiro turno, contra 46% de Lula. No Rio, o tucano obteve apenas 9% da preferência do eleitorado contra 40% do petista.
O cenário voltou a se repetir no segundo turno, quando Lula foi eleito presidente com 61% dos votos contra 39% de Serra. No Rio, oito em cada dez eleitores (79%) preferiram o petista em detrimento do tucano (21%). Veja na tabela abaixo os desempenhos dos candidatos do PT e do PSDB no Rio, desde 94.
Mesmo em 1994, por exemplo, quando Fernando Henrique Cardoso foi eleito no primeiro turno, o Rio de Janeiro deu ao ex-presidente uma votação (47%) que não seria suficiente para a vitória sem segundo turno. Em 1998, FHC foi reeleito no primeiro turno, mas teve no Rio menos votos do que o principal candidato de oposição, Lula.
Desde a eleição de Dilma, em 2010, no entanto, a diferença entre os candidatos à presidência dos dois partidos vem se estreitando no terceiro maior colégio eleitoral do país. Além disso, neste ano, o número de votos inválidos (nulos e brancos) no Estado foi recorde, com 1,3 milhão, alta de 31% em relação à eleição passada.
Segundo a última pesquisa do instituto Datafolha, Dilma lidera no Rio de Janeiro com 51% das intenções, contra 49% de Aécio. Nacionalmente, a vantagem de 51% a 49% é do candidato do PSDB. Com a margem de erro, ambos estão tecnicamente empatados tanto no Brasil quanto no Rio de Janeiro.
Segundo pesquisas internas encomendadas por lideranças do PT e do PSDB, às quais a reportagem da BBC Brasil teve acesso, Aécio lideraria com folga no interior do Estado, enquanto Dilma venceria na Região Metropolitana, excluída a capital, onde os dois candidatos estão empatados tecnicamente – e onde, curiosamente, Marina conquistou o maior número de votos no primeiro turno.

Estratégia

É por causa dessa disputa acirrada que tanto Aécio quanto Dilma decidiram incluir o Rio no roteiro dos Estados que devem visitar até o segundo turno.
A presidente, que busca a reeleição, iria chegar à capital no sábado e faria agenda com os dois candidatos ao governo estadual, ambos de partidos da base governista: Luiz Fernando Pezão (PMDB) e Marcelo Crivella (PRB). Mas os eventos foram cancelados. Dilma vai ao Rio na quarta-feira (22) para participar de um evento na Baixada Fluminense e um grande comício na Cinelândia, no centro da cidade, segundo lideranças locais.
“A meta agora é ampliar a vantagem onde a presidente já lidera, mas ainda com pouca folga”, disse à BBC Brasil o deputado federal Pedro Paulo (PMDB), um dos mobilizadores da campanha pela reeleição da presidente no Rio.
“Bairros como Campo Grande e Santa Cruz (ambos na Zona Oeste do Rio, onde Dilma se encontraria com Pezão) são muito populosos e tendem a ser um diferencial nas urnas. Além disso, trata-se de uma localidade que recebeu grandes investimentos dos governos municipal, estadual e federal. Vamos ressaltar a importância disso para a população”, acrescentou o deputado.
Na mesma região, o PT também está de olho no voto dos evangélicos, que optaram por Marina no primeiro turno, de acordo com Jorge Florencio, ex-presidente estadual do PT e articulador da campanha na Baixada Fluminense.
“Nesta sexta-feira, a Benedita (Benedita da Silva, deputada federal pelo PT) convocou uma reunião com mais de 140 pastores na Vila Kennedy (Zona Oeste da cidade)”.
Já Aécio deve ir ao Rio no final de semana. No domingo, está prevista uma caminhada na Praia de Copacabana.
“Nossa estratégia é a mesma: acordar cedo e dormir tarde. Temos articuladores em todos os municípios e já ganhamos com folga no interior do Estado”, disse à BBC Brasil o deputado estadual e presidente do PMDB-RJ, Jorge Picciani, que retirou apoio a Dilma no fim do ano passado, quando o PT decidiu lançar candidatura própria (Lindbergh Faria) ao governo do Estado. O petista ficou em quarto lugar na disputa, com 10% dos votos, e agora apoia Crivella. Outra parte do PT, no entanto, aliou-se a Pezão no segundo turno.
“Esta é uma eleição disputada voto a voto. Por isso, chamei para mim a incumbência de conquistar os eleitores da Baixada Fluminense e da capital. Para isso, conto com a ajuda de prefeitos e vereadores”, acrescentou Picciani.
Sobre os votos de Marina, o líder do movimento “Aezão”, que prega voto em Aécio e Pezão, acredita que o tucano será beneficiado. “Esses votos da Marina estão indo para o Aécio de forma natural, pois são votos de oposição, gente que quer o PT fora do poder”, concluiu.

***
***
***

Entrevista : o neto de Jango fala sobre mídia, eleições e o ¨golpe branco¨

João Alexandre
João Alexandre Goulart
João Alexandre Goulart tem 35 anos, é publicitário formado de Porto Alegre e militante do PDT. Seu avô é o famoso João Belchior Marques Goulart, gaúcho de São Borja e presidente deposto no golpe militar de 1964, que colocou o general Castelo Branco no poder.
Para João Alexandre, de acordo com um post dele publicado no Facebook e devidamente viralizado, um novo golpe está em curso contra a candidata à reeleição Dilma Rousseff do PT. Nesta investida, o tucano Aécio Neves foi escolhido para representar os interesses das grandes corporações.
O neto de Jango acredita que a imprensa está fazendo uma desconstrução da imagem de Dilma sem fazer uma crítica necessária a Aécio, dentro da legalidade mas visando tirar a governante do poder. João Alexandre Goulart diz que não é petista e relembrou as histórias de seu avô, além das de Leonel Brizola.
O DCM perguntou o que João Alexandre entende por “golpe branco”, quais são suas opiniões sobre as eleições, sobre a mídia e por que ele apoia Dilma Rousseff nesta competição.
Como você compara as eleições de hoje com o passado histórico da sua família?
Ela é uma evolução nos métodos e de conduta política. Dentro da democracia conquistada após 20 anos de ditadura, nós adquirimos a liberdade e a estabilidade monetária e política, mas ainda não conquistamos a reforma do Estado por meio das reformas de base. Espero que isso ocorra um dia começando pelo segundo governo de Dilma Rousseff, caso seja reeleita. Tenho convicção de que será muito melhor do que foi o primeiro.
Você falou no Facebook sobre um “golpe branco” contra Dilma. Por que isso está ocorrendo?
O golpe branco contra Dilma é empresarial e monopolista. Querem o monopólio da opinião e isto não é valido. Mas, antes de tudo, devemos entender o significado do termo golpe branco. É uma expressão usada na historiografia e na ciência política para se referir a uma conspiração ou trama que tem como objetivo a mudança de uma liderança política por meios parciais ou integralmente legais. Hoje nós todos sabemos da conspiração que aliou civis, militares e parte considerável da mídia para derrubar meu avô, João Goulart, em 1964.
É por isso que eu acredito que a campanha de terrorismo econômico sistemática do oligopólio de meios de comunicação busca desestabilizar o governo da presidenta Dilma e é muito semelhante com o que o IPES fez durante o governo do meu avô.
Hoje os métodos são distintos e as empresas midiáticas querem fazer a sociedade brasileira de mais de 200 milhões de pessoas crer que é plenamente compreensível, válido e justo que 90% dos meios de comunicação do Brasil estejam nas mãos de um grupo muito pequeno de famílias em nome da livre iniciativa e da liberdade de imprensa.
Precisamos de reforma dos meios de comunicação?
Sim. O que presenciamos hoje é a desconstrução da imagem da presidenta Dilma Rousseff. Associam-na com a incompetência e a corrupção quando, na verdade, temos uma gestora das mais competentes e corretas das últimas décadas. Que liberdade é essa que limita a opinião pública de uma nação tão grande aos interesses dessas famílias? Isso é ditadura de opinião a favor de uns poucos privilegiados.
Você então apoia uma regulação econômica da mídia?
O próprio Aécio não defende a “meritocracia” para os outros? Pois bem, é crucial para o avanço de democracia brasileira e formação dos valores o aumento da concorrência entre os veículos de comunicação para que se aumente a pluralidade de opiniões. Ou você acha sinceramente que os donos da Rede Globo, Band, Grupo Abril e SBT vão votar em Dilma? Eu tenho convicção que eles irão votar todos em Aécio. Hoje temos milhões de pessoas escutando somente a opinião de oito famílias ricas que pretendem manter seus privilégios. Elas também sonegam impostos bilionários da receita Federal e fica por isso mesmo.
Você sempre simpatizou com o governo de Dilma Rousseff? Por quê?
Não se trata de uma questão de simpatia, se trata de entender o caráter da minha presidenta, diferente do que a grande mídia quer fazer ao colar nela os possíveis erros do PT. A comunicação foi tão manipulada que pintam o Aécio Neves como se ele tivesse uma varinha mágica e fosse resolver os problemas do Brasil em um instante. Isso me lembra muito a campanha de Collor ou até mesmo a campanha de Jânio Quadros. Aécio não é nada disso que falam. Esta mídia na verdade nunca admitiu a participação popular, por isso somos condicionados somente a escutar o que eles dizem sem o direito de contestar.
Você tem críticas ao governo Dilma?
Todos os governos merecem críticas. Uns mais, outros menos. Estou plenamente convencido de que estes próximos quatro anos de Dilma serão os anos da redenção do nacionalismo, da brasilidade, da distribuição de renda e do orgulho de um país de todos. Ela tem muito a fazer sem as práticas partidárias que eventualmente o PT possa ter cometido.
Quais são suas críticas para o candidato Aécio Neves?
O que Aécio entende de programas sociais? O que ele fez como senador, além das suas ausências do Senado? Ele faltou 26 vezes em 2011, 20 vezes em 2012 e 15 vezes no ano passado.
Aécio usou a expressão “revolução de 1964″ em um evento em Santos no ano de 2013. Você acredita que ele é um candidato que atrai simpatizantes da ditadura militar?
Aécio Neves é filho do deputado Aécio Cunha, membro da ARENA, partido da ditadura que combateu os verdadeiros democratas. Eles apoiaram o fim do pluripartidarismo e criaram os parlamentares biônicos para nunca perder uma eleição. Preferiria que ele tivesse se apresentado com o nome de seu pai, Cunha, sem o Neves que lembra seu avô, um grande getulista e janguista. Ele não estaria apoiando esta aventura entreguista de seu sobrinho-neto, que faz parcerias espúrias para tentar o poder a qualquer preço.
Em quem você votou no primeiro turno? Não precisa me falar se não quiser.
Já declarei publicamente meu voto para presidente. Votei na Dilma 13 e votarei 13 novamente no segundo turno. Número histórico do Comício da Central do Brasil no dia 13 de março de 1964, feito por meu avô João Goulart que ficou conhecido pelo Comício das Reformas.
O PT representa uma mudança histórica nos governos brasileiros?
Histórica não, pois representa a continuação de um mesmo projeto trabalhista por meio das lutas populares de Getúlio, de Jango, de Brizola e de Pasqualinni. Em outra época, foi o PTB responsável por isso. Hoje são PT, PDT e PCdoB a levantar essas bandeiras de avanços progressistas. O trabalhismo e o sindicalismo não nasceram no ABC, tenha certeza. A luta sindical nasceu muito antes. Ninguém pode se achar dono das lutas pela justiça social. O trabalhismo de meu avô João Goulart está acima dos partidos. O golpe de 1964 não foi dado contra Lula nem contra o PT. O golpe de 1964 foi dado contra o trabalhismo de Jango. Ele foi o presidente das Reformas de Base até hoje desejadas e necessárias para a transformação e evolução da sociedade brasileira.


Porque a mídia não procura o primo de Aécio ?

Este texto foi publicado pelo DCM em 08 de agosto de 2014.


Os primos
Os primos.

Pobre jornalismo. Pobre público. Pobre Brasil.
Soubemos, pela Folha, que Aécio mandou construir um aeroporto num terreno que pertencia a seu tio, na cidade de Cláudio, em Minas.
Soubemos também que, embora pretensamente público, o aeroporto ficava fechado.
Segundo a Folha, a chave está, ou estava até a denúncia, nas mãos de primos de Aécio. Por que ninguém os entrevista?
Se a mídia tivesse qualquer interesse em aprofundar essa história, um passo básico seria mostrar quem são esses primos. E ouvi-los.
Um deles é especialmente famoso na região. Tancredo Tolentino, o Quedo.
Já que falamos de chave, Tancredo é o que popularmente se chama de chave de cadeia.
Dois anos atrás, ele foi um personagem central numa reportagem do Fantástico sobre a venda de sentenças judiciais que beneficiaram traficantes na região onde se localiza o aeroporto de Aécio.
Note: não havia nenhuma menção na reportagem ao fato de que Tancredo é primo de Aécio, como se isso não fosse notícia.
Notícia é realmente subjetivo, neste mundo em que vivemos. Imagine se Tancredo fosse primo de Lula. A cada parágrafo seríamos lembrados do parentesco.
No vídeo do Fantástico, Tancredo aparece fazendo a ponte entre o advogado dos traficantes presos e o desembargador que os soltou, Hélcio Valentim, amigo seu.
A Polícia Federal cedeu ao Fantástico um vídeo com a confissão, em detalhes, de Tancredo.
Ele cobrou 150 mil reais dos traficantes pela sentença. E repassou 40 mil, um detalhe que não foi explorado pelos repórteres do Fantástico.
Quedo ficou, portanto, com 110 mil reais. Ficaria com 105 mil, ao que parece. Separou 45 mil para entregar a Valentim, agrupados em maços de 5 mil.
Mas, na hora de dar o dinheiro, ele pegou um maço e guardou para si mesmo. Talvez tenha dito que aquela era sua comissão, e que os presos tinham topado pagar 45 mil.
A reportagem do Fantástico diz que Quedo acabou por ser preso, e depois solto. Estava respondendo ao processo em liberdade quando o programa foi ao ar.
Bizarrice entre as bizarrices, ele tentou, mesmo enroscado com a polícia e com a justiça, se candidatar a prefeito de Cláudio em 2012. Como se fosse um ambientalista, seu partido era o Verde. Foi impugnado com base na Lei da Ficha Limpa.
A venda de sentenças beneficiou três traficantes. Valentim concedeu a eles habeas corpus. Quando o Fantástico foi ao ar, em dezembro de 2013, todos eles estavam foragidos.
Quedo, fisicamente, não poderia ser mais diferente de seu primo. É obeso, careca e, como mostram suas imagens, evidentemente desleixado.
Um é claramente vaidoso, e o outro é sinônimo de desmazelo.
Ao lado de Aécio, ele poderia passar por seu jardineiro, ou motorista.
Mas, acima de tudo, Quedo é notícia.
Numa região marcada pelo tráfico, e com sua frouxidão moral aliada a uma ganância sem freios, que utilização Quedo poderia dar a um aeroporto controlado por ele?
Nas especulações que varrem a internet, o helicóptero dos Perrellas é intensamente citado.
Aécio é amigo dos Perrellas. E Quedo, também é? Ninguém na mídia pareceu interessado em verificar isso, e em eventualmente seguir adiante.
Quedo é um personagem fascinante. Mas a mídia – incluída a Folha, que trouxe o caso do aeroporto mas parece pouco empenhada em dar seguimento à história – finge que não é.
Pior: finge que ele não existe.

É fundamental que a poderosa irmã de Aécio, Andrea Neves saia das sombras para a luz.

Andrea e Aécio com o dono do Afroreggae, José Júnior
Andrea e Aécio com o dono do Afroreggae, José Júnior.
Andrea Neves está colhendo agora os frutos de um intenso trabalho, realizado durante décadas, para cuidar, até onde isso foi impossível, da imagem do irmão. As eleições acabaram por tirá-la das sombras onde ela se mantinha por vocação e por conveniência.
Foi preciso um escândalo para que que isso ocorresse. Era ela quem cuidava do órgão responsável por coordenar a distribuição de verbas de publicidade do governo Aécio em Minas. Veículos que pertencem à família ganharam anúncios. Segundo o UOL, a rádio Arco Íris recebeu 210 693 reais em 2010.
Nos oito anos de Aécio, os gastos com publicidade oficial aumentaram de 24 milhões de reais para 96 milhões — 300%. Andrea, segundo Aécio, fazia trabalho “voluntário” na Servas (Serviço Voluntário de Assistência Social) e não recebia salário.
Num comício no Rio de Janeiro, ela teria se emocionado ao comentar sobre sua exposição recente. “Essa campanha com tanta mentira, tanta infâmia que está sendo oficialmente patrocinada pelo PT vai acabar servindo para alertar a população brasileira sobre o que está por trás de tudo isso.” Teria chegado às raias do choro.
“O que cabe a cada um de nós, que está mais perto do Aécio, é manter o coração mais firme e confiar no bom senso das pessoas”, disse ela. “O que ele fez foi reagir a um massacre contra a nossa família com dados incorretos. Nossa família foi trazida aos debates com base em mentiras”.
A família foi trazida aos debates porque, infelizmente, é assim que funciona quando alguém concorre ao Planalto. No caso de Andrea, seria absurdo ela continuar escondida quando está longe de ser uma coadjuvante. Isso foi possível por tanto tempo por causa de seu poder no coronelato em Minas.
O documentário “Liberdade, Essa Palavra”, sobre a censura em MG, conta algumas histórias envolvendo seu nome. Uma delas é a do diretor local da Globo, Marco Antônio Nascimento.
Nascimento emplacou uma matéria no Jornal Nacional sobre o crack em Belo Horizonte. Andrea não gostou. Segundo Nascimento, ela lhe disse num almoço que a reportagem “veio num momento ruim para nós”. Andrea fez várias ligação para o diretor nacional de jornalismo, Carlos Henrique Schroeder. Para resumir: Nascimento foi demitido, num dos muitos episódios dessa natureza em MG.
Andrea nunca largou o osso. Enquanto Aécio esteve no Senado, preparando seu vôo, ela o esperava no Servas com o aliado Anastasia. Desde janeiro desde ano chefia a campanha de Aécio, repetindo o modelo mineiro bem sucedido.
Sempre lutou para cumprir o sonho interrompido pela tragédia com seu avô Tancredo. O irmão é o veículo, seu “cavalo”. Ela é um ano e 23 dias mais velha que ele, mas age como mãe e é notadamente mais madura, especialmente no que se refere ao apetite por baladas.
A história caminha ao seu lado. Jornalista por formação, foi fundadora do Partido dos Trabalhadores no Rio. Testemunhou o atentado no Riocentro, em 1981, quando foi abordada pelo capitão Luís Chaves Machado, cujas vísceras estavam para fora por causa da bomba que explodiu em seu colo.
A presidência é uma predestinação. “A gente gosta de acreditar que tem o controle absoluto sobre a nossa própria vida. Isso não é verdade. Mas algumas pessoas têm menos controle sobre o próprio destino do que as outras”, afirma. A frase de auto ajuda não tem sentido, mas, no mundo de Andrea, ela e Aécio sabem melhor do que você o que vai acontecer com seu futuro.
O importante é tentar controlar tudo. Em seu blog, o jornalista Lucas Figueiredo conta que, em 2005, Aécio jogou uma preliminar no Mineirão para comemorar os 40 anos do estádio. O confronto principal era entre Atlético e Cruzeiro.
Um dia antes, ela pediu a sua assessoria que falasse com a torcida organizada atleticana para que maneirasse nas vaias ao irmão cruzeirense. Não adiantou, evidentemente.
Se pudesse, Andrea ordenaria ao Brasil que pegasse leve com Aécio, sufragasse logo seu nome e parasse de encher o saco do clã para que ele cumpra seu papel perante a humanidade.
O complicado, o mais complicado, é que ela acha que pode.
*

Nenhum comentário: