terça-feira, 3 de março de 2015

Quem ameaça a democracia: Lula ou a Globo de Noblat?

Sem noção
Sem noção.


O artigo de Ricardo Noblat sobre Lula merece figurar entre as piores coisas já publicadas pela imprensa brasileira.
Nas escolas de jornalismo, os professores poderiam usá-lo como uma amostra do quenão se deve fazer.
Os problemas começam numa fonte – melhor, “fonte” – que conta uma história, ou pseudo-história, na qual Dilma aparece como um monstro.
Dilma, segundo essa “fonte”, teria mandado alguém calar a boca mediante o argumento de que ela tem 50 milhões de votos.
Sei o quanto jornalistas fabricam fontes, e estamos diante de uma situação em que Wellington diria que quem acredita em Noblat acredita em tudo.
Pessoas do círculo íntimo de Dilma não contam histórias para jornalistas como Noblat, porque sabem o uso que será dado a elas.
Minha aposta, como editor, é que Noblat criou uma fonte. A única alternativa que vejo é alguém ter contado a ele uma lorota para atacar, por ele, Dilma.
Mas isso não é o pior.
O que mais chama a atenção no texto é Noblat tratar Lula como “ameaça à democracia”.
Deus, onde foi parar o pudor?
Noblat trabalha para uma empresa que tem um histórico terrível de conspirações contra a democracia. E vem posar de defensor da ordem?
Roberto Marinho tramou contra Getúlio. Foi peça vital na derrubada de João Goulart. Beneficiou-se extraordinariamente da ditadura, da qual foi porta-voz.
Era, antes dos generais, o dono de um jornal de segunda classe, o Globo. Ninguém admirava o Globo na era do Correio da Manhã e do Jornal do Brasil. Ninguém lia. Ninguém levava a sério.
Com a ditadura, Roberto Marinho, já sexagenário, recebeu de presente uma televisão e todas as mamatas possíveis para fazê-la crescer.
O pacto era assim: Roberto Marinho teria o que quisesse da ditadura, desde que desse a ela uma cobertura totalmente amiga.
Você vê como a Globo trata Lula e Dilma. Na ditadura, era exatamente o tratamento oposto. O Brasil era uma maravilha segundo a Globo. Éramos prósperos, éramos virtuosos, éramos até bonitos.
Não vou nem colocar aqui a conta dos brasileiros mortos, torturados e perseguidos pela ditadura. E nem vou dizer que Roberto Marinho e a Globo jamais pagaram sua parte nessa conta.
Também não vou falar dos privilégios dados à Globo com recursos públicos: publicidade em níveis abjetos, financiamentos de bancos estatais, compras de livros e de assinaturas de jornais e revistas, reserva de mercado etc.
Quer dizer: com todo esse histórico, Noblat tem coragem, em plena Globo, de falar em “ameaça à democracia”.
Lula foi um cavalheiro com a Globo, e este foi um de seus maiores erros.
Boni, publicamente, se gabou trabalho que a Globo fez com Collor no debate que decidiu a presidência em 1988.
Todos sabem, depois, a edição do debate, e sua influência na vitória de Collor.
E o que Lula fez quando se tornou presidente? Compareceu, respeitoso, ao enterro de Roberto Marinho. Não compareceu apenas. Fez um elogio fúnebre a ele e decretou luto de três dias.
E mais importante que tudo para a Globo: manteve o mensalão milionário da publicidade federal.
Tudo isso para dar na perseguição impiedosa que a Globo moveu contra Lula e agora move contra Dilma.
Isso sim é ameaça à democracia – Lula antes e Dilma agora foram erguidos à base de voto popular.
Não espero nada da Globo e de seus capangas-jornalistas.
Mas Noblat se superou.
Insultou não apenas o leitor com seu bestialógico. Insultou também a si próprio.
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MANIFESTANTE INVADE APARTAMENTO EM CHAPECÓ (SC) PARA TENTAR TIRAR BANDEIRA DO MST DA VARANDA.

Manifestação gera conflito em Chapecó.

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DE ONDE VEM TANTO ÓDIO CONTRA O PT ?

Filhos da mídia
Filhos da mídia.

Bresser Pereira resumiu o que acontece no Brasil de hoje: um grotesco sentimento de ódio coletivo dos ricos pelo PT e por Dilma.
Ele atribuiu a Lula e sua atribulada luta pela inclusão social de brasileiros ao longo de anos, décadas, séculos excluídos.
Mas se esqueceu de falar na contribuição milionária da imprensa para a disseminação do ódio.
A jornada de raiva da mídia começa exatamente com Lula, em 2003.
A Veja, antes uma revista respeitada e não um panfleto vil, assumiu desde logo o comando.
Dois articulistas foram chave nisso: Diogo Mainardi, na edição impressa, e Reinaldo Azevedo, na digital.
Eles deram o novo tom da revista. Falta de compromisso com os fatos e objetivo único de sabotar o governo eleito e, com ele, a democracia.
Progressivamente, o resto da imprensa foi seguindo o mesmo caminho.
Jornalistas e colunistas progressistas foram sendo afastados das redações, substituídos por derivações de Mainardi e Azevedo.
Aí foi perdido um equilíbrio tradicional: ao longo dos tempos, o direitismo dos donos encontrava um contraponto no progressismo dos chefes de redação.
Um dos exemplos notáveis disso foi Frias, o velho, e Claudio Abramo, na Folha. Ou Roberto Civita e Mino Carta, na Veja.
Foi dentro desse quadro que surgiu a multidão de vozes patronais nas principais empresas jornalísticas nacionais.
O que houve foi uma ocupação.
O pensamento diferente foi virtualmente extirpado. Mesmo a Folha, que se vangloriou durante muitos anos da pluralidade, foi ampliando os colunistas de direita e jogando fora os demais.
Não é coincidência que Reinaldo Azevedo, o símbolo do jornalismo patronal, seja hoje colunista da Folha.
Nos bastidores das redações, ocorreu o mesmo. Na Globo, ascenderam a postos essenciais jornalistas como Erick Bretas, hoje diretor de Mídias Digitais da empresa.
Bretas se notabilizou, recentemente, por pedir o impeachment de Dilma no Facebook e conclamar seus seguidores a acompanhá-lo no protesto de 15 de março.
A mensagem central da mídia pós-Lula tem sido instilar raiva num público intelectualmente vulnerável, destituído de preparo para distinguir jornalismo de propaganda política.
Para isso, jornais e revistas tentam desmoralizar de todas as formas o governo. A maior arma, aí, são acusações de corrupção, e não à toa.
Isso sempre funcionou no Brasil. A classe média é facilmente manipulada. Getúlio foi boicotado assim, e depois dele Jango também.
O ódio de classes que marca o Brasil de hoje deriva daí. Os “corruptos”, no discurso calculado da imprensa, estão acabando com o Brasil e enriquecendo à custa de todo mundo.
Danem-se os fatos. O importante é propagar essa visão.
Um dos efeitos colaterais disso é a venezuelização do Brasil. O brutal ataque a Mantega no Einstein é uma amostra perfeita da venezuelização: a fúria irracional das classes privilegiadas contra tudo que remeta a um governo de esquerda, ou centro-esquerda.
Por trás de tudo, se esconde uma verdade prosaica: os privilegiados, e deles a imprensa é o porta-voz, não querem abrir mão de suas mamatas.
É assim na Venezuela, é assim no Brasil.
Lamentavelmente, Bresser Pereira é um dos poucos privilegiados que conseguem enxergar a vida além de seus próprios interesses.
É por isso que ele é ignorado pela mídia.
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