domingo, 5 de junho de 2011


Por Ricardo Kotscho, jornalista, em seu “Balaio
As duas páginas com a defesa de Antonio Palocci que a Folha de S. Paulo publica na sua edição deste sábado praticamente reproduzem com os mesmos termos e argumentos a entrevista concedida na noite de sexta-feira à Rede Globo e comentada no texto abaixo.
A começar pelo título, logo se vê que não há novidades: “Dilma não sabe quem foram meus clientes, diz Palocci” _ aliás, nem a presidente nem ninguém. Parte da entrevista à Folha, o jornal que fez a primeira denúncia sobre o gordo patrimônio do ministro há três semanas, foi concedida por escrito.
E o que vai acontecer agora?
Tudo dependerá das pesquisas sobre a atuação de Palocci na TV e no jornal, que já devem estar chegando ao Planalto, da repercussão das entrevistas na mídia e no Congresso, e dos planos da presidente Dilma para reconstruir a articulação política do governo que desmoronou na crise da Casa Civil.
Nos próximos dias haverá uma intensa especulação sobre possíveis nomes para os lugares tanto de Palocci como de Luiz Sergio, o apagado ministro de Relações Institucionais, mais conhecido por “garçon” porque se limita a anotar os pedidos da base aliada.
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Se já estava insustentável, a situação de Antonio Palocci, ministro-chefe da Casa Civil, ficou ainda pior, depois que ele quebrou, nesta sexta-feira, por determinação da presidente Dilma Rousseff, o silêncio sobre as acusações de enriquecimento ilícito que pesavam contra ele.
Palocci, finalmente, falou nesta sexta-feira, como antecipamos ontem à noite aqui no Balaio, mas não convenceu ninguém, que eu saiba.
O caminho que ele escolheu _ dar uma entrevista exclusiva ao Jornal Nacional da TV Globo _ foi um completo desastre.
Não por culpa do repórter Júlio Mosquera, que cumpriu seu papel, e fez todas as perguntas que todos nós gostaríamos de lhe fazer, mas pelas respostas evasivas de Palocci, que não explicou nada.
O ministro foi muito mal preparado pelos profissionais do midia training que ele contratou. A meu ver, não convenceu ninguém da sua inocência, nada explicou, só fugiu das perguntas.
Ao contrário do que se planejou, Palocci só aumentou as desconfianças de todo mundo. Mais do que suas palavras, o constante gaguejar nas respostas e a expressão do seu rosto o condenaram.
No acerto feito entre a emissora e a assessoria do ministro, tudo foi preparado para que o ministro saísse da entrevista mais forte do que entrou, juntando forças para ficar no cargo. Deu tudo errado, mas mesmo assim foi levado ao ar.
O primeiro bloco inteiro do JN, ao contrário do que vimos desde a primeira posse de Lula, em 2003, não mostrou nenhuma desgraça. Só tinha notícia boa, tudo melhorando, na sequência da escalada, em que foi anunciada a entrevista exclusiva, na linha “Palocci explica tudo para nós”.
O que era feio, de repente ficou bonito, tudo em nome da liberdade de expressão. Sem ser contestado, Palocci afirmou que não fez tráfico de influência, não há uma crise de governo, não colocou o cargo à disposição da presidente e ainda teve tempo para elogiar várias vezes as perguntas, deixando claro que não falaria em clientes nem valores dos contratos da sua consultoria.
“Meu papel é cumprir a lei”, proclamou o ministro, já no final. Foi, certamente, a mais longa entrevista já colocada no ar pelo “Jornal Nacional” _ talvez, um desastre de audiência, tanto para o ministro como para a emissora, mas, sem dúvida, um furo de reportagem programada.
Não digo isso porque hoje trabalho numa emissora concorrente da Globo, onde trabalhei até outro dia, e para onde posso voltar amanhã.
É apenas em respeito aos fatos desta noite, com os quais não posso brigar. Não, não queria que Palocci desse uma entrevista exclusiva à Rede Record, em lugar de falar apenas à Rede Globo. Queria apenas que ele falasse, ao mesmo tempo, para toda a imprensa brasileira numa entrevista coletiva.
Se a presidente Dilma Rousseff ainda tinha alguma dúvida sobre a manutenção ou não do ministro Antonio Palocci na Casa Civil, tenho certeza que, depois desta entrevista, não tem mais. Precisa arrumar logo alguém para ficar no lugar dele.
Dilma tem mais é que se livrar, o mais rápido possível, de todas as amarras que a impedem de dar início ao seu próprio governo com a equipe que ela mesma escolher. A crise, afinal, pode ser boa conselheira.

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