sexta-feira, 21 de junho de 2013

Luta por 20 centavos.

Hélio Consolaro*


Não quero ter nenhum azedume com as manifestações atuais. Se os gays podem fazer suas paradas, os héteros e a cidadania em geral também. A civilidade e a festividade merecem respeito. Todas elas são merecedoras de atenção e precisam ser analisadas, mas não me furto a fazer algumas observações. Todo cronista é metido a saber das coisas.

A ditadura militar deixou uma imagem ruim de governo, e nós, militantes da esquerda, esparramos por aí que ser governo era muito ruim, basta sê-lo para não prestar. Assim, tudo que é falado por parlamentares (municipal, estadual, federal), prefeitos, governadores e presidente é ouvido com desconfiança. Como se fosse possível dirigir municípios, estados e país sem ter governos.

A classe média do Brasil sempre seguiu os padrões norte-americanos e europeus. Os movimentos políticos surgiam lá, depois chegavam cá. Assim foi em 1968, com o movimento estudantil. A crise começava no mundo desenvolvido para chegar ao subdesenvolvido.

Em 1990, a molecada também saiu às ruas, solicitando o “impeachment” de Collor. Como os velhos militantes contrários à ditadura militar, os quarentões caras pintadas estão roncando papo por aí: “no meu tempo, o pau comia”. Estão impressionando netos e filhos.

Este cronista, sendo um ex-preso político, parou de falar em sala de aula sobre a sua prisão, porque os jovens sentiam inveja, como se ser perseguido fosse uma coisa boa. Na verdade, meus alunos estavam atrás de aventura.

Dessa vez, a ordem inverteu. Os países desenvolvidos entraram em crise e os emergentes não. Europa, Estados Unidos com desemprego massivo, aqui, ao contrário, o emprego se alastra. A classe média brasileira ficou sem chão, não é possível fazer os mesmos protestos por aqui. Mudou o paradigma, quis exercer imitação de qualquer forma. Ficaram com inveja da Arábia Saudita.

Gente acostumada com turbulência política, pôe e depõe presidente, passou a não suportar o tédio da normalidade democrática. Votar que era um desejo ardente, virou uma rotina, coisa sem importância, negócio chato.

Assim, militantes radicais de esquerda reuniram a parte da juventude da classe média raivosa e foram para a rua lutar por centavos. Gente que nunca andou de ônibus quer passe livre. Quem está promovendo o quebra-quebra senão aqueles que gostariam ficar eternamente em greve? São os mesmos que nas greves da Apeoesp (professores estaduais de São Paulo) promovem pancadaria quando a assembleia vota o fim da greve.  

Na verdade, há gente aproveitando o momento da Copa das Confederações em que o Brasil é o centro do noticiário mundial para promover tais quebras para desfazer a imagem positiva do país no exterior. Há tanta falta de bandeira ao movimento, porque o Brasil passa por um bom momento, que a luta é por 20 centavos. Passou a ser uma farra, um jeito de viver perigosamente. Apanhar da polícia engrossa o sangue.

Mesmo que este texto seja verdadeiro, não se trata apenas de um olhar torto e desatualizado de um cronista idoso, a liberdade de expressão e movimentação deve ser garantida. Só não podemos tolerar o vandalismo.  

*Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Atualmente é secretário municipal de Cultura de Araçatuba-SP
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