quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

“A guerra contra a PM está declarada”: o que está por trás das cenas de horror em Campinas.

Ônibus queimado em Campinas
Ônibus queimado em Campinas.



“A guerra contra a PM está declarada”, disse o cunhado de uma das 12 vítimas de assassinato ocorridos em Campinas neste final semana. Todas foram alvejadas nas costas e na cabeça. Ou seja, sem rodeios: ajoelhadas e olhando para o chão.

A ocorrência das execuções e a revolta de populares ateando fogo em ônibus, são um retrato bem acabado da situação geral em que nos encontramos e que foi sendo semeada ao longo de décadas. De um lado, uma polícia despreparada e mal paga, com enorme porosidade para a corrupção, enraizada em uma guerra conhecida mas ao mesmo tempo ignorada, travada nos guetos e favelas. De outro, uma população de periferia, desprotegida, envolta e entrelaçada por quadrilhas e criminosos defendendo seu território e seus negócios. A guerra não precisa ser declarada, ela já existe há tempos e este roteiro é quase banal.

Após a morte de um PM que estava em horário de folga e supostamente teria reagido a um assalto em um posto de gasolina, num espaço de 3 horas uma milícia encapuzada executa uma dúzia de pessoas, seis delas com passagens por tráfico, receptação e roubo de veículo, homicídio.

A própria polícia parece não duvidar de que haja participação de policiais (senão todos) na ação.

A polícia tem condições de encontrar em 3 horas os autores, mas como ela mesma não confia no “sistema”, resolve a coisa à sua maneira;

A polícia (ou aquele grupo) só tem condições de encontrar em 3 horas pois sabe, conhece na verdade, exatamente quem são os autores, o que me leva a suspeitar das tais ocorrências de assalto envolvendo um PM em horário de folga. Quando há desavenças no chamado “arrego”, as armas cantam mesmo;

Durante o velório, chegou uma ordem da polícia (confirmada pela Secretaria de Segurança Pública) para que os cadáveres retornassem ao IML para “novos exames” pois ainda seria necessário encontrar mais projéteis não encontrados na primeira sessão. Encontrar ou enxertar novos e de calibre não comprometedor?

A revolta da população acontece quando inocentes, geralmente menores, vão de roldão no mesmo pacote. Do contrário, fica subentendido que é do jogo: uma das partes não cumpriu algum acordo e não se toca no assunto.

Dois dias antes do ocorrido em Campinas, perto das 3 horas da madrugada de sexta-feira, quatro homens encapuzados invadiram a Santa Casa de Misericórdia de Valença (BA), renderam o policial que estava fazendo a escolta de um detento, conhecido como Gazo, ferido e acusado de participar da morte do policial João Tiago Leite Machado na praia de Guaibim.

Executaram o preso que estava sob custódia com sete tiros de vários calibres, todos na cabeça. A foto, chocante, foi postada com um comentário que enaltecia a ação: “No estado da Bahia é comum matadores de policiais serem mortos rapidamente, um recado claro, assassino de polícia nunca fica impune”, estava grifado.

Não é só na Bahia.

Diario do Centro do Mundo | URL:http://wp.me/p32SsY-gUh

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ASSASSINO DE POLICIA MILITAR É MORTO COM 7 TIROS NA CABEÇA DENTRO DE HOSPITAL.


http://www.itapetingaagora.net/2014/01/assassino-de-policia-militar-e-morto.html
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Campinas: 13 mortos e chamas. Intervenção?



"Segunda maior cidade de São Paulo enfrenta onda de violência; após morte de policial militar, terminal de ônibus é invadido e três coletivos são incendiados; madrugada teve 13 assassinatos; capital teve quatro ônibus queimados no final de semana; crise na segurança será motivo de pedido de intervenção federal em Estado governado pelo tucano Geraldo Alckmin?; por motivo igual, jornal Folha de S. Paulo defendeu intervenção no Maranhão de Roseana Sarney; diferença política?

Brasil 247


A julgar pelos critérios de análise do jornal Folha de S. Paulo, Campinas, a segunda maior cidade do Estado, merece sofrer intervenção política o quanto antes. Ou melhor, o governo de São Paulo é que precisa ser enquadrado e perder seus poderes para uma força-tarefa saída de Brasília para resolver tudo a toque de caixa.

No final de semana, uma onda de assassinatos varreu a cidade, com treze mortos na madrugada do domingo 12 para a segunda-feira 13. Um grupo de cerca de 20 homens invadiu um terminal rodoviário e ateou fogo em três ônibus. Os crimes aconteceram após a divulgação da morte de um policial militar.

Na capital paulista, no final de semana outros quatro ônibus foram incendiados.

Em editorial, a Folha defendeu, por motivos semelhantes, agravado pela crise no sistema carcerário, uma intervenção federal no Maranhão governado por Roseana Sarney. Mas está claro desde já que não defenderá a mesma solução de força contra a gestão de Geraldo Alckmin, em São Paulo.

O que é descontrole lá é normal aqui, este parece ser o recado dado pelo jornal. Apenas as preferências políticas do jornal explicam a grita num caso e o silêncio no outro.

Na verdade, o episódio de Campinas ilustra tristemente o quanto é temerário promover atos institucionais bruscos sobre instituições como governos de Estado e prefeituras municipais. Pelo critério de crise na segurança, dezenas de cidades brasileiras e outros Estados além do Maranhão, infelizmente, passariam à tutela federal, que, de resto, assumiria novas responsabilidades acima de todas as que já tem.

Seria isso a resolver o problema que parece se agravar em todo o País?'

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A BALANÇA E A CHIBATA.

 Mauro Santayana

Brasil, um país em que a polícia e a justiça se originaram na Santa Inquisição e nos Capitães do Mato. Um país com a polícia que mais mata no mundo e que boa parte da população acha que a violência deve ser combatida na base do “olho por olho, dente por dente”.



Cenas do filme CARANDIRU - 2003.

Nos últimos dias, pela enésima vez - quem não se lembra do massacre do Carandiru? - a situação das prisões brasileiras foi manchete na internet e nos mais importantes jornais do mundo.

Junto aos textos, as imagens dos cadáveres decapitados de Pedrinhas, no Maranhão, e a informação de que a cada dois dias - sob a guarda do Estado - um prisioneiro é assassinado no Brasil.

Os números não se referem aos que são espancados por outros presos ou agentes e policiais. Ou aos que falecem devido a enfermidades - muitas delas contagiosas - que se espalham como peste nas celas superlotadas. Ou aos que são feridos quando detidos e morrem por falta de assistência médica ou remédios.
Em boa parte do mundo, a primeira preocupação de um condenado é contar quantos dias, meses e anos faltam para a sua liberdade.

No Brasil, a não ser que seja o “xerife” ou faça parte de alguma facção - o que não é garantia de nada, como se viu no Maranhão - a primeira preocupação de um preso é evitar, minuto a minuto, ser espancado, estuprado ou assassinado por seus colegas de cela.

Ele não poderá jamais, mesmo se tivesse espaço para isso, dormir tranqüilo. E da sua relação com os agentes penitenciários, dependerá, a cada momento, seu futuro.

Uma simples transferência de cela ou de galeria feita, a qualquer instante, pelo carcereiro de plantão, pode representar a diferença entre vida e morte, relativa integridade física e uma surra de criar bicho, ou algo muito pior.

Isso, considerando-se que esse indivíduo tem grande chance de ser preso provisório, que, sem culpa oficialmente formada, está aguardando julgamento, às vezes por meses ou anos.

Que crime ele cometeu, para cumprir cadeia nessas condições? O crime de ter nascido em um país em que se prende, e se condena, pelo furto de dois pacotes de biscoitos ou um xampu, e se envia o suspeito, em poucas horas, para uma cela cheia de traficantes assassinos.

Ter nascido em um país no qual o suspeito é tratado, na prática, como culpado até prova em contrário, e em que, segundo certa jurisprudência, cabe ao réu provar que foi torturado quando o acusado pela tortura for agente do estado.

Um país em que boa parte da população acha que a violência deve ser combatida na base do “olho por olho, dente por dente”. E acredita que diminuindo a maioridade, aumentando as sentenças e adotando a pena de morte resolveremos o problema, embora tenhamos a polícia que mais mata no mundo e a quarta população carcerária do planeta, e a criminalidade e a violência continuem aumentando a cada ano.

O crime de ter nascido em um país em que a polícia e a justiça se originaram na Santa Inquisição e nos Capitães do Mato.

Em uma Nação na qual alguns juízes, continuam agindo como se, entre nós, a Justiça trouxesse a balança em uma mão, e na outra, uma chibata.

E a chibata fosse muito mais usada.

http://causameespecie.blogspot.com.br/2014/01/brasil-um-pais-em-que-policia-e-justica.html

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