terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Corrigindo O Globo: apagão não é racionamento, não é mesmo Leitão?

Capa da insuspeita Veja, ataca duramente o racionamento que a falta de planejamento e investimentos o governo FHC fez o brasileiro passar por tal provação entre 2001/2002

Palavras Diversas


Capa da insuspeita Veja, ataca duramente o racionamento, fruto da falta de planejamento e investimentos no setor elétrico do governo FHC, que penalizou duramente o brasileiro entre 2001 e 2002.
O jornal O Globo, a cargo de seus “analistas” em energia, ano após ano no verão lança previsões sombrias para o setor elétrico brasileiro. Míriam Leitão é quem mais se destaca durante as temporadas de prenúncios de apagões, que dura de dezembro a março.

Fica muito fácil perceber de que não se tratam de previsões, mas achismos rebuscados que, em vias de regra, não se confirmam.

De fato são apenas notícias construídas a partir de torcidas por secas prolongadas que coincidam com falhas no sistema.

Apagão é um termo popular para designar um curto período de falta de energia elétrica, geralmente resultado de um problema localizado, mas que pode afetar grandes áreas a quilômetros de distância do local do sinistro.

Isto pode acontecer a qualquer momento, em qualquer país do planeta, não é, necessariamente, fruto de falta de planejamento ou investimento em infraestrutura por parte do governo, que comprometa a capacidade das empresas energéticas em suprir a plena oferta de eletricidade para o conjunto da sociedade.

O nome disso é racionamento.

O Brasil passou por isso em 2001/2002, talvez muitos jovens não se lembrem, porque eram pequeninas crianças e não eram capazes de formar juízo sobre o que aconteceu.

Mas nós fazemos questão de ajudar O Globo a dimensionar, honestamente, o significado de risco de racionamento, que naquela época ficou conhecido como apagão e que durou oito longos meses, penalizou os consumidores, o setor produtivo, reduziu o poder de compra dos salários e ceifou milhares de empregos.

Nosso esforço foi facilitado pela  dissertação de mestrado de César Bardelin apresentada a Escola Politécnica da USP em 2004, sob o título “Os efeitos do Racionamento de Energia Elétrica ocorrido no Brasil em 2001 e 2002 com ênfase no Consumo de Energia Elétrica”. Aqui reproduzimos trechos deste trabalho que apresentam, sem entrar no mérito político, mas respaldado cientificamente, alguns dos efeitos provocados pelo racionamento, complementado com algumas matérias sobre as duras medidas tomadas pelo governo FHC, que podem e devem refrescar a memória daqueles que provocaram este grave dano ao país e hoje posam de mensageiros da “modernidade” e da “eficiência administrativa”, vai vendo…

Falta de investimento, a causa do racionamento:

“A energia elétrica no Brasil entrou no foco das atenções com o racionamento de energia elétrica ocorrido de junho de 2001 a fevereiro de 2002, podendo o mesmo ser considerado um divisor de águas para o setor elétrico. O racionamento de energia elétrica não foi a primeira crise no setor elétrico, sendo que ocorreram anteriormente outras crises no Brasil e em outros países. A causa do déficit, que gerou o racionamento, foi que o crescimento do parque gerador brasileiro não acompanhou o crescimento do consumo da forma adequada. O racionamento produziu impacto no consumo de energia elétrica de forma singular, provocando redução no consumo brasileiro em torno de 24 %, influenciando até onde não houve racionamento e mantendo efeitos no consumo mesmo após o seu término.

(…) Com o eminente déficit na geração de energia elétrica, o governo federal admitiu a existência da crise de abastecimento de energia em março de 2001, sendo que em maio do mesmo ano, o Ministério das Minas e Energia (MME) chegou a admitir que seria necessário haver interrupções temporárias e regionais no fornecimento de energia elétrica. A ANEEL em conjunto com a secretaria nacional de energia apresentou um projeto que previa multa de ultrapassagem de meta de economia, com valor 15 vezes superior ao da tarifa, ficando três vezes maior em caso de reincidência (Jabur, 2001).”

Plano B e sofrimento maior para o Nordeste:

“1° – Decretação de feriados;

2° – Utilização do estoque de água do reservatório da usina hidrelétrica de Ilha

Solteira;

3° – Implantação de interrupção no fornecimento de energia elétrica, durante os

feriados, sábados e domingos, em horários definidos pelo ONS;

A equipe teve participação de Adriano Pires Rodrigues (UFRJ), Carlos Marcio V. Tahan (USP), James S.S.

Correa (Unifacs) e José Eduardo Tanure (Unifacs).

Esta medida impediria a navegação pelo canal de Pereira Barreto – SP.

4° – Interrupções no fornecimento de energia elétrica de forma diária, em períodos a

serem definidos.

O plano B foi aplicado apenas na região Nordeste, sendo aplicada apenas a 1° medida do plano.”

Câmara de Gestão do “apagão” e penalizações a sociedade:

“O presidente Fernando Henrique Cardoso constituiu, através de Medida Provisória (MP), em 10 de maio de 2001, a Câmara de Gestão da Crise de Energia (GCE), com a finalidade de administrar a crise de abastecimento de energia elétrica.

Nos meses de maio e junho de 2001, a GCE através de Resoluções, determinou o inicio e as regras básicas do racionamento de energia elétrica nas quais se destacaram:

-Definição de metas de racionamento para consumidores residenciais, comerciais e industriais de baixa tensão, com valor de 80% da média do consumo de energia elétrica, dos meses de maio, junho e julho de 2000, nos estados das regiões Sudeste, Centro Oeste e Nordeste. No estado de Mato Grosso do Sul, a meta de redução de consumo foi de 90% da média do mesmo período, diferenciando-se dos outros estados;

- Os consumidores comerciais e industriais, de média e alta tensão, tiveram definição de metas variando entre 75% e 85% do consumo médio, dos meses de maio, junho e julho de 2000, havendo variação de acordo com o ramo de atividade;

- Início da concessão de bônus e aplicação de penalidades previstas no racionamento a partir do faturamento das contas de energia elétrica de junho de 2001;

- Os consumidores com consumo mensal máximo de 100 kWh, ficaram isentos das penalidades do racionamento;

- Foi determinada a redução da tensão de fornecimento, alterando-se a tensão de saída dos circuitos primários de distribuição, das subestações de distribuição das concessionárias, exceto em caso de inviabilidade técnica.

De todos, no entanto, foi exigido o cumprimento das metas de redução de consumo, sob pena do pagamento da tarifa de ultrapassagem de meta.

Para casos em que o descumprimento da meta de consumo levassem ao corte temporário de fornecimento de energia elétrica, o aviso de desligamento era impresso na conta de energia elétrica, com a menção obrigatória de que o corte seria decorrente do racionamento e não de falha no serviço, afim do consumidor tomar ciência do motivo da falta de energia elétrica na localidade.

Os consumidores que passaram pela situação de interrupção em seu fornecimento tiveram de arcar com as despesas para o restabelecimento do fornecimento de energia elétrica.

O racionamento influenciou as decorações de natal, sendo que CGE limitou o tempo de utilização das iluminações natalinas para o período de 10 de dezembro de 2001 a 6 de janeiro de 2002, das 18:00 às 24:00 horas, com exceções às noites de natal e ano novo.”

Recompensa para as distribuidoras de energia, recém privatizadas:

“Para compensar as perdas das distribuidoras com o racionamento, foi estipulado um reajuste de tarifa extraordinário, que resultou em aumento de 2,9% para consumidores residenciais e 7,9% para os outros consumidores. Os consumidores considerados de baixa renda não foram atingidos por este aumento de tarifa.

Segundo a GCE, o racionamento gerou a seguinte contabilidade:

Bônus Pagos – R$ 832,94 milhões

Multas Recebidas – R$ 431,74 milhões

Custo Operacional – R$ 3,93 milhões

Projeção de Gasto do Tesouro – R$ 405,13 milhões

Sendo a diferença de valores arcada pelo tesouro nacional, que supriu o déficit financeiro existente (Economia de energia, 2002).”

Segurança pública comprometida com o racionamento:

“Influência do racionamento se estendeu à segurança, pois houve redução de iluminação pública determinada pelo racionamento e como já foi objeto de estudo, uma iluminação pública mais eficiente reduz o avanço da criminalidade”

Após o racionamento FHC viu sua razoável popularidade apagar-se e seu candidato, José Serra, ser derrotado por Lula por 61% a 39%
Após o racionamento FHC viu sua razoável popularidade apagar-se e seu candidato, José Serra, ser derrotado por Lula por 61% a 39% nas eleições de 2002.

Pelo apresentado até o momento já dá para ter uma clara ideia do que seja passar por um racionamento e poder fazer a distinção da robustez do atual ambiente do setor de eletricidade, em comparação com o caos gerado por um governo que não foi capaz de investir em infraestrutura, justamente por ter se curvado ao receituário imposto pelo FMI, em busca de socorro financeiro por ter quebrado a economia brasileira três vezes em oito anos.

Mas ainda tem mais.

À época, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) elaborou um estudo para dizer que o empresariado seria “obrigado” a demitir ou reduzir a massa salarial dos empregados, para poder cumprir com as metas de consumo estabelecidas pela CGE e aproveitaram o momento para sugerir uma política agressiva de flexibilização dos direitos trabalhistas ao governo:

“Ainda que virtualmente impossíveis de serem quantificados no momento atual, os impactos do racionamento de energia, embora diferenciados inter e intra-setorialmente, tendem a ser significativos e abrangentes quando tomados em conjunto, afetando praticamente todas as variáveis econômicas relevantes. Adicionalmente, os impactos não se limitam aos efeitos de primeira ordem. Impactos negativos se alimentam entre si aprofundando seus efeitos e colocando a economia num círculo vicioso. Assim, por exemplo, a estagnação ou queda da massa salarial que tende a decorrer do racionamento constitui, num segundo momento, uma limitação adicional ao crescimento do PIB, assim como o aumento da taxa de juros. A superação deste círculo vicioso será tão mais rápida quanto menor a magnitude dos impactos iniciais e quanto mais cedo forem equacionados os gargalos atuais no mercado de energia elétrica, iniciativas fundamentais para reverter favoravelmente as expectativas e com elas os investimentos em novas plantas e ampliação da produção.

No campo trabalhista, as empresas tudo farão para evitar reduzir salários e postos de trabalho, pois, além de sua responsabilidade social, a mão-de-obra qualificada constitui o seu mais precioso patrimônio. Mas, em muitos casos, podem ocorrer situações insustentáveis o que levará as empresas tentar negociar com os seus colaboradores formas adequadas para minimizar os prejuízos sociais.

Ocorre que a legislação trabalhista ora vigente no País, mesmo nas horas de emergência, dá pouco espaço para negociações mais efetivas.

Portanto, esta é a hora para se mudar essa legislação ultrapassada e criar espaços para entendimentos diretos que atendam aos interesses de empregados e empregadores na hora de crise.”

A vida do brasileiro foi impactada, profundamente, com medidas que mudaram costumes e revogaram facilidades conquistadas a partir de avanços tecnológicos básicos.

Redução do horário dos caixas eletrônicos:

“SÃO PAULO – A partir de hoje, o brasileiro terá de ir ao banco mais cedo. Como parte das medidas de racionamento de energia, entrará em vigor o novo horário de atendimento das agências bancárias que passarão a abrir uma hora mais cedo, às 9h e dos caixas eletrônicos que deixarão de ser 24 horas, operando somente das 6h às 22h….”

Diário de Pernambuco.

Iluminação pública drasticamente reduzida a noite:

“Recife começa a ficar às escuras

O racionamento começou ontem com o desligamento dos refletores que iluminam a Praia de Boa Viagem e de parte dos postes do Cais José Estelita

O recifense pode começar a se despedir de velhos hábitos noturnos como praticar atividades esportivas na areia da Praia de Boa Viagem, fazer caminhadas no Parque da Jaqueira ou namorar até tarde da noite em uma das 260 praças do Recife.

…As praças também terão sua iluminação comprometida. Até as 22h, 50% dos postes serão apagados e, após esse horário, apenas um ou dois pontos de luz permanecerão ligados. Ao total, 38 mil postes serão desligados em toda a cidade.”

Uol

Grandes eventos esportivos proibidos a noite:

“Racionamento condena esporte à sessão da tarde.

Euclides Scalco, coordenador do “ministério do apagão”, afirma que iluminação para jogos em estádios e ginásios é um gasto supérfluo

DA REPORTAGEM LOCAL.

E DA SUCURSAL DE BRASÍLIA.

O governo federal determinou ontem a suspensão de jogos de futebol e de outras atividades esportivas à noite na maior parte do Brasil por conta da crise energética que o país atravessa.
A medida praticamente põe abaixo o já tumultuado calendário do futebol para o segundo semestre, afetado por disputas comerciais entre a Globo e a Traffic e pelo acúmulo de competições como a Copa dos Campeões, o Brasileiro e a Copa Mercosul.
A resolução da Câmara de Gestão da Crise de Energia Elétrica, o chamado “ministério do apagão”, será publicada na edição de hoje do Diário Oficial da União.”

Folha de São Paulo.

Empresários reagiram com aumento de preços e mais desemprego:

“Em relação aos reajustes de preços, grande parte das empresas afirmaram que poderão aumentar os seus preços, sendo que 66% das indústrias disseram que deverão aumentar os seus preços devido à falta de energia; no comércio, cerca de 44% revelaram esta intenção de aumentar a sua margem de lucros, enquanto no setor de serviços, cerca de 40% decidiram subir os seus preços. Em média, 20% das empresas pesquisadas deverão ter uma queda entre 10% a 20% nas perspectivas de vendas nos próximos meses. Em relação ao desemprego, cerca de 68% das indústrias admitem demitir empregados por causa do racionamento, enquanto que 35% do setor comercial acreditam nessa possibilidade.”

Inverta.

Este texto demonstra, sem qualquer dúvidas, que os últimos alarmes que a imprensa conservadora faz, a seu gosto e conveniência, trazem em si fortes componentes políticos e frágeis elementos técnicos.

Afinal, sejamos justos , responsáveis e respeitosos com a inteligência do leitor: apagão não é racionamento, não é mesmo Leitão?

Para O Globo torcer contra, manipular e distorcer informação fazem de seu papel...
Para O Globo torcer contra, manipular e distorcer informação fazem parte de seu “papel”. Risco baixíssimo para o jornalão carioca significa dificuldade…

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