segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Muito mais mudança.


Na edição de julho do Pagina 13 analisamos como a tática eleitoral predominante no PT definiu as chapas estaduais, a partir da noção de que vale praticamente qualquer negócio para cumprir o objetivo principal de reeleger Dilma, sem perceber que muitos deles acabam atrapalhando, ao invés de ajudar.

A política de alianças, a timidez diante dos inimigos e a moderação programática têm demonstrado que, além de comprometer o necessário aprofundamento das mudanças no segundo mandato de Dilma, geram forte desgaste político e vem se demonstrando ineficazes até mesmo do ponto de vista eleitoral. A esse respeito, basta dizer que, nos estados, os partidos da chamada base aliada não são tão aliados assim na hora de pedir o voto em Dilma…

Cenários nacionais

Nas últimas semanas, a disputa presidencial sofreu uma reviravolta. A cobertura da morte trágica e repentina de Eduardo Campos (PSB) pela grande imprensa revelou a preocupação da burguesia: as candidaturas de oposição não estavam se viabilizando como alternativa capaz de impor uma derrota ao PT. Tratava-se, portanto, de aproveitar o luto para construir cenários mais promissores.

Escolhida pelo PSB como nova candidata, Marina Silva (Rede) não entrou para a disputa com o mero objetivo de forçar um segundo turno entre Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB) e reiterar, assim, a polarização entre os dois partidos que se enfrentam há vinte anos nas eleições presidenciais.

Certamente, há quem tenha estimulado sua candidatura com este fim, encerrando sua “colaboração” já no dia 5 de outubro. Mas não seria de todo surpreendente um cenário em que setores cada vez mais expressivos do grande capital apostassem prioritariamente em Marina como sua tábua de salvação, na esperança de recuperar o pleno controle sobre o Governo Federal.

As chances de Marina dependem da efetivação deste cenário, que por sua vez dependem de pelo menos duas variáveis principais: o desempenho eleitoral de Aécio e a capacidade da candidata de atrair setores da “política tradicional” sem perder o verniz da “nova política”.

Aécio tem demonstrado dificuldade em adotar uma tática que, ao mesmo tempo, o credencie entre os setores populares e mantenha o apoio das forças do mercado e da pequena burguesia conservadora. A eficácia do discurso contra o PT e o Governo Dilma sem falar com todas as letras o que pensam e pretendem fazer no Brasil, tem demonstrado limites na decisiva disputa do voto dos assalariados de baixa renda.

Marina, por sua vez, tem encontrado dificuldades em manter unida em torno de si a base que apoiava Eduardo Campos e os palanques que ele montou nos estados, gerando problemas para se movimentar em direção a setores da burguesia que dela desconfiam. Não será tarefa fácil conquistar essa confiança sem se afastar dos amplos setores médios e populares insatisfeitos com a política que até o momento enxergaram em sua candidatura uma alternativa ao voto branco/nulo ou o fim da indecisão.

Entretanto, os problemas alheios nem anulam o perigo real de retrocesso que representam, nem nos eximem de enfrentar nossas próprias contradições. Entre elas, uma das mais agudas é o tratamento dado para a tática eleitoral nos estados.

Como evoluiu o quadro eleitoral nos estados ao longo do período oficial de campanha?

Candidaturas petistas

O PT lançou candidatura própria ao governo de 17 unidades da federação: todas as das regiões sul, sudeste e centro-oeste, três no norte (AC, RO e RR) e três no nordeste (BA, CE e PI). Para o senado, o PT tem 14 candidaturas: duas na região sul (RS e SC), duas no sudeste (ES e SP), três no centro-oeste (DF, GO e MS), quatro no nordeste (PB, PE, RN e SE) e três no norte (AM, AP e PA).

Na disputa pelo governo, apenas quatro estão à frente nas pesquisas: Fernando Pimentel (MG), Delcídio Amaral (MS), Wellington Dias (PI) e Tião Viana (AC). Em segundo lugar, aparecem seis petistas: Tarso Genro (RS), Lúdio Cabral (MT), Agnelo Queiroz (PT), Rui (BA), Camilo (CE) e Ângela Portela (RR). Neste conjunto, o PT tem maiores chances de vitória no primeiro turno no AC e no PI. Por sua vez, no RS, MT, DF e RR a probabilidade é que a disputa seja levada ao segundo turno, enquanto na BA e no CE, trata-se de lutar para que o segundo turno aconteça.

Nos casos de Padilha (SP) e Lindberg (RJ), onde a disputa tem grande importância política e econômica nacional, apesar do terceiro e quarto lugares, respectivamente, há chances de garantir a presença no segundo turno. No RJ, o desafio é ultrapassar Pezão (PMDB) e Crivella (PRB), para o que a tática de polarização de classes tem sido importante. Já em SP, o desafio é simultaneamente forçar a realização de um segundo turno e ultrapassar Skaf (PMDB), mas a opção por adotar um discurso (supostamente) atraente aos setores médios tem mantido à distância o eleitorado tradicionalmente petista das periferias da região metropolitana.

Já na disputa pela vaga do Senado, o PT está na frente (e com folga) apenas com João Paulo (PE); Olívio Dutra (RS) e Eduardo Suplicy (SP) estão em empate técnico com os líderes; João Coser (ES) e Paulo Rocha (PA) estão em empate técnico com o segundo colocado; Fátima Bezerra (RN) e Geraldo Magela (DF) estão a 5 e 7 pontos dos líderes, respectivamente, com potencial para virar o quadro.

De imediato, podemos levantar as seguintes questões para debate. Por que nos estados onde o PT governa, com exceção do AC, não estamos liderando as pesquisas? Nos estados em que o PT já governou e hoje lidera as pesquisas (MS e PI), pesam mais os deméritos das atuais administrações, a memória positiva de nossos governos ou o desempenho pessoal dos candidatos? Qual tem sido o saldo político do PT no MA e no PA, onde prevaleceu a subordinação às oligarquias regionais? Qual tem sido o saldo político do partido no ES, onde toda a tática eleitoral se subordinou ao interesse pessoal de quem já afirmou publicamente que, eleito, não será um senador do PT?

Perspectivas

As pesquisas que basearam nossa análise foram realizadas pouco antes de iniciar a propaganda de rádio e TV, que pode ajudar o desempenho do partido nacionalmente. Entretanto, por mais valiosa que seja a contribuição do marketing, o desafio de eleger Dilma em condições de fazer um segundo mandato superior ao primeiro só será superado com uma nova estratégia que extraia todas as consequências práticas de um momento histórico que não dá margem para o tipo de alianças e conciliações de classe que marcaram a ação do partido e do governo até agora.

Porém, a tática eleitoral de grande parte das campanhas estaduais impede que “mais mudanças, mais futuro” sejam vislumbrados pelos eleitores que veem o PT ao lado ou mesmo subordinado a quem representa “menos mudanças, mais passado”.

Em um cenário de ofensiva da direita com a candidatura Marina, nosso único antídoto é mais nitidez programática e mais demarcação política e ideológica com os adversários. O mesmo vale para tarefa de eleger mais governadores, senadores e deputados do PT.

Já sabemos que para concretizar um segundo ciclo de desenvolvimento popular e democrático que aprofunde o combate às desigualdades será imprescindível realizar reformas estruturais e ampliar a escala e a qualidade dos serviços públicos e políticas universais. Porém, mais do que nunca, é preciso compreender que para continuar mudando, será necessário menos continuidade e mais mudança.



Rodrigo Cesar é militante do PT.

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