segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Processo contra Clésio Andrade corrói a campanha de Aécio Neves.

Aécio Neves, Antonio Anastasia e Clésio Andrade, em solenidade na sede do governo mineiro


O depoimento do ex-senador Clésio Andrade, outrora poderoso vice-governador de Minas Gerais, na gestão do tucano candidato à Presidência da República, Aécio Neves, aparenta ser a gota de vinagre que faltava na campanha do PSDB ao Planalto. Foi descoberta pela Polícia Civil do Distrito Federal, na Operação São Cristóvam, uma roubalheira de mais de R$ 20 milhões dos cofres públicos, aparentemente liderada por Andrade, que participava dos esforços para a condução de Neves ao Planalto, ainda que discretamente. A Polícia Federal, que participa das investigações, ainda não calculou em que medida ocorria esta participação, mas já havia um “racha no PSDB sobre a estratégia de campanha”, segundo o cientista político Antonio Lassance, em artigo publicado na véspera.
“Aécio acha que deve continuar atacando Marina. Menos do que fará contra Dilma, mas, ainda assim, está convicto de que precisa criticar Marina – por uma razão óbvia e ululante: ela é sua principal adversária quanto ao objetivo de ir para um segundo turno. FHC e o tucanato paulista insistem na mesma tecla que vêm batendo desde a morte de Eduardo Campos: preservar Marina para facilitar a aproximação com o PSDB. O problema foi que, na semana seguinte à morte de Campos, quando Marina foi proclamada candidata pelo PSB, o candidato tucano seguiu exatamente a recomendação de FHC, de José Serra e “tutti quanti“: fingiu que Marina não existia e continuou mirando apenas em Dilma”, afirma Lassance.
Ainda segundo o cientista político, “o resultado foi catastrófico. Aécio começou a ser “cristianizado” (abandonado pelos eleitores e por aliados). O tucano despencou nas intenções de voto e correu o risco de protagonizar a pior campanha do PSDB desde 1989. Arriscou passar pelo vexame de ficar em terceiro até mesmo em Minas Gerais. Em seu ouvido martelaram o avesso do slogan brizolista: ‘quem conhece o Aécio não vota no Aécio’. A reação veio em seguida. Aécio percebeu que, se não batesse em Marina, não se recuperaria. Deu certo”.
“Da experiência, aprendeu que, não só para FHC, como para toda a ala majoritária do PSDB – a paulista -, ele, Aécio, não passa de um detalhe, um pouco maior ou um pouco menor. Para o PSDB paulista, quanto mais dócil ele estiver, mais tranquila será a negociação com Marina. Quanto menor Aécio estiver em um primeiro turno, menos peso ele terá na barganha do segundo turno. Maior importância terá a pauliceia desvairada. Quanto menor ele ficar em 2014, mais remota será sua chance de rivalizar com Alckmin em 2018, na escolha do candidato preferencial do PSDB. Enfim, o que o atual candidato tucano percebe é que, para quem manda no PSDB, quanto menos Aécio, melhor”, acrescentou.
“Tomando duas referências históricas do PMDB que o candidato bem conhece, veremos se Aécio tem mais vocação para o Tancredo de 1984, que uniu o partido em torno de seu nome,
ou para o Ulisses de 1989, abandonado pelos próprios correligionários em pleno primeiro turno”, propõe Lassance.
Última gota
Estabelecido o caldeirão de ácido em que se debate a campanha tucana, a última gota caiu na noite passada, com o depoimento do ex-senador Clésio Andrade ao Ministério Público em Minas Gerais (MP/MG) sobre seu envolvimento no esquema de desvio de recursos do Sistema Social do Transporte (Sest) e do Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte (Senat). Havia um mandato de condução coercitiva de Clésio, que é ex-presidente da Confederação Nacional dos Transportes (CNT), mas ele não estava sendo encontrado para ser levado à delegacia. O delegado adjunto da Divisão Especial de Repressão ao Crime Organizado (Deco), Luís Fernando Cocito de Araújo, disse que o teor do depoimento do ex-senador será conhecido pelos investigadores, na Capital Federal, na semana que vem. A reportagem do Correio do Brasil tentou contato com a assessoria do MP/MG, neste sábado, mas não obteve o retorno das ligações.
– Existe uma clara divisão de tarefas e, ao que tudo indica, comandada por um ex-senador da República – afirmou o o delegado Luís Fernando Araújo, em coletiva de imprensa, referindo-se a Clésio Andrade.
Segundo o delegado, com o depoimento de Clésio Andrade fica faltando apenas um mandado de condução coercitiva para ser cumprido, sobre uma pessoa em Brasília. Não há nenhuma outra medida contra Andrade até o momento.
– Não existe nenhuma outra cautelar, a não ser essa de condução coercitiva. O que foi feito é uma solicitação de indisponibilidade de bens, que não foi apreciada ainda pelo Ministério Público e pelo Poder Judiciário. Aguardamos ainda a decisão sobre a medida para que esses bens não desapareçam – disse a autoridade policial.
Segundo a polícia, o desvio de dinheiro ocorreu por meio de pagamentos elevados de gratificações a integrantes da diretoria e de contratações fraudulentas de serviços de autônomos. Parte desses recursos podem ter seguido para campanhas eleitorais, segundo policiais que investigam o caso. A Controladoria-Geral da União (CGU) constatou que os rendimentos e patrimônios das integrantes da diretoria do Sest/Senat são incompatíveis com os salários pagos. A justificativa apresentada pela direção da CNT é que o elevado valor recebido anualmente pelas diretoras deve-se ao pagamento de gratificações. A outra forma de desvio são serviços de fachada, contratados por valores superfaturados a pessoas com ligações na diretoria. Em muitos casos, os serviços sequer foram prestados.
Na operação, a polícia cumpriu 21 mandados de busca e apreensão, em Brasília e Minas Gerais. Inicialmente, foi presa Maria Pantoja, diretora executiva do Sest/Senat entre 1995 e 2013, que hoje trabalha em outra instituição vinculada à CNT. Também foram detidas Ilmara Chaves, coordenadora de Administração; Anamary Socha, assessora especial da Diretoria Executiva; e Jardel Soares, coordenadora de Contabilidade. Conforme a Polícia Civil do Distrito Federal, entre 25 e 30 pessoas podem estar envolvidas no esquema. Na operação, foram apreendidos 16 veículos, entre eles alguns carros de luxo, e dois cofres.
O fato de Andrade ser um político influente no Estado de Aécio Neves, ainda que nas sombras, desde o seu envolvimento com o conhecido ‘mensalão tucano’ e a renúncia ao mandato no dia 15 de Julho último, leva o eleitor a desconfiar do discurso moralista tucano e, como lembrou o professor Antonio Lassance: “Quem diria? Depois de ter acusado a candidata Luciana Genro (PSOL) de ser ‘linha auxiliar’ do PT (‘uma ova’, respondeu Genro, na lata), quem ficou a meio caminho de se tornar linha auxiliar de alguém é o próprio Aécio”.

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