quinta-feira, 23 de outubro de 2014

A crise da água em São Paulo pode custar votos a Aécio?

A represa Jaguari, que integra o Sistema Cantareira
A represa Jaguari, que integra o Sistema Cantareira.


Publicado na DW.
 A grave crise hídrica que atinge o estado de São Paulo pode diminuir as intenções de voto para o tucano Aécio Neves. Em meio à disputa acirrada na reta final das eleições presidenciais, a falta de água deve abrir uma diferença favorável a Dilma Rousseff (PT) no maior colégio eleitoral do país, preveem especialistas.
“As torneiras estão secando, e isso tem se transformado em um grande constrangimento para o governador Geraldo Alckmin e para o PSDB”, avalia o cientista político Carlos Melo, do Insper.
Com a intenção de desgastar a imagem de Aécio e o favoritismo do PSDB em São Paulo, o PT tem usado a crise para criticar a forma de gestão tucana.
Em propaganda eleitoral veiculada nesta segunda-feira (20/10), Dilma diz que o governo paulista foi alertado em 2004 sobre a necessidade de a Sabesp (estatal responsável pela distribuição de água no estado) reduzir a dependência do Sistema Cantareira, mas “não fez nada”. O sistema de captação de água é responsável pelo abastecimento da região metropolitana de São Paulo.
“Esse é mais um exemplo do modelo de gestão tucana”, declarou a presidente. “Há meses que venho tentando ajudar, mas eles não demonstraram interesse em fazer obras com o nosso apoio”, completou, anunciando a liberação de 1,8 bilhões de reais para a construção do Sistema São Lourenço, que, segundo ela, resolveria o problema da falta de água no “médio prazo”.
Já Aécio joga a responsabilidade para o governo federal. O candidato pelo PSDB afirmou nesta segunda que “talvez tenha faltado uma parceria maior” do Planalto, e criticou a atuação da Agência Nacional das Águas, órgão federal que regula o gerenciamento dos recursos hídricos no país.
“Vi essa questão da água ser muito discutida na campanha de São Paulo e nós vimos o resultado”, afirmou, em referência à reeleição de Alckmin para o governo do Estado.
Para o cientista político Marco Antônio Carvalho Teixeira, da FGV-SP, a crise hídrica pode ser um fator de decisão do voto em um estado em que o PT “vai muito mal”.
“O governador vem adiando o enfrentamento do problema. Esse fato não tinha provocado muitas consequências entre os eleitores, porque, até então, não estava faltando água nas torneiras”, analisa. “A impressão que eu tenho é que Alckmin está esperando chegar o dia 26 [segundo turno] para tomar um posicionamento.”
Argumentos 
De acordo com a Constituição, a gestão dos recursos hídricos disponíveis no território de um estado é de responsabilidade do governo estadual.
Teixeira avalia que Aécio erra estrategicamente ao usar o argumento de houve falha do governo federal. “A maneira escolhida por ele foi inesperada, porque, do ponto de vista prático, o governo federal tem pouco a fazer, a não ser empréstimos ou aporte de recursos. A grande responsabilidade nessa questão é dos estados”, argumenta.
Carlos Melo, do Insper, ressalta que esta é a primeira vez, desde que a crise foi anunciada, que se tenta responsabilizar o Planalto.
“Não adianta agora Aécio jogar a questão da água para o governo federal. O governador Geraldo Alckmin não disse isso em momento algum, pelo contrário, chamou para si a responsabilidade até o último momento. É no mínimo incoerente”, analisa.
A escassez de água em São Paulo deve ser um dos pontos principais do último debate presidencial, que será realizado nesta sexta-feira (24/10) pela TV Globo, a dois dias do segundo turno.
Uma pesquisa do Instituto Datafolha divulgada nesta segunda mostra que 60% dos moradores da cidade de São Paulo tiveram algum problema com interrupção do fornecimento de água nos últimos 30 dias.
Para Melo, é inevitável que Dilma se refira ao problema. “Aécio vai dar uma resposta e tentar puxar outros pontos da agenda política”, diz.
Teixeira destaca que o PSDB foi eleito para mais quatro anos em São Paulo antes que o problema se agravasse e os eleitores fossem diretamente afetados. “Assim como Aécio explorou até o limite o caso de corrupção na Petrobras, a crise da água surge como uma janela de oportunidades para Dilma. É a bala de prata que ela tem”, opina o especialista.
Nesta terça-feira (21/10), o presidente da Agência Nacional das Águas, Vicente Andreu Guillo, criticou o governo paulista. Segundo ele, a população não está sendo alertada corretamente sobre a gravidade do problema.
“Não há obras em curso que possam atender a demanda no curto prazo. Se a crise se acentuar, não haverá alternativa. Poderemos assistir a um colapso nunca antes visto na região metropolitana de São Paulo”, afirmou em debate sobre a crise da água na Assembleia Legislativa do estado.
Seca
Adolpho José Melphi, professor sênior do Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da Universidade de São Paulo, atribui a falta de água em regiões do Rio de Janeiro e do Triângulo mineiro e em São Paulo à escassez de chuvas.
“Desde que o sistema foi criado, há 30 anos, nunca tivemos uma falta praticamente total de chuva. Não sou pessimista. Não acho que vai acabar a água em São Paulo. As autoridades têm que correr com a conclusão das obras que estão em andamento e a população, economizar”, afirmou.
Nesta semana, o Senado deve pedir informações ao Ministério do Meio Ambiente sobre a situação dos reservatórios de água do rio São Francisco, que vem passando por uma estiagem. Em setembro, foi anunciado que a nascente do rio em Minas Gerais havia secado.
Segundo o senador Kaká Andrade (PDT/SE), o governo federal tem alterado a vazão de usinas hidrelétricas para diminuir o risco de racionamento de energia elétrica, o que tem comprometido o abastecimento.

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Alckmin manda recado no WhatsApp sobre a falta d`água em São Paulo.

Recado do governador Geraldo Alckmin sobre a crise hídrica.


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A estrada construida por Aécio nos arredores da fazenda de Roberto Marinho em MG.

A estrada perto da fazenda Sertãozinho

A rodovia em Minas: desvio providencial.

Em 2001, quando era governador de Minas Gerais, Itamar Franco recebeu a sugestão de asfaltar uma antiga estrada no interior do estado, que liga os municípios de Botelhos, na região de Poços de Caldas, a Alfenas. A obra foi à licitação, mas, depois de concluído o processo, Itamar optou por não fazer a pavimentação, pois, segundo disse ao então prefeito de Poços de Caldas, entendia que não era prioridade para Minas.
Seu sucessor, Aécio Neves, retomou o processo e fez a obra. No percurso entre as duas cidades, existem muitas propriedades rurais, mas nenhuma dela é maior do que uma fazenda que produz café de qualidade e tem uma grande criação de porcos, de onde saem todas as semanas caminhões carregados de carne suína em direção ao frigorífico de Poços de Caldas.
A propriedade se chama Sertãozinho, mas seu proprietário não gosta de publicidade. Em 2012, a revista Globo Rural publicou o resultado do 13º Concurso de Qualidade Cafés do Brasil — “Cup of Excellence Early Havest” –, realizado em Jacarezinho, no Paraná. A notícia destaca os três primeiros colocados, mas dá o nome da fazenda e do proprietário só dos dois primeiros. O terceiro tem apenas o nome da fazenda.
A propriedade foi comprada por Roberto Marinho há cerca de 15 anos e hoje quem manda ali é seu filho mais velho, Roberto Irineu Marinho.
A estrada é antiga. “Eu tenho 56 anos e sempre usei essa estrada para ir a Divisa Nova [município entre Botelhos e Alfenas]”, diz José Carlos Rocha, corretor em Botelhos. Era de terra, mas bem conservada pelas prefeituras de Divisa Nova e Botelhos. Depois que recebeu o asfalto, os moradores notaram mudança no traçado.
A estrada segue como antigamente até a entrada da Fazenda Sertãozinho, onde ela faz um desvio à esquerda e vai num percurso sinuoso por três quilômetros até um campo de futebol, onde tem outra porteira e termina a propriedade da família Marinho.
“Todas as outras propriedades são cortadas pela estrada municipal, menos a Sertãozinho”, conta Paulo Thadeu, ex-prefeito de Poços de Caldas e médico veterinário que trabalhou na fazenda, quando era de Homero Souza e Silva, sócio de Walter Moreira Salles no antigo Unibanco.
Homero vendeu a propriedade depois que bateu o carro entre Poços de Caldas e Botelhos. Dirigia o próprio carro e estava na companhia da esposa, que morreu. Desgostoso, colocou a propriedade à venda, comprada por Roberto Marinho.
“O Roberto Marinho ia sempre à fazenda, gostava muito dali. Eu mesmo vi ele algumas vezes na festa de São Pedro”, diz uma mulher que trabalhou na propriedade e guarda o registro em carteira. A tradição se mantém. Todos os anos a Sertãozinho realiza a festa junina.
Funcionários contam que Roberto Marinho tinha especial predileção por um cinematográfico jequitibá rosa conservado no coração da lavoura. De longe é possível ver a árvore, no meio de um recorte do cafezal em formato de diamante.
Eu fui até a fazenda, e usei a antiga estrada, que tem, hoje, uma porteira, mas que permanece aberta (não poderia ser diferente, já que se trata de estrada pública).
Logo na entrada, uma placa de fundo verde, com o desenho estilizado do jequitibá rosa e a frase: “Fazenda Sertãozinho – Sejam bem-vindos”. Entrei e fui até a casa do administrador, uma construção com varanda e garagem onde estavam três veículos, um modelo compacto, uma moto e uma camionete, todas com adesivos “Aécio Presidente”. Quem me atendeu foi seu sogro, que estava na varanda. Pedi para falar com o administrador. Primeiro veio o filho pré-adolescente, depois um homem parrudo, de camisa azul e bermuda.
Quando disse que era jornalista e estava fazendo uma reportagem sobre o desvio da estrada, o administrador se enfureceu: “Foi o PT que mandou você aqui?” Expliquei que o desvio de uma estrada, em benefício de particulares, é assunto de interesse público.
A entrada da Sertãozinho
A entrada da Sertãozinho.
“Faz isso não, faz isso não”, disse, andando de um lado para o outro da varanda, ele no alto, eu num ponto mais baixo, separados por alguns degraus. “Isso aqui é um projeto social”. Como assim, projeto social? É uma fundação? Uma ONG? “Não. É que, se a Sertãozinho fechar, muita gente vai ficar desempregada em Botelhos”. E quantos empregos a fazenda dá? “Duzentos e quarenta”.
José Renato não escondia o nervosismo. “Gozado que vocês do PT fazem esse tipo de entrevista só no domingo.” Eu não sou do PT, disse a ele e pedi para gravarmos. José Renato Gonçalves Dias, o administrador, não quis gravação. Mas tentou dar algumas explicações.
“Tinha duas estradas, mas decidiram asfaltar aquela outra. Acho que é porque aqui moram algumas famílias, e a estrada asfaltada é um risco de acidente”. Mas a estrada municipal não é esta daqui? “As duas são”.
Os moradores da região negam que existisse outra estrada além da que corta a Sertãozinho. “Não existia outra estrada coisa nenhuma, era cafezal, e a divisa da fazenda Sertãozinho”, diz o ex-prefeito de Poços de Caldas.
Como veterinário, Paulo Thadeu passava sempre por ali. Não atendia apenas a Sertãozinho, mas outras propriedades, e sua então namorada, hoje esposa, morava num bairro conhecido como São Gonçalo, alguns quilômetros adiante da fazenda da família Marinho. “A estrada corta todas as fazendas, onde também moram pessoas, e a colônia de moradores da Sertãozinho não fica perto da estrada”.
Deixei na mão do administrador uma folha de papel com meu nome, telefone e e-mail, e pedi para entrasse em contato, caso quisesse dar mais informações sobre o desvio da estrada.
Retomei o caminho de Alfenas, pela antiga estrada municipal, que corta a fazenda. Estava fotografando um bambuzal que cobre a estrada e lhe dá a bela forma de um túnel quando a camionete, em alta velocidade, parou atrás do meu carro e José Renato correu na minha direção: “Você não vai fotografar aqui!”, gritou. Mas a estrada é pública, estou no caminho de Alfenas.
Entrei no meu carro e segui pela estrada municipal até o lado de fora da porteira, que estava aberta, onde tem um campo de futebol e o asfalto retoma o antigo traçado, fora dos domínios da Sertãozinho.
O administrador continuou parado 200 metros distante, com a camionete na diagonal, e quando comecei a registrar com a câmera sua presença intimidadora, ele saiu, na direção da casa. Permaneci na estrada municipal, mas do lado de fora da porteira aberta, e alguns minutos depois chegou um carro com quatro homens. Todos pararam onde a camionete do administrador estava. Tinham o tipo físico de seguranças.
“A Globo desviou a estrada porque ela pode, uai”, diz, rindo, um homem sentado no banco da praça central de Botelhos. O homem, de boné e camisa aberta, trabalhou na Sertãozinho, no retiro de leite, quando a Sertãozinho produzia de 3 a 4 mil litros por dia. Hoje, além dos porcos e do café, tem gado de corte.
O ex-vereador Olair Donizete Figueiredo, do PDT, que foi presidente da Câmara Municipal, diz que gostou do asfalto, apesar do desvio que aumentou em 3 quilômetros a distância até o município de Divisa Nova, mas critica o governo de Aécio Neves pela ausência de outra obra na região e da falta de atenção com os professores.
“Ele fez o asfalto por causa da influência da Globo, porque ia beneficiar ele. E aqui foi só, não fez mais nada”, afirmou o ex-presidente da Câmara.
Depois de pavimentar a pista de um aeroporto na antiga fazenda do tio, que tinha a posse da chave, desviar a rede de alta tensão para construir um haras na própria fazenda, de onde retirou o tráfego com a abertura de outra estrada, descobre-se agora que o governo de Aécio não foi generoso apenas com a própria família. Botelhos é testemunha de um jeito particular de administrar.
Paulo Thadeu, ex-prefeito de Poços de Caldas: "Todas as outras propriedades são cortadas pela estrada municipal"
Paulo Thadeu, ex-prefeito de Poços de Caldas: “Todas as outras propriedades são cortadas pela estrada municipal”


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¨Não confio em homem que desrespeita mulher ¨nossa colunista explica sua opção política.


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As eleições para presidente têm sido assunto desde o início da campanha (e ainda mais após o início da corrida pelo segundo turno) – e que bom isso. Apesar das queixas de alguns – “nossa, que chato todo mundo falando de política o tempo inteiro!” – acho que a repetição incansável do assunto deve ser motivo de comemoração. Afinal, noutros tempos – e ainda hoje, noutros países – o assunto fora terminantemente proibido. Então, que bom que podemos discutir abertamente o assunto, das redes sociais às mesas de bar, em que pese a blindagem midiática que insiste em se impor.
Por isso mesmo – entre outros infindáveis motivos que poderiam, sozinhos, compor este artigo – eu insisto em escrever sobre, e viva a liberdade de expressão! Compreenda que – apesar de quem quer que seja poder livremente defender a que partido julgar merecedor – isto não se trata de defesa partidária ou politicagem barata: este texto tem o condão de alertar as pessoas acerca de um aspecto crucial do presidenciável Aécio Neves: o visível machismo e misoginia. Como aspirante a militante do feminismo, sinto-me na obrigação de comentar.
O candidato escancarou a sua inegável covardia e desrespeito às mulheres na última campanha.
Notória a sua incapacidade em demonstrar o menor respeito por uma mulher – que além de mulher mais velha que ele, é presidente deste país – em vários momentos dos vergonhosos debates presidenciais dos quais participou.
Todas as vezes em que se sentia acuado com alguma colocação da presidente – as quais, esclareça-se, não são objeto deste texto – reagia com cinismo repugnante e agressividade assustadora: desde o dedo na cara da Luciana Genro, aos insultos em alto e bom som contra a presidente. “Leviana e mentirosa, candidata!”
Discussões políticas à parte, eu, particularmente, não consigo confiar em um homem – nem mesmo enquanto homem apenas, quem dirá enquanto presidenciável – que levanta, desrespeitosa e desnecessariamente, a voz a uma mulher mais velha e, independente de divergências políticas, digna de respeito.
Desfrutando da minha inegável liberdade de expressão, afirmo: Aécio é a personificação da misoginia, do desrespeito à mulher e da promoção da desigualdade de gêneros. A personificação da ignorância acerca das necessidades do gênero – e, pior ainda, uma ignorância proveniente do desinteresse. Não consigo vislumbrar – e não consigo por que o histórico do candidato não me permite – uma só possibilidade de Aécio Neves colocar-se enquanto defensor das causas feministas.
Por isso minha alma feminista se debate todas as vezes em que vejo uma mulher afirmar-se militante PSDBista. Uma mulher que pode pagar o alto preço de ser esquecida e negligenciada pelas leis de seu país durante quatro anos.
Que o movimento feminista não esteja – como, acredito piamente, não está – ao lado de um homem que não consegue apresentar uma só proposta em favor da mulher e desrespeita a presidente do país e toda mulher que ouse contrariá-lo. E que o contrariemos, e provemos, com a força feminina que ele menospreza, que os tempos são outros. Não somos levianas. Sabemos o que queremos e sabemos, mais ainda, o que não queremos: um playboy machista no Palácio do Planalto.

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A ¨podridão ¨ segundo FHC, o demagogo.

Indignado
Indignado
Passou despercebida, em meio ao alarido eleitoral, uma declaração de apoio do jurista Eros Grau, ex-STF, a Aécio.
Grau, aos 74 anos, é um dos signatários de um manifesto chamado “Esquerda democrática com Aécio Neves”.
Ao jornalista Fernando Rodrigues, da Folha, ele disse que será um “soldado” num eventual governo Aécio. Sem nenhum cargo, afirma, por razões etárias.
“É uma coisa muito engraçada. A maioria das pessoas acha que pelo fato de o presidente Lula ter indicado a mim, ao Joaquim Barbosa e ao Cezar Peluso ao Supremo, nós seríamos ligado ao PT. Mas nenhum de nós é. Eu sempre fui ligado ao PSDB e minha origem lá atrás é sabida”, diz Eros.
É uma frase curta, simples – mas sobre a qual os historiadores terão que se debruçar quando escreverem alguma biografia de Lula.
Lula, o Rei do Aparelhamento segundo seus opositores, nomeou então para o STF três juízes que nada tinham a ver com o PT, conforme palavras de um deles.
Um pouco mais que isso. Eros era, como ele mesmo conta, sabidamente ligado ao PSDB, nêmesis do PT.
Agora compare a indicação de Eros, fiquemos nele, com uma de FHC: Gilmar Mendes.
Num perfil de Gilmar Mendes e sua mulher, alguns anos atrás, a colunista da Folha Eliane Tucanhede lembrou – em tom quase de congratulação – a alma tucana do juiz.
Este foi o padrão FHC de nomeações no STF. Em seus anos no STF, Gilmar Mendes não decepcionou quem o colocou lá. Ele tem se comportado muito mais como um militante do PSDB do que como um juiz propriamente dito.
Em pleno Mensalão, Gilmar não se embaraçou ao ir, festivo, ao lançamento de um livro de Reinaldo Azevedo sobre os “petralhas”.
Abraçou o autor, posou para fotos – fez enfim tudo aquilo que um juiz não deveria fazer, em nome da imparcialidade.
Recentemente, no STF, vetou um direito de resposta do PT na Veja e desfez  assim uma decisão unânime do TSE sob a alegação de que os acusados deveriam antes provar sua inocência.
Gilmar foi e é um soldado de FHC, o mesmo FHC que conclamou as multidões a comparecer a uma manifestação contra essa “podridão” para a qual nem ele próprio confirmou participação.
No marketing, você logo aprende que um autoelogio tem determinado valor. Um elogio partido de outra pessoa vale muito mais. Se esta pessoa está do outro lado que não o seu, como é o caso de Eros Grau em relação a Lula, o valor é ainda maior.
Quanto a FHC, há uma palavra exata para políticos que falam uma coisa e fazem outra.
Demagogo.

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Em tempos de paranóia anticomunista, o PSDB tenta esconder a biografia de Aloysio Nunes.

Eles
Eles
Uma das acusações preferidas de aecistas cavernistas a Dilma Rousseff é a de que se trata de uma “ex-terrorista, assaltante de banco e subversiva”. Uma vez comunista, sempre comunista.
Se antes esse era um discurso de bolsonaros doentes, ganhou um estatuto mainstream. O senador Álvaro Dias, por exemplo, do PSDB, conseguiu enxergar uma bandeira cubana no clipe da Copa do Mundo. Aécio Neves, mesmo, falou para a adversária no debate do SBT que não continuaria dando dinheiro para “as ditaduras que você apoia”.
É claro que eles não acreditam realmente nessa conversa mole da Guerra Fria. Mas, como tem ressonância entre milhares de burros, eles vão falando.
Com essa radicalização, é sintomático que a chapa de Aécio faça força para esconder seu próprio “ex-terrorista”, o vice Aloysio Nunes Ferreira.
No início do mês, o TSE multou Aécio em 40 mil reais por oito inserções na TV em que o nome de Aloysio não aparecia. “Revela-se impossível que o candidato não teve ciência do conteúdo da publicidade veiculada nas inserções impugnadas, tendo em vista que, repise-se, fora apresentada por ele próprio, muito próximo à realização do pleito”, escreveu o ministro Tarcisio Vieira de Carvalho Neto.
No site oficial da candidatura, a biografia de Aloysio é sucinta. “Com 18 anos, entra no movimento estudantil e inicia sua militância política nos momentos que precederam o golpe de 64. Filia-se ao MDB em 1966, logo após sua fundação. Presidiu o Centro Acadêmico XI de Agosto, da Faculdade de Direito da USP, em 1967. É perseguido pelo governo militar e parte para o exílio na França, onde vive por 11 anos. Mesmo distante, denuncia as violações aos direitos humanos praticados contra os opositores da ditadura brasileira. Com a anistia, voltou ao Brasil e participou da fundação do PMDB”.
É uma edição marota. A face de Aloysio que os aecistas gostam de ver é a do autor do projeto de lei pela redução da maioridade penal, a do sujeito que xinga ciclovias etc. A que não gostariam de ver, se a conhecessem melhor, é a que o aproxima da Dilma do fim dos anos 60, começo dos 70, devidamente renegada (o que, de resto, é de seu absoluto direito).
Aloysio militou na luta armada pela Ação Libertadora Nacional. Dilma era da Vanguarda Armada Revolucionária Palmares (VAR-Palmares).
Ele conheceu seus companheiros quando presidiu o Centro Acadêmico XI de Agosto. Era filiado ao clandestino PCB.
A ALN era liderada por Carlos Marighella e Joaquim Câmara Ferreira. “Ele [Marighella] tinha uma confiança muito grande no Aloysio. Era muito bem quisto por ele. Falava muito bem do senador, que já era muito culto”, disse a ex-militante Iara Xavier Pereira à Carta Capital.
“Mateus” — seu nome de guerra mais usado — era motorista do chefe. Em 1968, participou do assalto ao trem pagador da extinta estrada de ferro Santos-Jundiaí. Aloysio teria dirigido o carro da fuga, levando malotes de dinheiro. Também tomou parte do assalto ao carro-pagador da Massey-Ferguson na praça Benedito Calixto, em Pinheiros.
Foi mandado a Paris com um passaporte falso. Condenado pela Lei de Segurança Nacional, virou representante da ALN no exterior. Fez um acordo com a Argélia para treinar brasileiros na guerrilha.
Em 1979, assinada a Anistia, voltou ao Brasil. Desfiliou-se do PCB e entrou no MDB e depois no PMDB, onde começou uma carreira bem sucedida. Foi deputado estadual de 1983 a 1991 em SP, e vice-governador na gestão de Luiz Antônio Fleury Filho.
Em 1997, filiou-se ao PSDB. No governo FHC, foi ministro da Justiça e secretário geral da presidência. Quando Serra era governador, Aloysio ocupou o cargo de chefe da Casa Civil. Em 2010, elegeu-se senador com o recorde de 11 milhões de votos.
Aloysio é natural de São José do Rio Preto, interior do estado. Há uma estrada com seu nome na cidade (SJR-419). Ele é dono de uma fazenda na vizinha Pontalinda. Em maio de 2009, a polícia militar encontrou um tambor de leite com 19 quilos de pasta base de cocaína, 515 gramas de crack e 13 cartuchos para pistola numa área isolada da propriedade.
“O doutor Aloysio é vítima”, disse o delegado Antônio Mestre Júnior, chefe da Polícia Civil na área de São José do Rio Preto, à Folha. “Os criminosos escolheram a propriedade pela sua localização geográfica e facilidade de esconderam a droga ali”. No “Diário”, publicação de Rio Preto e arredores, a assessoria do então secretário de Serra declarou que “foi o namorado da filha de seu caseiro, um policial militar, que suspeitou da movimentação e acionou a polícia”. A droga, incinerada de acordo com o delegado Mestrinho, valia 800 mil reais. A história morreu aí.
“Fui mais longe do que ela [Dilma]. Mas isso não me impede de hoje ter uma visão absolutamente crítica, não só da tática, mas da concepção desses movimentos”, diz ele sobre seu passado. “Atacávamos a ditadura por uma via que não era democrática.”
Na noite de ontem, um ato pró-Aécio na capital paulista reuniu mil pessoas gritando “Ai que maravilha, a Dilma vai pra Cuba e o Aécio pra Brasília” e “Dilma terrorista”. Aloysio não foi visto.

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