sexta-feira, 17 de outubro de 2014

O real debate sobre o que está em jogo nessas eleições.



Uma imagem que contextualiza o que está em disputa nessas eleições. O futuro é a melhor construção do presente e as políticas vencedoras vão definir a paisagem que vai prevalecer pelos próximos anos.

Os momentos decisivos das eleições presidenciais se aproximam e não é possível não notar e ter que mencionar que há uma disputa desigual, injusta, injuriosa e manipulada ocorrendo bem a frente dos olhos dos brasileiros.

Retirando a histeria contra a corrupção, criada, exclusivamente, para beneficiar Aécio Neves, nada está sendo discutido na mídia e no dia a dia dos eleitores sobre que país queremos viver, qual nação queremos construir.
As proposições foram escanteadas para evitar que o povo brasileiro possa pensar sobre este assunto, que é [ou deveria ser] o tema central de qualquer eleição.
Nós aqui, fazemos alguns questionamentos, que consideramos vitais para o futuro próximo deste país.
Teremos um governo desconstrutor da integração latino americana e das relações internacionais sul-sul, associação de grandes nações emergentes do hemisfério, do qual o Brasil é um dos organizadores? Aécio defende isto em seu programa, pois seus interlocutores e apoiadores pregam a submissão a acordos bilaterais, de preferência com os Estados Unidos e a União Européia, jurando de morte a Unasul, o Brics e o Mercosul.
Avalizaremos uma política de redução de crédito e de política recessivas em nome de um combate a inflação, mas retirando do mercado milhões de famílias com poder de compra da casa própria, o acesso a universidade e ao emprego farto? Armínio Fraga, indicado para o ministério da Fazenda, tem deixado bastante claro que o receituário econômico que limpou as reservas internacionais do país no início dos anos 2000, desequilibrou as contas públicas e fez explodir o desemprego e a violência urbana, é o remédio que o PSDB prescreve para “curar” um país que tem tido inflação dentro da meta nos últimos onze anos.
Permitiremos que os investimentos em saúde sejam drasticamente reduzidos e o programa Mais Médicos seja, inevitavelmente, extinto? Neste ponto percebe-se uma dubiedade característica de quem não apresenta seriedade em suas propostas: na propaganda eleitoral e nos debates, Aécio promete manter o programa Mais Médicos e aplicar o “dinheiro que for necessário” para melhorar a saúde. Mas seus integrantes deixam escapar que a verdade é bem diferente. Se o governo “gasta demais”, como costumam afirmar, de onde retirariam este “excedente” do orçamento? Pode ser da saúde, da educação ou dos investimentos em infraestrutura.
Aceitaremos um discurso de que está tudo errado na educação, mesmo o governo ter conseguido avançar no financiamento aos estudantes de universidades privadas, com o Fies e o Prouni, contra qual o PSDB postou-se contra a sua criação? É preciso relembrar isto! O número de estudante matriculados no ensino superior dobrou em apenas 11 anos. Por outro lado, o PSDB tem começado a levantar uma preocupante questão, enterrada nos governos Lula e Dilma, a cobrança de mensalidade nas universidades públicas federais.
Concordaremos com um discurso que tergiversa com a questão da fome e da miséria neste país, que condena o que chamam de assistencialismo eleitoreiro, mas prometem manter o Bolsa Família, considerado o maior programa de transferência de renda do planeta? Aécio tem prometido manter os programas sociais, mas quando afirmam que precisam ser feitos cortes profundos no orçamento do governo e tomar “medidas impopulares” de primeira hora, fica difícil acreditar que o Bolsa Família seja preservado, tal como é hoje. As experiencias políticas recomendam cautela e seriedade em um tema tão delicado, que é a segurança alimentar de dezenas de milhões de brasileiros. Pois uma meia verdade pode estar sendo dita, com desfaçatez maldosa: mantém-se um programa vitorioso, mas descaracterizado e reduzido, fechando a entrada de novos beneficiários, congelando os reajustes dos valores concedidos e dificultando a permanência daqueles que já fazem parte do programa. Como é dito, superficialmente, pelo comando da campanha tucana, é este o cenário mais provável para o destino do Bolsa Família, sob uma gestão nitidamente neoliberal.
Romperemos o diálogo com os movimentos sociais e daremos carta branca para um grupo político que não preza discutir questões sensíveis para a sociedade, mas tão somente reprimir e criminalizar seus opositores? Os nefastos exemplos da desocupação violenta de moradores da comunidade de Pinherinho e do excesso de violência para combater a greve dos estudantes da USP, são dois exemplos emblemáticos desta postura autoritária, que constituem o modo operante do PSDB quando governam. A transformação de oprimidos em opressores é uma velha tática politica, construída milimetricamente, para ganhar a opinião pública e destruir valores defendidos pela sociedade organizada.
Assistiremos o país entregar suas riquezas, assim como foi feito com a Vale do Rio Doce, e deixar que alterem o modelo de partilha do pré-sal e que a Petrobrás seja, inevitavelmente, ferida de morte com a perda de ativos que somam centenas de bilhões de dólares? Aécio já manifestou, diversas vezes, que o modelo atual de exploração do pré-sal afasta “investimentos internacionais” e que a Petrobrás não é capaz de dar conta de tamanha demanda, talvez a Petrobrax não fosse… Se o pré-sal não for nosso, não tiver a participação majoritária da Petrobrás, os recursos garantidos pela lei dos Royalties para a educação e saúde estarão sendo transferidos para o bolso do capital estrangeiro.
O que está em jogo é a soberania de um povo e a construção, ou desconstrução, de uma nação.
É evidente que existem dois projetos de país em disputa, muito distintos, na verdade opostos.
Mas o muro editorial sobre o mote da corrupção, erguido, em tempo e local apropriados para beneficiar Aécio e prejudicar Dilma, impede que a pauta central deste pleito seja considerada por seus maiores interessados: o povo brasileiro.
A corrupção é uma chaga que acomete o Brasil desde que os portugueses aqui chegaram, não foi criada por um governo ou partido.
O país em que vivemos hoje, em 2014, é o mesmo que vivíamos em 2002?
Econômica e socialmente não é, absolutamente. Os ganhos sociais foram muitos, não deixando de reconhecer que a saúde e a educação precisam continuar melhorando, porque o deficit herdado nestas áreas foi abissal.
A agenda que a grande mídia e o PSDB combinam para ganhar as eleições e tentar induzir o eleitorado a acreditar que vivíamos na Finlândia, durante o governo FHC, é massivamente explorada. O cidadão comum precisa crer que vivia em um país com poucos casos de corrupção e os poucos ocorridos, eram exemplarmente punidos.
Aí veio Lula e o PT e nos trouxe para o Brasil, onde, para as elites, o povo não presta e tem o governo que merece…
Este discurso só se mantém de pé porque o cerco midiático é poderoso e desigual.
O mensalão já julgado, com diversos erros e exageros observados por importantes juristas, é considerado o “maior escândalo de corrupção de nossa história” e é citado, desde 2005, diariamente e sem tréguas, pela mídia.
Já a Lista de Furnas, Mensalão Tucano e os recentes malfeitos do Cachoeiroduto e do Trensalão Tucano, são ignorados pela cobertura da imprensa hegemônica, principalmente por parte da Globo, deliberadamente e na medida exata, para passar a opinião pública que aqueles que bradam contra a corrupção, nada possuem em suas fichas que atentem contra suas reputações e práticas políticas. Vendem uma parca ideia de que tucanos e seus aliados, são figuras limpas e honestas, materializações da probidade administrativa.
A Globo foi capaz de ignorar por dois dias em seu principal telejornal, o Jornal Nacional, a apreensão de um helicóptero com 500kg de cocaína pela Polícia Federal, em uma fazenda de um senador mineiro, Zezé Perrella, aliado de Aécio. A aeronave era conduzida por um piloto pago pela Assembléia Legislativa de Minas Gerais, com recursos do gabinete do filho do senador Perrella, o deputado estadual Gustavo Perrella.
Em um debate minimamente equilibrado e imparcial, o discurso da corrupção não beneficiaria a nenhum dos dois grupos que disputam o segundo turno das eleições, porque integrantes de seus partidos foram flagrados ou tiveram seus nomes envolvidos em escândalos recentes.
Mas a mídia, com a Globo a frente desta tropa, apaga da memória coletiva tudo aquilo que possa macular a imagem de Aécio e do PSDB, ao mesmo tempo em que carregas nas letras contra Dilma e o PT, mesmo quando são lançadas acusações, sem provas, por indivíduos presos por mau uso dos cargos que lhes foram confiados.
Mas não deveria ser este tema, o da corrupção, o centro do debate. Isto é um assunto para as instituições policiais e investigativas e para o judiciário. Exceto quando acontece a apresentação de evidencias que comprovem a participação, direta, dos candidatos.
Aquilo que, de fato importa e está em jogo, não tem espaço para ser mostrado ao povo brasileiro que, tem sido ludibriado, intencionalmente, para escolher um mote de campanha, por sinal muito cínico, e não uma maneira de administração que governará o país pelos próximos quatro anos.
O debate da Bandeirantes pode ser a primeira real oportunidade para trazer ao palco político, aquilo que está em jogo nessas eleições e que vai definir qual paisagem, as que estão impressas nas fotos deste texto, se sairá vitoriosa neste pleito.

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