| Dilma.
A presidente Dilma Rousseff, que tenta a reeleição pelo PT, chega ao final da campanha do primeiro turno numa situação bem confortável, mas com uma boa dose de incerteza como todos sobre quem será seu adversário no segundo turno: Marina Silva (PSB) ou Aécio Neves (PSDB).
A pergunta que muitos podem estar se fazendo agora é para quem Dilma vai torcer para se tornar seu oponente solitário a partir de segunda-feira. Qual dos dois seria mais fácil de ser derrotado pela petista?
Parece que durante um bom tempo nas últimas semanas, a resposta seria facilmente Aécio. A entrada de Marina na disputa presidencial com a trágica morte de Eduardo Campos, que era o cabeça de chapa do PSB, se deu com uma força impressionante.
Ela juntou o chamado recall da eleição de 2010, quando teve quase 20 milhões de votos, com o fato de personificar, muito melhor do que qualquer outro candidato na disputa, o desejo de mudança demonstrado nas grandes manifestações populares de junho de 2013.
Por fim, sua entrada no jogo eleitoral se deu por meio de uma tragédia, atraindo uma forte empatia que a comoção com a morte do ex-governador de Pernambuco propiciou.
O resultado disso foi uma disparada nas intenções de voto para os dois turnos. Chegou a abrir 10 pontos percentuais contra Dilma em simulação de segundo turno.
Parecia que Marina seria uma candidata quase imbatível numa segunda rodada, quando teria o mesmo tempo de rádio e TV que a presidente. Ela teria o voto dos eleitores tucanos, daqueles identificados com as manifestações do ano passado, daqueles que progrediram durante os governos petistas, mas querem mais.
Naquele momento, a campanha de Dilma virou toda sua artilharia contra a candidata do PSB, deixando Aécio praticamente de lado.
O esforço petista foi para aproveitar o tempo maior na TV e no rádio no primeiro turno para minar a força de Marina numa segunda etapa. Na prática, foi como se a campanha do segundo turno já tivesse começado –os números àquela altura pareciam eliminar qualquer dúvida sobre contra quem seria o confronto.
Com a linha auxiliar da campanha tucana, que passou a explorar contradições de Marina e o sentimento antipetista de boa parcela do eleitorado ao lembrar o passado dela no PT, a estratégia de Dilma contra Marina deu certo. Tão certo que pode ter dado errado.
Todas as pesquisas mostram Marina em trajetória claramente descendente, e Aécio em leve recuperação. Embora não seja uma retomada forte, se o tucano conseguir ultrapassar a candidata do PSB vai começar a campanha do segundo turno muito mais embalado.
Aécio parecia ser um oponente mais interessante para Dilma por manter a velha polarização PT X PSDB e por ser um adversário mais conhecido –afinal, a campanha da presidente havia se preparado para enfrentá-lo. Também parecia ser o ideal, porque o eleitorado que votou em Lula e em Dilma nas última eleições não parecia disposto a votar num candidato do PSDB.
Mas se Aécio conseguir mesmo o que parecia virtualmente impossível há um mês, quando a vantagem de Marina era de 20 pontos percentuais, esse cenário previsível pode mudar.
Para começar, ele vai ter a seu favor uma virada para mostrar e para vender a ideia de que uma outra virada é possível. Além disso, uma boa parcela dos eleitores de Marina pode culpar Dilma pela eliminação da candidata do PSB e querer dar o troco no dia 26.
Mais importante: Aécio tem uma estrutura partidária e de alianças muito maior do que a de Marina. Aliás, se ele continuar na disputa, parte do seu sucesso na reta final do primeiro turno também terá que ser creditado a isso.
Dilma tem, portanto, motivos para torcer para Marina ou para Aécio a essa altura do campeonato. Mas, talvez, considerando sua personalidade, ainda que não admita isso publicamente, especialmente porque é uma hipótese praticamente impossível, pode ser que a presidente torça primeiro por ela mesma: liquidar a fatura e garantir a reeleição já no domingo.
Mas aí já é sonho e não torcida.
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A crônica do derretimento da Marina.
Ela.
Marina desabou na pior hora: quando as chances de recuperação são mínimas, dado o limite do tempo.
É como levar um gol no finalzinho do jogo.
Caso se confirme sua derrota, ela poderá encontrar consolo num pensamento caro aos que creem: Deus não quis.
Longo do plano divino, Marina começou a cair quando piscou diante de quatro tuítes de Malafaia.
Malafaia manifestou revolta contra os termos do programa de Marina em relação à comunidade LGBT.
Ameaçou tirar o apoio.
Rapidamente, com uma explicação que não convenceu ninguém, o programa de Marina foi alterado para agradar Malafaia.
Foi um gesto fatal.
Ali Marina mostrou um traço de personalidade que seria explorado com sucesso tanto por Dilma quanto por Aécio: a instabilidade, a hesitação, a dificuldade em lidar com pressão.
O eleitor percebeu.
Com Malafaia, foi a primeira de uma série de fraquejadas que confirmariam a impressão inicial de tibieza.
A empreendedores, Marina falou em atualizar a legislação trabalhista, o que significa subtrair direitos.
Diante da reação negativa, ela foi se desdizendo até chegar ao contrário do que afirmara. No debate da Globo, já desesperada, ela prometeu dar direitos a quem não está registrado pela CLT.
Também num gesto de quem pressente o abismo, ela disse que daria um 13.o aos beneficiários do Bolsa Família.
Nos dois últimos debates, Marina estava claramente exaurida mental e fisicamente. Parecia torcer que para que tudo acabasse o mais rápido possível.
Sumira a autoconfiança de quem disparara nas pesquisas com o refrão da “nova política”, em oposição ao PT e ao PSDB.
E assim Aécio, que parecia morto a poucos dias da eleição, chega ao 5 de outubro com chances concretas de ir ao segundo turno.
Não foi ele que cresceu. Foi Marina que diminuiu.
Para o PT, a derrocada de Marina é uma semivitória. Os petistas sempre preferiram enfrentar Aécio num eventual segundo turno, em vez de Marina.
Os eleitores de Aécio migrariam maciçamente para Marina, em nome do antipetismo.
Quanto aos eleitores de Marina, a maior parte tem sérias restrições a Aécio e ao PSDB.
De certa forma, caso se confirma a tendência que as pesquisas mostram na véspera das eleições, é a repetição do quadro das três últimas eleições, 2002, 2006 e 2010. PT versus PSDB.
Em todas elas, o PT venceu.
Exatamente por isso, num último espasmo, Marina está dizendo que só ela pode bater o PT porque o PSDB está acostumado a perder.
São meras palavras, com impacto infinitamente menor do que o recuo de Marina diante dos tuítes de Malafaia.
Ali começava a morrer a Marinamania.
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*** *** Eduardo Jorge já faz falta. Coisas que não tem nada a ver com Eduardo Jorge.
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Há uma pessoa mais deprimida que Marina com a ascensão de Aécio: José Serra.
Eles.
Datafolha e Ibope trazem a notícia de que Aécio Neves ultrapassou Marina Silva nas intenções de voto. Petistas e pessedebistas consideram que este será o encontro do segundo turno.
Marina sente o golpe a essa altura, mordendo os dentes enquanto faz o célebre papel de vítima. Nada esconde seu estado de nervos.
Agora, há outro político mais desanimado do que ela com a arrancada de Aécio: José Serra.
Fica desde já eternizada no anedotário político nacional a falta de empenho de Serra na campanha do colega de partido à presidência. Uma boa alma poderia dizer que ele está ocupado demais com a corrida ao Senado (aliás, deve ser eleito no domingo).
Até a morte de Campos, Serra chegou a aparecer, juntamente com Alckmin, em um ou outro evento da agenda do presidenciável tucano. Depois foi cuidar da vida.
No debate do SBT, chegou apenas no intervalo para o segundo bloco. Bateu um papo rápido com alguns repórteres e se aboletou na plateia. (Suplicy, para efeito de comparação, queimou o couro cabeludo do lado de fora do estúdio enquanto não chegava a comitiva de Dilma).
No confronto seguinte, na Band, Serra simplesmente não apareceu. Sumiu. Escafedeu-se. No da Globo, também deu W.O..
Um retrato de seu desprezo está nas redes sociais. No Twitter, JS tem mais de um milhão de seguidores. Não há um mísero post a favor de Aécio. Um.
No Facebook (192 mil curtidas), há o registro seco de um passeio no bairro da Liberdade em julho: “Estive hoje com Aécio, Geraldo Alckmin e Aloysio no 17º Festival do Japão, em São Paulo. Acolhida simpática e calorosa.” Beijo me liga.
Não é segredo para ninguém que Serra e Aécio (e Geraldo), se pudessem, se dariam o tratamento dispensado pelo Estado Islâmico aos inimigos capturados. O ódio é recíproco e antigo e os ataques são conhecidos.
Em 2009, houve o famoso artigo de um articulista do Estadão ligado a Serra, chamado “Pó pará, governador”. Em 2010, Aécio era tido como a grande esperança branca para ajudar o candidato à presidência José Serra. Não levantou um dedo.
Aécio não esteve sequer no lançamento do livro de JS, “50 anos Esta Noite”, em julho.
A torcida mal disfarçada pelo fracasso aecista faz parte de um cálculo. Eleito para o Senado, Serra volta a ter força para disputar o Planalto em 2018. Com o sucesso de Aécio, a situação se complica. Sem contar que ele terá de encarar Alckmin, que será reeleito governador de SP.
O que se vê hoje entre Serra e Aécio reproduz, de certo modo, o que ocorreu há quatro anos. Aécio se elegeu senador em Minas. Nem os santinhos tinham o retrato do Careca.
Na terra dos Neves, José Serra teve 41,55% dos votos, inferior à média nacional, e Dilma obteve 58,45%. Num eventual segundo turno, Aécio sabe com quem não poderá contar.
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TERRAS ALTAS DA MANTIQUEIRA = ALAGOA - AIURUOCA - DELFIM MOREIRA - ITAMONTE - ITANHANDU - MARMELÓPOLIS - PASSA QUATRO - POUSO ALTO - SÃO SEBASTIÃO DO RIO VERDE - VIRGÍNIA.
domingo, 5 de outubro de 2014
Para quem Dilma vai torcer no domingo?
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