| Combateu o bom combate.
POR LEANDRO FORTES.
Márcio Thomaz Bastos foi um dos mais importantes criminalistas do País. Defendeu figuras nefastas como o ex-governador baiano Antonio Carlos Magalhães, o bicheiro Carlinhos Cachoeira e o médico estuprador Roger Abdelmassih. Atuou como advogado, ainda, de banqueiros envolvidos nos processos do mensalão e, agora, defendia diretores das empreiteiras Camargo Corrêa e a Odebrecht presos pela Operação Lava Jato, da Polícia Federal.
Mas, como se sabe, não se julga um advogado pelos clientes que teve. Ainda mais se esse advogado é Márcio Thomaz Bastos.
Isso porque, quando ministro da Justiça, ele foi, por assim dizer, o fundador da Polícia Federal como corporação de Estado com ações baseadas em fundamentos republicanos – expressão, aliás, que ele ajudou a popularizar nos primeiros anos do primeiro mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Até então, “republicano” era um vocábulo perdido em livros de história. Foi Doutor Márcio, como era conhecido o ministro da Justiça de Lula, que deu ao termo a consistência cidadã que, dali por diante, passou a ser aplicada como um atestado civil de atos civilizatórios no Brasil.
Como repórter, passei 20 anos ligado a coberturas de ações da Polícia Federal, em todo o país, a partir da minha atuação profissional em Brasília. Assim, posso dizer com absoluta certeza que foi tão somente na gestão do Doutor Márcio, com o delegado Paulo Lacerda à frente da corporação, que a Polícia Federal deixou de ser uma milícia de governo – herança direta da ditadura militar – para se tornar, em pouco tempo, uma referência no combate ao crime organizado e à corrupção.
Os números falam por si.
Durante os dois mandatos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, do PSDB, entre 1995 e 2002, a Polícia Federal realizou exatas 48 operações.
Isso dá uma média ridícula de seis operações por ano.
Nos governos do PT, entre 2003 e maio de 2014, a Polícia Federal realizou 2.226 operações – prendeu 2.351 servidores públicos e colocou em cana 119 policiais federais metidos com criminosos.
O ponto de inflexão está situado, justamente, na entrada de Márcio Thomaz Bastos no Ministério da Justiça, em 2003, e a nomeação de Paulo Lacerda como diretor-geral da PF, no mesmo ano.
Foi a partir de então que o País – e a mídia – passou a compreender a verdadeira dimensão da corrupção nacional e a forma como, entranhada na cultura de negócios públicos e privados, ela era protegida e aceita, inclusive, pelo cidadão comum.
Exemplo ilustrado dessa mudança foi a Operação Narciso, de julho de 2005, quando a loja Daslu, em São Paulo, então o maior centro de consumo de luxo do país, foi alvo de uma ação conjunta da Polícia Federal, Ministério Público e Receita Federal.
Lá, onde até a filha do governador Geraldo Alckmin, do PSDB, trabalhava como vendedora, a PF estourou uma tramoia de refaturamento e subfaturamento de notas fiscais que permitia à Daslu sonegar diversos tributos. O esquema incluía o uso de empresas importadoras “laranjas” que vendiam os produtos à Daslu por preço abaixo do de mercado.
Presa e, depois, condenada a 94 anos de cadeia, a dona da Daslu, Eliana Tranchesi, virou uma mártir da elite branca nacional. Nas chorosas colunas que se seguiram à sua prisão, os cães de guarda da mídia acusavam Lula, Bastos e Lacerda de, ao invadir o templo de luxo e prazer dos paulistanos, suscitar a luta de classes no Brasil.
Que o digam as classes em luta. Durante a invasão do prédio da Daslu, moradores de uma favela próxima não tiveram dúvida: uns se refugiaram dentro de casa, outros, nos matagais próximos. Só mais tarde puderam perceber, estupefatos, que o aparato policial em movimento não os tinha como alvo, mas, sim, os grã-finos da vizinhança.
Em 2012, o jornalista Boris Casoy, apresentador da TV Bandeirantes, chegou a acusar Lula pela morte de Eliana Tranchesi, vítima de um câncer no pulmão, naquele ano. Casoy, conhecido nacionalmente por tratar garis como lixo, ficou profundamente tocado pela morte da dona da butique, segundo ele, “humilhada” pela ação da Polícia Federal.
Nesses tempos em que delegados da PF se organizam em turmas partidárias para fazer campanha para Aécio Neves nas redes sociais, chamar Lula de “anta” e patrocinar vazamentos seletivos contra o governo da presidenta Dilma, é de se pensar, com saudade, na memória de Márcio Thomaz Bastos.
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*** *** O dia em que Lobão ¨mediou¨um debate sobre jornalismo.
O “debate”
Estive presente ao debate “A Opinião na Era do Anonimato Digital”, realizado na terça-feira (18) durante o Mídia.JOR, evento do grupo Imprensa Editorial. De um lado estava André Forastieri, diretor de Nova Negócios do Portal R7, e do outro estava Matheus Pichonelli, colunista da Carta Capital. E quem estava como mediador da discussão? Lobão.
Por que raios convidaram Lobão para uma palestra sobre jornalismo?
Perguntei ao grupo Imprensa o motivo. De acordo com um representante, Lobão foi escolhido por conta de suas participações como mediador na MTV. Isso explica em parte a presença dele ali, mas não totalmente.
Apesar de Lobão ser colunista da Veja, ele não tem a menor ideia sobre apuração jornalística, sobre textos opinativos, nada. A empresa também explicou que ele não recebeu cachê, um motivo a menos para falar sobre um assunto que não domina. Ou seja, foi para aparecer.
Isto posto, Lobão desfilou o tradicional festival de barbaridades conceituais.
“Eu me considero um provocador. Quanto mais a pessoa fica puta com o que eu escrevo, mais eu fico feliz”.
“Comunismo é como uma monarquia. Você vê o caso da Coreia do Norte? Eles são como monarcas”.
“O brasileiro tem uma cultura macunaímica, rebolada, vagabunda”.
Essas foram só algumas. Ele deixou rapidamente de ser o mediador e resolveu apostar em seus clichês. Foro de São Paulo foi um alvo comum, “fundado pelo PT para a bolivarianização”, segundo o próprio.
O jornalista André Forastieri fez um aparte. “O Foro de São Paulo está mesmo aí, mas temos também o Instituto Millenium, que faz o que faz. E também ninguém reclama”.
Lobão não disse uma palavra sobre o Instituto Millenium. Prefere sua fala ensaiada contra o PT.
Forastieri acrescentou: “Acho importante o papel de polemistas hoje, porque as coisas são muito semelhantes, como o caso de partidos como o PT e o PSDB. Os polemistas fazem construções para ressaltar as diferenças”.
Lobão animou-se com esse discurso. Forastieri ainda fez uma crítica: “Mas eu acho curioso, Lobão, que nestes últimos 20 anos os brasileiros pobres mudaram de vida. As classes D e E subiram, enquanto a classe A virou AAA. No entanto, quem sofreu neste processo foi a classe média. Essas pessoas, talvez, achem melhor viver fora do Brasil. Você acaba sendo a voz da classe média sofre, Lobão”.
Matheus Pichonelli reclamou sobre o teor das discussões durante as eleições, associando-as a brigas no trânsito. Forastieri discordou do colunista da Carta Capital, enquanto Lobão se manteve neutro. “Conflito de ideias nunca será bem feito ou perfeito. Você já ouviu a opinião de um novaiorquino sobre americanos da região central? Eles o chamam de rednecks”, concluiu o diretor do R7.
O último assunto tratado no debate foram os recentes protestos pedindo o impechment da presidente Dilma. Lobão jura de pé junto que nunca defendeu intervenção militar. “Se tiver golpe militar, vocês vão transformar o PT em vítima por mais 50 anos. Isso só vai fortalecer o partido. Vai ser aquela coisa caminhando e cantando e seguindo a canção”, disse o músico.
Aproveitei a oportunidade para fazer uma pergunta ao Lobo. “Sou jornalista e fui agredido verbalmente no primeiro protesto pelo impeachment. Disseram que eu deveria temer pela minha integridade física. O que você pensa sobre isso?”, perguntei.
“Acho que tudo isso enfraquece o movimento. Só fiquei sabendo de atritos com petistas no final do protesto, mas não soube de agressões deste tipo”, respondeu Lobão.
Depois de se mostrar compreensivo comigo, ele imediatamente começou sua longa-lenga. “Minha meta é tirar esse partido do poder. Isso está destruindo minhas amizades. Tinha um baita relacionamento com produtores e até com a Barbara Gancia. Eles eram queridos e hoje falam absurdos sobre mim. Tem que botar a Dilma e o Lula na cadeia”, disse.
Forastieri fez uma última pergunta: “Se o impeachment ocorrer, quem chegar deve ir para a presidência é o Michel Temer. Isso é o certo?”
“Pra mim o PMDB pode surpreender mais positivamente do que o PT no poder. Então, que venha o PMDB!”, completou Lobão, agora peemedebista de carteirinha.
*** *** *** O Senado procura Aécio Neves, o homem que propôs uma oposição ¨INCANSÁVEL¨ Ele
Um espectro não ronda a política brasileira: o espectro do comparecimento de Aécio Neves ao trabalho.
O senador mineiro prometeu, terminada a eleição, fazer uma “oposição incansável, inquebrantável e intransigente” ao governo.
Da tribuna, fez um discurso empolgado, com apartes ridículos de sicofantas como o colega Magno Malta.
“Ainda que por uma pequena margem, o desejo da maioria dos brasileiros foi que nos mantivéssemos na oposição, e é isso que faremos. Vamos fiscalizar, cobrar, denunciar”, disse. “Nosso projeto para o Brasil continua mais vivo do que nunca”. Falou por 30 minutos para um plenário e galerias lotados.
Passados vinte dias, Aécio virtualmente desapareceu. Não foi ao Senado nem na semana em que estourou a Operação Lava Jato para tirar sua casquinha do episódio.
No registro de presença, ele deu WO em seis das onze sessões. A desculpa de sua assessoria de imprensa é de que tirou uns dias para descansar depois da campanha. Ele já havia feito a mesma coisa logo após o pleito.
Não há muito o que se estranhar. Em quatro anos, Aécio assinou 163 proposições, sendo 142 delas requerimentos — quer dizer, pedidos de informação.
Elaborou 16 projetos de lei, dos quais três coletivos. Dos 13 que restavam, um foi retirado da pauta. Ou seja, Aécio fez em média três projetos por ano. Outros números igualmente pífios: 141 pronunciamentos — 2,9 por mês — e 21 apartes.
Isso não significa, evidentemente, que ele não seja uma liderança influente. Mas dá uma ideia mais clara, para seu eleitorado, que o batente não é o forte de Aécio, confirmando o que dizia o “submundo da internet”, como ele mesmo definia.
A última vez em que Aécio foi visto em público foi registrada pelo colunista Ricardo Noblat no Globo numa crônica memorável — pelos motivos errados. O mineiro estava num vôo do Rio de Janeiro para Brasília numa quarta feira e teria sido aplaudidíssimo pelos passageiros.
Uma coisa é batata: alguém estará anotando a presença de Aécio num caderninho, como um bedel sanguinário. Seu nome é José Serra.
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TERRAS ALTAS DA MANTIQUEIRA = ALAGOA - AIURUOCA - DELFIM MOREIRA - ITAMONTE - ITANHANDU - MARMELÓPOLIS - PASSA QUATRO - POUSO ALTO - SÃO SEBASTIÃO DO RIO VERDE - VIRGÍNIA.
sexta-feira, 21 de novembro de 2014
A contribuição milionária de Márcio Thomaz Bastos ao reinventar a Polícia Federal.
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