terça-feira, 25 de novembro de 2014

Os donos do Brasil em cana. E depois?

Donos de construtoras presos: Ricardo Ribeiro Pessoa (UTC), Jose Aldemario Pinheiro Filho (OAS), Valdir Lima Carreiro (IESA), Dalton dos Santos Avancini (Camargo Corrêa) e Ildefonso (Queiroz Galvão)


Donos de construtoras presos: Ricardo Ribeiro Pessoa (UTC), Jose Aldemario Pinheiro Filho (OAS), Valdir Lima Carreiro (IESA), Dalton dos Santos Avancini (Camargo Corrêa) e Ildefonso (Queiroz Galvão)
“O universo está derretendo”, disse um deputado do PMDB após a operação da Polícia Federal, no último dia 14 de novembro. O dramalhão é justificado. A operação prendeu mais de 20 executivos e envolveu nove das maiores empreiteiras do país. Quatro delas – Camargo Correia, UTC, OAS e Iesa – tiveram os próprios presidentes presos. A casa caiu!
Não nos iludamos porém. Não é a primeira vez que os donos do Brasil são expostos a nu nos últimos anos. O banqueiro Daniel Dantas foi preso em 2008 após a Operação Satiagraha. Executivos da reincidente Camargo Correia também foram presos em 2009 pela Operação Castelo de Areia. E a Delta Construtora foi desmascarada em operações de 2012 e 2013.
Os resultados após as prisões foram um tanto desanimadores. Dias depois, a turma foi invariavelmente solta. As empresas continuaram com seus negócios, inclusive com os contratos com o poder público. Em alguns casos, chegou-se ao extremo de os acusadores tornarem-se réus, como o delegado Protógenes Queiroz e o juiz Fausto de Sanctis, ambos da Satiagraha.
Ser honesto é algo perigoso, já disseram certa vez. Mexer com os donos do Brasil não é coisa que se faça impunemente. Os tentáculos dos grandes grupos econômicos no governo, no Congresso, no Judiciário e na mídia não devem ser subestimados. Isso nos autoriza a um certo ceticismo em relação ao que virá.
De toda forma, o escândalo atual, envolvendo contratos bilionários com a Petrobras, tem circunstâncias muito particulares. A operação foi desencadeada num momento de grande polarização política e tem evidentes intenções de colocar em xeque a legitimidade do governo Dilma.
Delegados envolvidos na operação foram flagrados nas redes sociais exaltando Aécio Neves e proferindo ataques a Dilma e Lula. O escândalo tem sido o principal combustível do PSDB e dos golpistas dos Jardins em seus desfiles de sábado à tarde na avenida Paulista.
A posição do PSDB no caso é de uma grotesca hipocrisia. O senador Aloysio Nunes deu as caras no chá das cinco da Paulista e bradou altivo contra a corrupção. Faltou alguém que subisse ao carro de som para lembrá-lo de que sua campanha para o Senado recebeu mais de R$1 milhão em doações diretas de quatro das empreiteiras envolvidas no escândalo: UTC, Mendes Jr., OAS e Camargo Correia. Peroba nele!
A campanha presidencial de Aécio, por sua vez, recebeu cerca de R$20 milhões de seis das nove empreiteiras envolvidas. Assim como o PT e todos os outros partidos de sua base receberam. Quatro dessas empresas estão entre as dez maiores doadoras eleitorais de 2014. Digno de nota, o PSOL foi o único partido com parlamentares eleitos que não recebeu doação da quadrilha da vez.
Lamentável também foi a declaração de Dilma de que não devemos “demonizar as empreiteiras”. Ora, coitadinhas! Essas pobres empreiteiras, sempre injustiçadas neste país, não é mesmo?
Se queremos tirar uma consequência prática deste escândalo, se queremos deixar de enxugar gelo com operações de Sísifo, temos que dar nome e solução ao problema.
O nome do problema é o sistema político brasileiro e seu estímulo à apropriação de fatias do Estado pelos grandes interesses econômicos através do financiamento de campanha. A forma de enfrentá-lo efetivamente chama-se reforma política.
As nove empreiteiras investigadas, envolvidas em três megaprojetos da Petrobras, somaram mais de R$207 milhões em doações eleitorais neste ano. E não vem de hoje. O esquema da Petrobras opera há pelo menos 15 anos, segundo o Ministério Público Federal.
Até mentecaptos como Lobão e as madames do chá das cinco sabem como as coisas funcionam. Doações de campanha abrem as portas para favorecimento em contratos – especialmente nas estatais, que conseguem escapar de licitações – e, em seguida, para aditivos bilionários aos mesmos. Esta tem sido a gramática de quase todos os escândalos de corrupção por aqui nos últimos 30 anos.
Assim os donos do Brasil mantêm seu poder. Dar fim ao financiamento privado das campanhas eleitorais é a primeira e mais óbvia medida para interromper o ciclo. Evidentemente, não acabará com a corrupção, mas diminuirá a margem da captura do Estado pelos grandes interesses privados.
A hora é esta. A prisão dos empreiteiros e de diretores da Petrobras coloca na ordem do dia a necessidade de uma reforma política profunda no país.
Vejamos agora quem tem compromisso com a coerência. Indignar-se com a corrupção, muito bem. Vamos então defender uma reforma política, com ampla participação popular. Quem vem?

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