quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Que tal Dilma contingenciar 50% da verba publicitária?

A mídia corporativa é sustentada pelo dinheiro público. Regular a mídia economicamente e fazer uma distribuição justa da verba publicitária deveria ser um tema urgente para o governo
A mídia corporativa é sustentada pelo dinheiro público. Regular a mídia economicamente e fazer uma distribuição justa da verba publicitária deveria ser um tema urgente para o governo.
O prefeito de São Paulo, o petista Fernando Haddad, anunciou que irá construir 20 creches com o dinheiro proveniente de desvios da gestão do ex-prefeito Paulo Maluf, que serão devolvidos aos cofres públicos, segundo noticiou o Estadão.
Haddad faz do mote do combate a corrupção e seus resultados efetivos, a afirmação de suas políticas sociais, com ações efetivas.
Outra notícia veiculada na imprensa diz respeito sobre a decisão do governo federal de cancelar publicidade paga nas páginas da revista Veja.
A medida tardia é bem vinda e levanta uma questão importante: por que o governo financia empresas privadas com fartos recursos públicos? Neste caso ainda pior, pois cada centavo gasto para propagar ações do governo ou de empresas estatais, outros mais são perdidos em novas campanhas publicitárias para desmentir as matérias da própria revista que são veiculadas para manchar a imagem do contratante. No caso da Veja, é dinheiro jogado fora duas vezes.
Tal medida não deveria ser restrita a revista semanal da editora Abril, mas a todos os demais meios de comunicação.
Creio que se Dilma contingenciasse ao menos 50% da verba gasta em mídia em seu segundo mandato e destinasse o saldo desta economia para a construção de creches, como fez Haddad, ou em mais moradias populares, seguramente teria boa receptividade da sociedade e poderia defender-se melhor dos ataques da grande imprensa, tendo em mãos um excelente capital político.
Os recursos são imensos, ultrapassam os R$ 1,8 bilhão todo ano, sendo que as estatais são responsáveis por mais de 50% deste montante.
Cerca de R$900 milhões anuais, ou quase R$ 4 bilhões ao longo do segundo mandato, teriam impacto positivo na economia e consolidariam políticas públicas que beneficiariam milhares de famílias.
Penso que o governo poderia ir além de um simples contingenciamento desta verba.
O valor restante a ser gasto, descontado a economia apontada, cerca de R$ 4 bilhões em quatro anos, deveriam ser remanejados para democratizar o acesso a publicidade estatal e aos recursos financeiros por parte da mídia alternativa.
A Secom poderia utilizar uma metodologia, justa, que dispusesse metade do valor que ficasse a disposição do governo para ações de mídia, empenhados de acordo com a audiência e alcance dos veículos de comunicação contratados.
A outra metade, ou seja os outros R$ 2 bilhões, poderiam ser investidos democraticamente, entre a pequena e média mídia tradicional e a internet.
As grandes corporações de mídia são plenamente capazes de captar recursos no mercado publicitário e manterem seus projetos editoriais minimamente saudáveis.
Já rádios comunitárias e sites independentes, por exemplo, não são convidados para experimentar do grande bolo financeiro que é destinado a grande imprensa.
A sociedade civil organizada e o Estado brasileiro deveriam sentar-se à mesa e discutir uma regulamentação da publicidade com recursos do governo nas concessões públicas de rádio e TV.
Acredito que campanhas de saúde ou de esclarecimentos à população não tivessem que ser pagas e devessem ser cobradas, em forma de lei, como contrapartidas do concedido, com regras claras que apontassem limites e exceções.
Penso que é chegada a hora de Dilma contingenciar o dinheiro da verba publicitária destinada a grande imprensa, em nome da democratização da mídia e de um uso mais proveitoso destes recursos para o povo brasileiro.
O momento é o mais propício para se tomar uma decisão como esta.
 Grandes corporações são as maiores beneficiadas pela atual política de distribuição de verbas para publicidade estatal na mídia
Segundo levantamento publicado em 2013, sobre o período 2000/2012, as grandes corporações são as maiores beneficiadas pela atual política de distribuição de verbas para publicidade estatal na mídia.

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