E foram felizes para sempre.
Há uma coisa estranha em Aécio: passado mais de um mês das eleições, ele está com um discurso de quem ganhou as eleições.
Isso ficou claro na entrevista que ele concedeu a Roberto Risadinha d’Ávila, o homem-Caras do jornalismo brasileiro: sorrisos antes, durante e depois do programa.
Se não se imaginasse vencedor, Aécio não diria que encarnou o “sentimento de mudança” da sociedade brasileira. Porque esta é uma coisa que só quem vence pode dizer, e com moderação – ou passará por arrogante.
Mas Aécio é Aécio: ele consegue ser arrogante na derrota.
Compare sua atitude com a do candidato uruguaio derrotado neste final de semana, Luis Lacalle Pou.
Pou telefonou elegantemente a Tabaré Vázques, o vitorioso, para lhe dar os parabéns pela vitória “legítima” assim que os números mostraram que o resultado estava definido.
Aécio não.
Ainda agora, ele não parece ter aceitado que foi batido. “Perdi ganhando”, disse ele a d’Ávila. Dilma, segundo ele, “ganhou perdendo”. Aécio estava citando não Churchill, não Lincoln, não Napoleão, não de Gaulle. Estava citando Marina, que também reivindicou uma vitória na derrota.
A primeira providência para Aécio retornar ao Planeta Terra é ele entender que perdeu perdendo. Mesmo com toda a ajuda que teve da mídia, mesmo com Marina e a viúva de Eduardo Campos a seu lado, mesmo com os vazamentos seletivos da Polícia Federal – mesmo assim ele conseguiu perder.
Foi uma façanha.
Quando puser os pés nos chãos, Aécio tem que explicar algumas coisas. O aeroporto de Cláudio, por exemplo. Para citar mais um caso, o dinheiro público que sua irmã Andrea colocou nas rádios da família quando ele era governador de Minas.
Demagogo, no sentido clássico, é quem faz coisas na política que acusa os inimigos de fazerem.
Aécio se queixa de ter sido “ofendido” na campanha, mas fez coisas como usar a expressão “mar de lama” para caracterizar o governo de sua adversária.
Repetiu inúmeras vezes que Dilma estava destruindo o Brasil, se valendo para isso de pseudoestatísticas feitas para enganar os leitores.
Luciana Genro também experimentou o veneno de Aécio durante os debates: foi chamada de “leviana” e acusada de comandar um partido que é “linha auxiliar” do PT.
E este é o homem que se declara vítima de “desconstrução”.
No programa de d’Ávila, o construtor Aécio chamou o PT de “organização criminosa” em duas ocasiões — sem que d’Ávila fizesse nada além de sorrir. D’Ávila reagiu como se Aécio estivesse falando sobre o tempo, ou sobre o resultado da última rodada.
Aécio falou em “aparelhamento”, mas como governador ele aparelhou até a mídia mineira com sua política de anunciar apenas em quem não o criticasse.
Aécio condenou o “crime de responsabilidade fiscal” cometido agora por Dilma ao tentar mudar algumas regras relativas ao orçamento.
Mas um momento: como noticiou um insuspeito colunista do G1, FHC fez também uma gambiarra com os mesmos propósitos em 2001.
“O Brasil acordou”, disse uma hora Aécio a d’Ávila.
Eis uma das raras frases em que ele acertou, embora ele tenha se atrasado uma enormidade para perceber o fenômeno.
Foi exatamente por terem acordado que os brasileiros não elegeram Aécio e tudo aquilo que ele representa.
O final ideal para o programa teria sido uma imagem de Aécio e d´Ávila com a seguinte inscrição: “E foram felizes para sempre.”
***
*** ***
Aécio diz que perdeu a eleição para uma ¨ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA¨.
AÉCIO: "PERDI PARA UMA ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA"
***
*** *** O TSE derrubou as suspeitas do PSDB contra as urnas, mas a de GILMAR MENDES continuarão.
ELE.
Por unanimidade, o TSE isentou as urnas eletrônicas das suspeitas apresentadas pelo PSDB três dias após a derrota de Aécio Neves.
De acordo com uma petição assinada pelo deputado federal Carlos Sampaio, coordenador da campanha aecista, cidadãos brasileiros “foram às redes sociais” demonstrar o que definiu como “a descrença quanto à confiabilidade da apuração dos votos e a infalibilidade da urna eletrônica”.
Sampaio, obviamente, não levantava dúvidas sobre o primeiro turno, em que ele próprio e Alckmin saíram vencedores. Deixava claro que sua atitude nada tinha a ver “com pedido de recontagem ou questionamento do resultado”.
Ora, então para que o trabalho? A situação era tão estranha que os advogados que atuaram na candidatura de Aécio tiveram de esclarecer que não foram consultados.
O tapetão do PSDB proporcionou aos juízes uma perda de tempo temperada com momentos de relativo humor. A íntegra do acórdão registra que Henrique Neves lembrou que, na internet, em tese, Elvis Presley está vivo. A ministra Luciana Lóssio acrescentou Michael Jackson à lista.
Mas coube a Gilmar Mendes um voto verborrágico que conseguiu atribuir a Lula e a Dilma a responsabilidade pela atitude dos tucanos.
Segundo ele, “a impressão que chega à população, de que só se abriu o processo quando determinado candidato estava à frente, gera esse tipo de suspeita. Vamos agora conter esse imaginário popular?”
E foi além: “Eu não cometo nenhuma imprecisão ao lembrar a declaração da candidata, agora eleita, presidente Dilma. Percebam que as palavras têm força: ‘A gente faz o diabo durante a eleição’. Nós podemos entender essa expressão de diversas formas, mas ‘fazer o diabo’, essa expressão tem uma carga figurativa muito grande. Será que isso significa ‘a gente é capaz até de fraudar a eleição’?”
Pode significar tudo, é claro, ou nada. O fato é que isso foi dito em João Pessoa, em março, numa reunião de Dilma com aliados. A declaração completa é a seguinte: “Podemos fazer o diabo quando é hora de eleição, mas quando se está no exercício do mandato, temos de nos respeitar, pois fomos eleitos pelo voto direto”.
Gilmar cita Lula, que falou, no dia 26 de outubro, que “eles não sabem do que somos capazes para garantir sua reeleição”. Faz um alerta: “Vejam o impacto disso na cabeça dos eleitores. Será que as pessoas não podem imaginar que quem diz isso é capaz de fraudar uma eleição?”, indaga. Sim, podem. Como podem achar que é uma bravata. Ou não achar nada.
Sentenças de políticos em campanha são boas, ruins, equivocadas, estapafúrdias, sensatas. A indignação seletiva de Gilmar, pinçando duas delas para justificar as suspeitas com o pleito, servem não para “pacificar os espíritos”, como ele mesmo afirmou, mas para acirrar os ânimos.
“As pessoas devem ter responsabilidade – e pessoas que ocupam ou ocuparam cargos públicos devem se comportar com alguma dignidade.”
Gilmar Mendes precisa ler Gilmar Mendes.
*
|
TERRAS ALTAS DA MANTIQUEIRA = ALAGOA - AIURUOCA - DELFIM MOREIRA - ITAMONTE - ITANHANDU - MARMELÓPOLIS - PASSA QUATRO - POUSO ALTO - SÃO SEBASTIÃO DO RIO VERDE - VIRGÍNIA.
terça-feira, 2 de dezembro de 2014
Aécio ainda não entendeu que perdeu perdendo.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário