Terminou o terceiro turno.
Tenho horror à retórica esclerosada e pomposa dos juízes do STF, um sentimento que se intensifica com aquelas togas medonhas que remetem a eras medievais.
Dito isto, o ministro Toffoli merece aplausos de pé pelas palavras simples, claras, breves e extraordinariamente oportunas com as quais encerrou a cerimônia de diplomação de Dilma.
“Não haverá terceiro turno na Justiça Eleitoral”, disse ele.
Foi sem dúvida o pronunciamento mais importante na carreira de Toffoli – sem os rococós intermináveis que são a marca dos votos dos juízes da Suprema Corte.
Ao avisar que não haveria terceiro turno, na condição de presidente do TSE, Toffoli na prática matou o terceiro turno que o PSDB pateticamente vinha tentando alimentar.
O capítulo mais grotesto dessa tentativa se deu pouco antes das palavras de Toffoli, quando o site do PSDB anunciou que estava pedindo à Justiça a diplomação de Aécio e não de Dilma.
Está certo que Aécio acredite na versão de que “perdeu ganhando”, um dos mais batidos prêmios de consolação já inventados pelos perdedores da humanidade.
Mas daí a reivindicar a presidência com um déficit de quatro milhões de votos em relação a Dilma é a chamada coisa de louco.
Como o bizarro pedido do PSDB foi feito pouco antes da diplomação, criou-se, entre os mais ingênuos adeptos de Aécio, a ilusão de que a qualquer momento da cerimônia pediriam a Dilma que se levantasse e cedesse o lugar a Aécio.
Quase tão bem-vindas quanto as palavras de Toffoli foi o silêncio de Gilmar Mendes, que decidiu não emprestar seu formidável prestígio a Dilma na diplomação.
Gilmar fez questão, no entanto, de que seu nome que inspira multidões fosse pronunciado.
Pediu a Toffoli que avisasse, publicamente, que ele não comparecera porque assumira um compromisso anterior.
Claro que alguém como Gilmar tem muitos compromissos mais importantes do que a diplomação presidencial.
Toffoli não disse onde estava Gilmar, mas juntando fios soltos é possível especular que ele estivesse mediando as negociações entre Obama e Raul Castro para a reaproximação entre Cuba e Estados Unidos.
Outra hipótese é que estivesse ajudando Putin a lidar com o dramático problema da desvalorização do rublo.
Que seria do mundo ocidental, e mesmo oriental, sem Gilmar?
Mas, mesmo sem ele, a noite de ontem teve uma dimensão que outras diplomações jamais tiveram.
E o responsável por isso foi Toffoli, justo Toffoli, tão criticado nas últimas semanas por Nassif por estar à frente de uma trama golpista de cunho jurídico ao lado de Gilmar.
Toffoli poderá fazer mil, um milhão de pronunciamentos no restante de sua carreira.
Nenhum deles, no entanto, terá a grandeza épica do de ontem.
Quanto ao não diplomado, minha mãe, com sua elegância intransponível, me mataria se eu dissesse o que penso. Mas uma imagem que circula pela internet representa exemplarmente o papel de Aécio.
Peço licença a mamãe para reproduzir o que diz a imagem. É um diploma igual ao que Dilma recebeu. E está dito ali que Aécio Neves foi solenemente diplomado CUZÃO, com maiúsculas.
Perdão, mãezinha, mas não encontrei no dicionário palavra que descreva melhor Aécio Neves.
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GANHAR ELEIÇÃO, NÃO GANHA, MAS CENSURAR É COM ELE : A NOVO INVESTIDA DE AÉCIO SOBRE O TWTTER.
Aécio volta a atacar numa área em que é especialista: a intimidação. A Justiça de São Paulo determinou a quebra dos sigilos cadastrais de 20 usuários do Twitter que teriam vinculado seu nome a crimes como o uso de drogas.
Com a decisão, seus advogados poderão processar cada um deles. É o desdobramento de um pedido feito ainda durante a campanha, quando requisitou-se o cadastro de 66 perfis da rede, entre eles o DCM.
A equipe jurídica do candidato acabou chegando, num primeiro momento, a 55. Foi então determinado que o Twitter repassasse os dados para o tribunal, com a ressalva de que nada fosse entregue aos advogados de Aécio até a análise do conteúdo. Trinta e cinco foram isentados pelo magistrado. As duas dezenas de “acusados” estão aqui.
Em setembro, os representes do Twitter disseram na defesa: “Admitir esse tipo de medida corresponde a transformar o Poder Judiciário em instrumento de perseguição de cidadãos, dando margem ao surgimento de um Estado policialesco, que desconsidera as garantias fundamentais dos cidadãos de forma injustificável”.
Aécio reclama de uma rede de “caluniadores” e “detratores”. Muitos seriam “robôs”, ou seja, perfis falsos criados para atacá-lo. Não por coincidência, foi um expediente bastante utilizado em sua campanha. Um desses “robôs”, para citar apenas um caso, fez uma denúncia fajuta de direitos autorais obrigando o Youtube a retirar do ar o vídeo do “Helicoca”, do DCM.
Aécio já acionou o Google, o Yahoo! e o Bing para tentar impedir resultados de buscas que o ligassem a delitos como consumo de cocaína. A Justiça negou o pedido. Seus advogados também entraram com uma ação contra o Facebook para extinguir perfis que o satirizavam, como o Aécio Boladasso e o Aécio Boladão.
Ele tem especial apreço ao termo “submundo da Internet”. Em sua visão muito particular das coisas, tudo deveria estar “combinado” com a mídia — expressão que usou numa reportagem de TV que lhe foi desfavorável, história presente no documentário “Liberdade, Essa Palavra”.
É a maneira como sempre atuou em Minas Gerais. Há dias, o editor de Cultura do Estado de Minas, João Cunha, pediu demissão após ter sido proibido de escrever sobre política. Seu último artigo era a respeito da tentativa de “inviabilizar a sequência do processo democrático”.
“A oposição, por sua vez – e o senador Aécio Neves, candidato derrotado como seu nome de maior destaque –, tem uma tarefa a cumprir: dar um passo à frente no jogo político, com a grandeza que o momento requer. O que ainda está devendo”, escreveu. Um abraço. (No dia seguinte à vitória de Dilma, a manchete principal do site do EM era sobre a febre chikungunya. O Granma perde).
Se ele, perdedor, está empenhado nesse interminável tour de force jurídico para tentar calar aqueles que lhe desagradam, é de se imaginar o que não estaria fazendo se tivesse vencido a corrida pela presidência. E isso é apenas o começo para o nosso Kim Jong-un das Alterosas.
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O EMBARGO ECONÔMICO DE CUBA PODERIA TER TERMINADO EM 1.963 - O QUE DEU ERRADO?
Ele era estudante de Direito, católico e conservador, narra a historiadora e jornalista Claudia Furiati em uma biografia de mais de 800 páginas sobre Fidel Castro, publicada em 2002 após uma pesquisa exaustiva de cinco anos.
O perfil moderado dele contrastava, por exemplo, com o engajamento inflexível do argentino Che Guevara. Tudo isso é documentado em detalhes no trabalho de Claudia Furiati.
Mas uma parte dessa história está sendo relembrada agora que, desde o dia 17 de dezembro, Barack Obama resolveu reatar relações diplomáticas com o país. Uma das metas é combater o embargo econômico, fixado no dia 7 de fevereiro de 1962.
Cuba não sofreu um bloqueio por causa de sua ideologia socialista. Ela foi reprimida desta maneira pelos Estados Unidos devido ao fracasso da invasão da Baía dos Porcos, uma operação americana que visava derrubar o regime castrista.
Naquele mesmo ano de 62, Fidel buscou estreitar relações com a União Soviética. A assinatura do embargo pelo presidente John Kennedy e o posicionamento de mísseis norte-americanos na Turquia apontados para a Rússia gerou outra reviravolta no mesmo período.
Entre 14 e 28 de outubro, o mundo viveu a Crise dos Mísseis, com Cuba apontando armamento nuclear contra os Estados Unidos. O risco de guerra mundial só foi encerrado quando o líder soviético Nikita Khrushchev decidiu conversar com Kennedy. Fidel Castro chegou a ficar a postos para iniciar o conflito.
O cessar das hostilidades naquele período terminou por aproximar Fidel Castro do presidente americano John Kennedy. Entre 1962 e 1963, tanto o líder dos EUA quanto seu irmão, Robert Kennedy, fizeram várias negociações para liberação de prisioneiros dos dois países. O advogado James Donovan foi enviado para a ilha com 62 milhões de dólares em alimentos e remédios em troca da liberação dos detidos que interessavam aos americanos.
Isso aumentou a confiança de Fidel em relação aos americanos. Gravações datadas de 5 de novembro de 63 no Salão Oval de Kennedy registram diálogos entre seu assessor de segurança McGoerge Bundy para enviar o embaixador William Attwood para uma reunião em segredo com Fidel Castro. O tema da conversa era justamente retomar o diálogo.
John Kennedy também enviou o jornalista francês Jean Daniel, que o entrevistou em outubro daquele ano. Era Daniel que estava com Fidel no dia 22 de novembro de 1963, quando Kennedy foi baleado por Lee Harvey Oswald. Fidel Castro disse: “Vão dizer que nós o matamos”. Batata.
A morte de John Kennedy sepultou uma operação diplomática que poderia ter acabado com o embargo cubano em 1963, pouco mais de um ano depois do seu início. Os motivos para o afrouxamento do presidente americano foram justamente a diplomacia dos soviéticos, que evitaram uma guerra nuclear, e a abertura ao diálogo que estava sendo promovida pelo ditador Fidel Castro.
O assassinato do presidente norte-americano alimentou o sentimento anticomunista no país, enquanto Fidel endureceu seu discurso anti-imperialista. A intolerância formou o bloqueio econômico entre Estados Unidos e Cuba.
A aproximação neste ano se deu após a liberação de prisioneiros. Barack Obama tem vários interesses na jogada. O presidente americano, por exemplo, enfrenta uma grande crise com a Rússia de Vladimir Putin atacando a Ucrânia, o que aumenta as pressões da União Europeia por uma operação no local.
Obama respondeu aos russos com sanções econômicas, repetindo uma fórmula do passado. Os juros da Rússia subiram 6,5% entre os dias 14 e 15 de dezembro deste ano, chegando ao patamar total de 17%. A moeda russa, o rublo, despencou cerca de 20% frente ao dólar e hoje vale 65,15 para cada cédula norte-americana.
Certamente uma aproximação com Cuba feita pelos Estados Unidos pressiona a forma como a Rússia trata a Ucrânia. Tropas russas invadiram a região da Criméia e, com pressões diplomáticas, terão que se retirar.
Fidel Castro e John Kennedy poderiam ser aliados econômicos desde 1963, há mais de 50 anos. A politização das diferenças, decorrentes do assassinato de Kennedy e do acirramento da Guerra Fria, sepultaram as esperanças de uma relação mais amigável, que volta a ser discutida agora.
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TERRAS ALTAS DA MANTIQUEIRA = ALAGOA - AIURUOCA - DELFIM MOREIRA - ITAMONTE - ITANHANDU - MARMELÓPOLIS - PASSA QUATRO - POUSO ALTO - SÃO SEBASTIÃO DO RIO VERDE - VIRGÍNIA.
sábado, 20 de dezembro de 2014
Como Toffoli pôs fim ao terceiro turno.
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