Sim.
A última pesquisa Datafolha foi uma tremenda ducha fria para a direita golpista e a mídia tucana.
Depois de semanas martelando petrolão, petrolão, petrolão, eis que a aprovação da presidenta se mantém sólida.
Pior, o PT recuperou os pontos perdidos nos últimos meses.
Fiz um comparativo entre a pesquisa realizada no dia 1 de setembro, um mês antes do primeiro turno das eleições, e a mais recente, dia 8 de dezembro.
O PT, que tinha, pela primeira vez em muitos anos, marcado menos de 20 pontos na preferência dos entrevistados, com 16 pontos, em setembro, recuperou 6 pontos e fechará o ano com 22%.
A alta mais espetacular se deu entre mulheres e os mais jovens (até 24 anos): subiu de 13 para 21 entre as primeiras, e de 12 para 21 entre os segundos.
É impressionante a resiliência do PT aos ataques da mídia.
Ele permanece como partido preferido mesmo entre os segmentos onde a oposição tem mais força: os mais ricos e escolarizados.
Entre os entrevistados com ensino superior, o PT marcou 16 pontos, contra 14 do PSDB.
Entre aqueles que ganham mais de 10 salários, o PT marcou 17 pontos, contra 13 do PSDB.
No Sudeste, onde o PSDB vem obtendo seus melhores resultados, a preferência pelo PT, na última pesquisa Datafolha, foi de 22%, após ter caído para 14% em setembro. Os tucanos têm 9% no Sudeste.
O PSDB tem desempenho incrivelmente pífio entre mais pobres e no Nordeste: entre 4 e 5%.
Confira o gráfico. Mais abaixo, a íntegra do Datafolha. Faço outras análises em seguida, abaixo.
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Fiz mais algumas anotações sobre a pesquisa.
Houve uma recuperação extraordinária da aprovação do governo Dilma junto aos mais jovens, de até 24 anos.
Em junho de 2013, a avaliação Ótimo/Bom nessa faixa havia caído para 24 pontos, contra 28% de ruim. Um ano depois, a coisa degringola de novo: 23% de Ótimo/Bom e 34% de ruim.
No início de dezembro, 36% dos jovens de até 24 anos acham que o governo Dilma é ótimo/bom, contra apenas 24% que o consideram ruim.
A aprovação entre os mais velhos também disparou nas últimas semanas, atingindo 48% de Ótimo/Bom, melhor índice desde junho de 2013.
O escândalo da Petrobrás, contudo, desgastou Dilma junto ao eleitorado com ensino superior, onde ela perdeu 4 pontos e tem 27% de Ótimo/Bom e 39% de Ruim/Péssimo.
A aprovação (Ótimo/Bom) do governo Dilma no sudeste, onde vive a gente “bem informada”, segundo FHC, se manteve sólida, em 41 pontos.
No Nordeste, a administração petista tem 53% de Ótimo/Bom.
Entretanto, uma outra tabela nos mostra que a tese do “estelionato eleitoral”, que a oposição e a mídia tentam vender, procurando desgastar Dilma, não colou em seu eleitorado.
Entre os eleitores da Dilma, 66% deram nota Ótimo/Bom para seu governo; apenas 4% lhe deram nota ruim/péssimo.
Entre os eleitores do Aécio, a petista teve apenas 9% de bom e 55% de péssimo.
O Datafolha também mostrou que a maioria esmagadora dos eleitores de Dilma permanecem otimistas em relação ao segundo mandato da presidenta: 74% disseram ter expectativa ótima/boa para os próximos 4 anos de Dilma.
Entre os eleitores do Aécio, 16% tem expectativas ótimas/boas para a gestão atual.
Outra informação relevante captada pela pesquisa Datafolha está na pergunta sobre quem foi o melhor presidente que o Brasil já teve.
A pergunta confunde um pouco o entrevistado, porque o uso de verbos no passado dá a entender que ela corresponde apenas a presidentes passados, ou seja, excluindo Dilma.
As respostas humilham as pretensões midiático-tucanas de vender a excelência de FHC. Não adianta, as lembranças amargas do pesadelo neoliberal permanecem feridas abertas.
64% dos entrevistados pelo Datafolha disseram que Lula foi o melhor presidente que o Brasil já teve, contra apenas 7% de FHC.
FHC só obtém um desempenho razoável entre os que ganham mais de 10 salários de renda familiar: nesta faixa, 32% dizem que ele foi o melhor presidente, mas ainda atrás de Lula, que tem 36%.
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Enfim, falemos da pergunta que trouxe mais polêmica à pesquisa, sobre quem tem a responsabilidade sobre os escândalos da Petrobrás.
A pergunta, e a interpretação que se fez das respostas, embute várias camadas de manipulação da informação.
Em primeiro lugar, a pergunta é dúbia.
“Responsabilidade”, na acepção comum, não significa culpa, necessariamente. Um pai é responsável pelo filho de dezoito anos consumir cocaína e roubar. Mas seria absurdo responsabilizar “criminalmente” o pai.
Como presidenta da república, Dilma tem algum grau de responsabilidade por tudo que acontece na administração pública, mas isso não corresponde a dizer que ela seja cúmplice, ou responsável direta, por tudo: sejam coisas boas, sejam coisas ruins.
Além do mais, como já foi denunciado, a Folha juntou as respostas dos que disseram que Dilma tem “pouca responsabilidade” com aqueles que responderam “muita responsabilidade”.
É evidente que a resposta “pouca responsabilidade” implica numa avaliação positiva do papel da presidenta no escândalo da Petrobrás.
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O Datafolha pergunta, por fim, em que governo a corrupção foi mais investigada: 46% disseram Dilma. Apenas 4% disseram FHC.
Perguntados sobre qual o governo houve mais punição a corruptos: 40% Dilma, contra 3% FHC.
Quando perguntados sobre em qual governo existiu mais corrupção, o placar ficou apertado. O governo Dilma ficou com 20%, o que é compreensível devido ao noticiário mais quente na memória das pessoas. Mas FHC ficou logo atrás, com 14%, na frente de Lula, com 12%.
Esses dados não deixam dúvida de que a mídia não conseguiu evitar que Dilma lhes desse um xeque-mate, embora eu ache que a própria presidenta não tenha pensado nisso. Ela está emergindo das crises políticas produzidas pelos escândalos, como alguém interessado em investigar e punir, e, portanto, com uma imagem positiva.
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Independente dos resultados do Datafolha, todavia, é importante ressaltar que a falta de política e comunicação por parte do governo está deixando o país ingovernável. A PF ganhou vida própria, o que tem um lado bom, mas não é bom quando ela se torna uma ferramenta de oposição. A mídia agora não é apenas uma mídia de oposição. É uma mídia ameaçadora, sabotadora.
A falta de política fez até o Procurador Geral, Rodrigo Janot, que vinha adotando uma postura um pouco mais independente do status quo, a correr para debaixo da saia da mídia, em busca de abrigo. E isso é um perigo, porque os dois últimos procuradores se tornaram verdadeiros pistoleiros a serviço da mídia contra o PT e o governo. Sem política por parte do governo, a mídia transforma quem ela quiser em pistoleiro ou zumbi a seu serviço.
A Lava Jato, se for conduzida sem responsabilidade, pode acarretar na paralisação de milhares de obras públicas no país, produzindo desemprego e retrocesso econômico. Isso também envolve política.
Popularidade de instituto de pesquisa não vale grande coisa se o grupo político não constrói uma base social para si mesmo, não através do peleguismo, mas atendendo às suas demandas. E o governo Dilma não está construindo nenhuma estratégia política neste sentido. Está repetindo exatamente os mesmos erros que cometeu em 2010. Abandonando a militância, abandonando a política e tentando jogar apenas com a grande mídia, que é seu inimigo mais feroz, mais traiçoeiro e mais perigoso.
Nem Petrobrás nem o governo têm porta-vozes, o que é um absurdo.
Para onde vamos?
M do Rosário e Fabiano, num debate, em 2010.
Nesta quinta-feira, 11, estive em Botafogo, na sede da IESP, núcleo de pós-graduação e pesquisa em Ciência Política, ligado à UERJ.
Fomos almoçar nas redondezas, eu e seis professores.
Seis sumidades da ciência política brasileira, todos assumidamente progressistas, leitores do Cafezinho e críticos à antidemocrática concentração da mídia brasileira.
Entre eles, Fabiano Santos, ex-presidente da Associação Brasileira de Ciência Política, e João Feres, idealizador do Manchetômetro.
Após a refeição, voltamos ao IESP, e usei meu celular para gravar uma entrevista exclusiva com Fabiano Santos, em sua sala.
Santos falou sobre os novos desafios do governo Dilma.
Superados o primeiro, segundo e “terceiro” turnos, a política nacional se voltará, cada vez mais, para as eleições para a presidência da Câmara, lembra Santos.
Para ele, seria um grave erro encarar esta eleição como um processo de governo, em que o PT lançaria um candidato a favor do governo, e o PMDB, com Eduardo Cunha, um contra o governo.
O Executivo deve encarar a eleição na Câmara como um processo cuja dialética é própria ao Legislativo.
Entretanto, o cientista enfatiza que Eduardo Cunha, pese a todas as críticas, justas e necessárias, é um candidato da base aliada.
Seria um contrassenso empurrá-lo, através de um processo de radicalização ideológica, para a oposição.
O PT pode, e talvez até deva, lançar o seu candidato próprio à presidência da Câmara.
Passada as eleições, contudo, o vencedor, seja do PT, seja do PMDB, será alguém da base aliada.
“Um guerra de vida ou morte seria um erro”, diz Fabiano.
O PMDB, como um partido de centro, tem as condições de carrear votos da centro-direita, necessários para que sejam aprovados projetos progressistas do governo.
Independente de quem presidir a Câmara, PT, o maior partido, ou PMDB, o segundo maior, terá de fazer esse meio de campo entre forças ideológicas opostas.
Mas o governo tem de fazer política; e política é uma técnica e uma arte, lembra Santos.
Conversando com Fabiano, descobri que a crítica que setores da blogosfera fazemos à comunicação do governo é, essencialmente, uma crítica à sua forma de fazer política.
O cientista pediu uma explicação ao governo para a ausência de um porta-voz, que faça o contraponto diário com a imprensa, e comunique à sociedade a posição oficial em cada assunto em pauta.
Urge escolher os ministros políticos, que serão os protagonistas no diálogo com o congresso e com a sociedade, para comporem a linha de defesa e ataque do governo.
Esse contraponto diário acaba se refletindo também na formação da consciência dos próprios deputados, tanto da situação quanto de oposição.
Se o governo não responde à mídia, ele se enfraquece na própria Câmara dos Deputados, e as votações se tornam mais difíceis.
As últimas três frases são minhas, mas refletem a conversa que tivemos, como se verá no vídeo abaixo.
Fabiano lembra que o governo, sempre que optou por fazer política, ganhou o jogo.
Quando não fez política, perdeu.
Ele acha que Dilma entra no segundo mandato com muito mais experiência: “em 2010, ela nunca tinha disputado uma eleição. Ela aprendeu.”
Tanto é que aprendeu que, na votação da LDO, que permitiu ao governo manter o seu nível de investimento, a presidenta chamou as lideranças partidárias, conversou com todo mundo, ouviu a demanda dos parlamentares, e, ao cabo, venceu.
Assista abaixo a íntegra da entrevista, em duas partes. A primeira tem 15 minutos, a segunda, cinco minutos.
É um depoimento essencial para quem deseja entender a conjuntura política do país hoje.
Fabiano Santos - Entrevista para o Cafezinho, parte 1/2.Entrevista com Fabiano Santos 2/2.
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TERRAS ALTAS DA MANTIQUEIRA = ALAGOA - AIURUOCA - DELFIM MOREIRA - ITAMONTE - ITANHANDU - MARMELÓPOLIS - PASSA QUATRO - POUSO ALTO - SÃO SEBASTIÃO DO RIO VERDE - VIRGÍNIA.
sábado, 13 de dezembro de 2014
Datafolha foi ducha fria na mídia e na direita?
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