segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Jango não era comunista.

jango

O ex-presidente João Goulart foi vítima da intensa polarização entre direita contra esquerda – capitalismo contra comunismo – da década de 1960. Naquela década, quem não era capitalista era comunista e vice-versa, não tinha meio termo. Era o auge da Guerra Fria entre EUA e União Soviética, a Corrida Armamentista.

Tudo piorou com o assassinato do presidente americano Jonh F. Kennedy. Os americanos queriam vingança e começaram a fazer uma limpa nos países propensos a se unir ao bloco comunista. Começaram no “seu quintal”, como alguns americanos chamam as Américas do sul e central. Arquitetaram Golpes de Estado para derrubar presidentes que tinham alguma ligação com a União Soviética mesmo que por apenas diplomacia. Os americanos pretendiam varrer o comunismo das Américas. Os Estados Unidos da América deram todo suporte para as Forças Armadas de vários países sul-americanos derrubarem os governos democráticos. Há fortes indícios que a Operação Condor contou com forte apoio americano.

O Brasil vivia uma crise institucional grave. Em 1954, Getúlio Vargas se suicidava por causa da pressão que seu governo sofria por denúncias de corrupção que se agravaram com o atentado contra o deputado, jornalista e crítico do governo Vargas, Carlos Lacerda. Dois anos depois, em 1956, o presidente Juscelino Kubitschek precisou de um “Contra-Golpe” para tomar posse. Carlos Lacerda, da UDN, dizia: “Não pode ser candidato. Se for, não pode ser eleito. Se eleito, não pode tomar posse. Se tomar posse, não pode governar”. JK assumiu, governou e ergueu Brasília, a nova capital da República, em cinco anos.

Juscelino passa a faixa presidencial para seu sucessor pela primeira vez em Brasília. Jânio Quadros, do PTN, venceu a eleição com o discurso contra a corrupção. Seu jingle é lembrado até hoje: o “Varre, varre vassourinha. Varre, varre a bandalheira”. Mas, sem apoio político no Congresso – era de um partido pequeno e o vice-presidente eleito (presidente e vice eram votados separadamente até 1960) era da oposição, João Goulart (PTB) –, Jânio renuncia oito meses depois de tomar posse.

As Forças Armadas não queriam que Jango assumisse como presidente por ele ser próximo demais de Cuba, na visão dos militares. Na semana da renúncia de Jânio, Jango fazia uma viagem à China. Leonel Brizola, então governador do Rio grande do Sul e amigo de Jango, criou a Cadeia da Legalidade e conclamava o povo para pressionar pelo cumprimento da Constituição, que mandava o vice assumir em caso de vacância do cargo pelo titular por renúncia, impeachment ou morte.

Um acordo foi selado. Os militares deixariam Jango tomar posse se fosse implantado o parlamentarismo no Brasil. Jango aceitou e, após assumir o cargo tendo como Primeiro-ministro Tancredo Neves, mandou uma consulta popular para o Congresso. A população escolheria entre presidencialismo ou parlamentarismo em um plebiscito

Presidencialismo venceu e João Goulart recuperou todas as prerrogativas que um mandato de presidente detém. E começou a colocar em prática às Reformas de Base. Apesar de ser um reformista à esquerda, João Goulart não era comunista, mas, naquela época, quem não era de direita e capitalista era tachado de esquerda e comunista. Conservadores não viam com bons olhos as reformas de Jango. 19 de Março de 1964, o dia da “Marcha da Família com Deus pela Liberdade”, em São Paulo, foi como um sinal verde para os militares colocarem o Golpe de Estado em ação.

Apoiados por políticos conservadores, empresários, mídia e com suporte dos americanos, na madrugada do dia primeiro de abril, o presidente João Goulart tinha seu direito de terminar o mandato que o povo e a Constituição lhe deram cassado pelo Congresso. O Marechal Humberto de Alencar Castelo Branco assumiu a presidência prometendo realizar eleições em 1965. Não cumpriu a promessa. Fechou o Congresso, cassou deputados de oposição ao golpe e entregou a faixa presidencial da República a outro militar, o General Arthur da Costa e Silva.

Presidente Costa e Silva terminou de executar com o golpe dentro do golpe assinando o A-I 5. Começou ali a repressão sangrenta que fez o Brasil mergulhar por 20 anos numa ditadura cruel. O brasileiro perdeu o direito de votar para presidente e só recuperaria 29 anos depois da última eleição direta.

O medo do comunismo fez o Brasil cair numa ditadura que até quem apoiou o golpe pulou fora, quando viu que foram traídos pelos militares. Grandes jornais que apoiaram o golpe e sentiram na pele a censura reconheceram os erros em Editorial anos depois como fez o Jornal O Globo (Folha de S.Paulo reconheceu, mas justificou o apoio à época. 

Estadão passou longe de reconhecer qualquer erro). Fica a lição para quem fica pedindo intervenção militar para evitar uma “ditadura bolivariana”. Você pode ser vítima da sua própria ignorância.

A comissão da Verdade fez um trabalho espetacular. Trouxe à luz verdades inconvenientes que todos precisavam saber. Como disse a presidente Dilma: “O Brasil merecia a verdade”. Mas sou contra mexer na lei da anistia que foi o pilar para que pudéssemos ter novamente um Estado de Direito. Recorro novamente a presidente Dilma, uma ex-guerrilheira presa e torturada pelos militares: “[…] Também reconhecemos e valorizamos os pactos políticos que nos levaram à redemocratização”.

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