segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

O que aconteceu com a economia dos Brics?

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Publicado na bbc.

Em 2001, os Brics foram considerados países que poderiam remodelar a economia mundial.
Brasil, Rússia, Índia e China -na época o grupo não incluia a África do Sul- foram identificados como economias grandes e de crescimento rápido que teriam papeis globais cada vez mais influentes no futuro.
Mas a desaceleração econômica pela qual o Brasil está passando se repete em todo o grupo. O que aconteceu com estas economias?
Hoje, China e Rússia são possivelmente as mais preocupantes para o resto do mundo no curto prazo. Podem provocar uma reformulação séria e bastante indesejável.
No caso da China, há o risco de a desaceleração econômica se transformar em algo mais prejudicial para a economia mundial. Com a Rússia, há a possível consequência econômica do conflito na Ucrânia.
A desaceleração da China aconteceria mais cedo ou mais tarde. Na verdade, é notável que não tenha vindo antes.
A China tem registrado taxas extraordinárias de crescimento econômico há muito tempo – uma média de 10% ao ano nas últimas três décadas.
Mas este crescimento é baseado em taxas muito elevadas de investimento, atualmente em 48% da renda nacional ou PIB.
Quando o investimento é alto assim, há sempre o risco de que muitos projetos acabem sendo um desperdício ou não rentáveis, minando as finanças dos próprios investidores e de qualquer pessoa que tenha emprestado dinheiro a eles.
Poucos países têm taxas de investimento mais altas do que as chinesas -e nenhum deles têm muito a ensinar para a China. São eles Butão, Guiné Equatorial, Mongólia e Moçambique.
Outro fator que ajuda a entender o crescimento chinês é a exportação.
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Mas não é possível depender disso atualmente, quando o resto do mundo ainda luta para se recuperar da crise financeira.
O que o governo chinês quer fazer é avançar no sentido de um crescimento econômico um pouco mais lento e mais influenciado por venda de bens e serviços para os consumidores chineses.
A desaceleração está acontecendo. Já nesta década, a taxa média de crescimento caiu em mais de dois pontos percentuais.
O homem que inventou o termo “Brics”, Jim O’Neill, então da Goldman Sachs, acredita que a transição pode ser gerida sem muita turbulência.
Outros são mais cautelosos.
O professor Kenneth Rogoff, da Universidade de Harvard, diz que a desaceleração da China é ao mesmo tempo inevitável e desejável, mas adverte: “Não é fácil conter o crescimento gradualmente sem provocar problemas generalizados de projetos de investimentos ambiciosos.”
Ele diz que, se o crescimento chinês entrar em colapso, a queda global poderia ser muito pior que a causada por uma recessão normal nos EUA.
Já a Rússia é uma história diferente.
Seu impacto econômico potencial sobre o resto do mundo em um futuro próximo está altamente relacionado com questões políticas.
O conflito na Ucrânia já prejudicou a Rússia economicamente.
As sanções impostas pelo Ocidente e o receio entre os investidores de que elas possam aumentar agravaram uma desaceleração que ocorreria de qualquer maneira.
O país já perdeu US$ 85 bilhões este ano, de acordo com dados do Banco Central.
A Rússia é muitas vezes criticada por ter um ambiente de negócios difícil, devido à burocracia e incertezas sobre o sistema legal.
O FMI já falou disso antes, e Jim O’Neill também afirma que a Rússia precisa de normas confiáveis de direito empresarial.
Os problemas da Rússia já tiveram impacto econômico além de suas fronteiras, notadamente na Alemanha.
As exportações para a Rússia caíram acentuadamente – o que é um fator importante por entender por que a Alemanha está perto da recessão.
Olhando para o futuro, o FMI também advertiu que “riscos geopolíticos”, ou seja, a crise na Ucrânia e no Oriente Médio, são algumas das principais ameaças para a recuperação da economia global que já é, nas palavras do próprio FMI, “fraca e desigual”.
Outros dos Brics com problemas claros é o Brasil – apesar de o país representar menos perigo no contexto global.
Assim como a Rússia, é uma economia em que as exportações de commodities desempenharam um papel importante para os bons resultados da década de 2000.
Na Rússia, o que se exportava era de petróleo e gás. Já o Brasil tem minério de ferro e commodities agrícolas como soja, café e açúcar.
Criador do conceito de Brics defende que Brasil dependa menos de commodities
Jim O’Neill diz que ambos precisam tomar medidas para tornarem-se menos dependentes do setor de commodities.
Devem melhorar a sua competitividade de trabalho, diz, e se tornarem mais atraentes para o investimento privado em outras indústrias.
Entre os países do Bric original – que não inclui a África do Sul -, a Índia aparentemente é o que está causando menos ansiedade nos mercados financeiros e instituições econômicas internacionais no momento.
O crescimento ganhou força este ano, embora esteja muito aquém daquele da década anterior.
Muitos investidores receberam bem o novo governo de Narendra Modi, que assumiu o cargo em maio.
“Estou mais otimista do estive por algum tempo sobre a Índia”, diz Jim O’Neill.
Então, os Brics estão desmoronando?
É bom lembrar de onde este conceito veio. Ele apareceu pela primeira vez em um artigo escrito em 2001 por Jim O’Neill.
Não era um grupo, mas apenas uma maneira conveniente, com uma sigla agradável, para detectar tendências importantes.
Somente anos depois os países começaram a fazer cúpulas anuais e, nesta fase inicial, o grupo não incluia a África do Sul. O “s” no final de Brics aparecia apenas como um plural.
O objetivo do trabalho era mostrar o papel cada vez mais influente que esses países desempenhariam na economia global pelos próximos 10 anos, e argumentar que a cooperação econômica internacional deveria mudar para refletir esta realidade diferente. E isso ocorreu.
Desde 2008, um dos fóruns-chave para questões de política econômica tem sido o grupo G20, que inclui todos os Brics entre os seus membros.
Os Brics eram as maiores economias emergentes. Não havia nenhum país africano quando a ideia foi usada pela primeira vez, e em termos do seu peso econômico a África do Sul estava bem atrás dos outros, e também de alguns que não foram incluídos, como a Indonésia e o México.
Um artigo de acompanhamento de dois outros economistas do Goldman Sachs estendeu a análise até 2050 e sugeriu que os Brics, em conjunto, poderiam ser maiores que os seis principais países industrializados somados em 2039.
A rigor, os artigos do Goldman Sachs não eram previsões. Eram retratos de como o mundo poderia ser se os países crescessem o quanto podem.
As taxas de crescimento previstas eram muito maiores do que a de países ricos.
Eles têm a possibilidade de alcançar esses países ao investir rapidamente em tecnologia, o que já está estabelecido em economias desenvolvidas.
Eles também têm mão de obras disponível, para as indústrias em rápida expansão, por causa da população em crescimento e urbanização, com as pessoas se mudando do campo para as cidades.
Nas projeções originais de Jim O’Neill, o crescimento chinês ao longo dos próximos 10 anos foi fixado em 7%, da Índia de 5%, e Rússia e Brasil, em 4%.
O Brasil foi o único que não atingiu essa projeção.
Mas todos os Brics têm desacelerado na década atual, por mais de dois pontos percentuais cada, com exceção da África do Sul.
O FMI investigou a desaceleração dos países em desenvolvimento.
Uma parte significativa dele reflete a demanda internacional mais fraca por suas exportações e políticas governamentais dos próprios países, que se tornaram uma limitação ao crescimento, à medida que reverteram políticas de estímulo anteriores -cortando gastos ou aumento impostos para reduzir as necessidades de financiamento.
Mas também há outros fatores que afetam a capacidade das economias emergentes de crescer no futuro – que limitam o que o FMI chama de “potencial de crescimento”.
As taxas de juros tendem a subir gradualmente de seus atualmente baixos níveis nos países ricos – particularmente nos EUA e no Reino Unido.
Isso vai afetar as taxas globais e tornar o investimento mais caro em economias emergentes.
Muitos também terão de lidar com o envelhecimento da população e um crescimento mais lento do número de pessoas em idade ativa.
Para alguns, a vantagem demográfica que tinham anteriormente está desaparecendo.
Rússia e China estão entre nesse grupo. Isso foi levado em conta nas projeções do Goldman Sachs. Jim O’Neill diz que, mais recentemente, suas políticas nesta área têm sido “surpreendentemente boas”.
A China está afrouxando sua política de filho único e, diz ele, “a Rússia tem tido algum sucesso no aumento da expectativa de vida com políticas muito mais inteligentes sobre o consumo de álcool.”
Apesar de todos os Brics terem desacelerado nesta década, os que apresentam perfomance mais fracos agora são Brasil e Rússia.
Suas taxas médias de crescimento têm sido inferiores a dos Brics asiáticos o tempo todo e, neste ano, eles desaceleraram ainda mais. Para 2014 como um todo, o FMI projetou crescimento para os dois, mas muito pouco – de 0,3% para o Brasil e 0,2% para a Rússia.
Os dois números, aliás, são um bem menores do que foi previsto este ano até para a zona do euro – apesar de ela ainda estar em crise e ter sido descrita como assombrada pelo “fantasma da estagnação” por Mark Carney, do Banco da Inglaterra.
Jim O’Neill ainda não achar que é o caso de tirar Brasil e Rússia do Brics – mas os últimos anos têm certamente sido uma decepção.
Portanto, não é hora de abandonar os Brics.
Os países do grupo estão passando por alguns problemas, certamente. Para mudar o quadro, a China, em particular, está embarcando em uma operação audaciosa, enquanto busca uma forma diferente e, talvez, em última análise, mais sustentável de desenvolvimento econômico.
Os Brics e seu desempenho importam para o resto do mundo, mais do que importavam na virada do século – o que é, afinal, o ponto principal do conceito original.

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Lobão expulsa de marcha os manifestantes que pedem intervenção militar.

Lobão esculacha quem pede intervenção militar.


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A Veja vai ter o mesmo destino da Info.

Tempos para a Abril
Tempos duros para a Abril.

A Info é a Veja amanhã.
Não é uma frase de efeito. É uma realidade doída. Quer dizer: doída para os leitores da Veja.
O que aconteceu com a Info – desativar a edição regular e manter-se na internet — é o caminho inevitável para as revistas impressas.
Chega uma hora em que o custo – papel, mais gráfica, distribuição etc – supera a receita.
Isso se deve a duas coisas. A primeira é a perda de receita publicitária. Os anunciantes estão debandando das demais mídias para se ajustar à Era Digital.
Seus consumidores não lêem jornais e revistas de papel. Eles se informam em sites de notícias e redes sociais.
É virtualmente impossível encontrar algum jovem com um jornal ou uma revista. Antes símbolo de status intelectual, agora ler revistas ou jornais é sinal de atraso.
Pouco tempo atrás, a L’Oreal, um dos maiores anunciantes por muitos anos do mundo em publicações femininas, comunicou que estava deixando a mídia revista.
Não foi um caso isolado. Foi um episódio a mais numa tendência inexorável.
No exterior, casos como o da Info são muitos. A Newsweek, por décadas a segunda maior revista do mundo depois da Time, hoje existe apenas como site.
Também a Business Week, um colosso entre as publicações de negócios na era do ouro do papel, sobrevive na internet.
Não é o que as editoras de revistas gostariam, mas é a vida como ela é. A internet é disruptora. Ela não se acomoda entre outras mídias, conforme aconteceu sempre. Ela vai matando-as.
Mesmo a televisão, que se imaginava até recentemente a salvo da internet, já está sob ataque.
É a próxima vítima.
Revistas tradicionais podem sobreviver como sites, uma vez que as despesas são infinitamente menores que as habituais.
Esta é a boa notícia.
A má notícia é que a pujança que tiveram no papel não se reproduz na internet.
A experiência já demonstrou que os casos de sucesso no jornalismo digital são de nativos da internet, e não de imigrantes.
Nos Estados Unidos, o fenômeno jornalístico dos últimos anos é o Huff Post, o site de Ariana Huffington.
Nativos se movimentam com muito mais facilidade. Já surgem com custos menores, adequados ao novo meio, e têm uma vantagem competitiva adicional: todo o conhecimento relativo ao papel não vale nada na internet.
A Abril acumulou, em meio século, um extraordinário expertise em fazer revistas de papel. Como fazê-las, como conseguir publicidade, como montar uma carteira de assinantes e renová-la, como conseguir o melhor lugar numa banca etc.
Tudo isso vale nada na Era Digital.
Fora isso, há um vasto contingente de internautas que não acreditam nos bons propósitos do jornalismo das grandes empresas de mídia, seja em que plataforma for.
À medida que o jornalismo digital vai-se tornando dominante, as revistas de papel vão enfrentar uma escolha complicada.
Uma saída é simplesmente fechar. A Abril fez isso com vários títulos. A outra é sobreviver na internet, mas em bases inteiramente diversas.
No longo prazo, é difícil imaginar que qualquer uma das grandes companhias jornalísticas brasileiras – Globo incluída – seja parecida com o que foram até recentemente.
A melhor imagem é a das carroças quando surgiram os carros. Passado algum tempo, não sobrou nenhum fabricante de carroça.
Eu disse longo prazo. Mas longo prazo, na era da internet, costuma ser muito mais rápido do que o habitual.

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