quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Brasil precisa enfrentar a violência de suas polícias e debelar essa tragédia.


O assassinato, a tiros, do surfista Ricardo dos Santos, de Santa Catarina, pelo policial Luiz Paulo Mota Brentano traz à pauta nacional um dos temas caros a este blog: o total despreparo das polícias brasileiras e a necessidade imperiosa de nos debruçarmos sobre o problema para o debelarmos o quanto antes.
Não há outra ou outras saídas: precisamos desmilitarizar as PMs, unificar as polícias e mudar radicalmente os currículos das academias que treinam e formam as tropas militares no país. Toda essa ação e acompanhamento da ação policial hoje, constitucionalmente, ainda é de responsabilidade dos Estados.
No último fim de semana (domingo pp), reportagem publicada em O Globo indicava a escalada ascendente da violência policial. Os levantamentos em que se baseou o jornal para a reportagem indicam que as polícias em  São Paulo e no Rio de Janeiro – os Estados de maiores contingentes policiais no país – chegaram, em média, a matar 30% a mais do que mataram nos anos anteriores. Fica tudo encoberto, elas se protegem sob o manto dos tais “autos de resistência”, a alegação das polícias de que elas matam em confrontos.
Os números impactam e, por isso, fazemos questão de repetir os dados do 8º anuário de segurança pública, editado pela ONG Fórum Brasileiro de Segurança Pública, lançado no final do ano passado. O documento revelava que entre 2009 e 2013, as polícias brasileiras mataram mais do que as polícias norte-americanas mataram nos últimos 30 anos.
Polícia mata 6 pessoas por dia.
Em cinco anos, os policiais brasileiros mataram 11.197 pessoas. Em 30 anos, os policiais norte-americanos mataram 11.090 pessoas. A média de mortes no período (2009-2013) no Brasil foi de 6 pessoas por dia, superior à registrada, inclusive, em países em guerra. Um verdadeiro genocídio, odioso, silencioso e altamente seletivo já que as principais vítimas são jovens negros e moradores de periferia.
Os números deixam claro que sem a desmilitarização das PMs e sem uma mudança na política nacional de segurança pública, o número de mortes provocadas por policiais só irá crescer. Também não poderemos resolver esta questão sem uma radical mudança dos currículos e das escolas de formação e treinamento das tropas policiais. Seus currículos ainda reproduzem resquícios da violência e arbitrariedades da ditadura militar quando as polícias foram enquadradas como tropas auxiliares das Forças Armadas e dos órgãos de repressão.
Soma-se a isso a cumplicidade dos altos comandos policiais e as bancadas da bala no parlamento que estimulam ainda mais a violência. E, sobretudo, a complacência dos governos estaduais com esse tipo de crimes, do qual o caso paulista é um mórbido exemplo.
Nada mudará se a prática do olho por olho for consentida e liberada pelos governos. Eles não podem fazer vistas grossas, tampouco admitir grupos de extermínio, milícias e esquadrões da morte (muitos, formados por policiais), ainda em ação em muitos Estados. Essas ações policiais e a violência como método precisam ser categoricamente reprimidas e desautorizadas.
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RICARDINHO, O SURFISTA VÍTIMA DA TRUCULÊNCIA POLICIAL, FOI SEPULTADO NESTA MANHÃ.




Mais uma vítima fatal da truculência policial, o surfista Ricardo dos Santos, de apenas 24 anos, foi enterrado nesta manhã em Palhoça, na Grande Florianópolis (SC). Ele foi baleado na 2ª feira – no tórax e abdômem – pelo policial Luiz Paulo Mota Brentano, de 25 anos, e não resistiu após ser submetido a quatro cirurgias no Hospital Regional de São José (SC).
Testemunhas contam que Ricardinho, como era chamado, e seu avô, Nicolau dos Santos, pretendiam consertar um cano na frente de casa, exatamente no local onde o policial, acompanhado por seu irmão menor, estacionou o carro. Ricardo pediu ao policial que estacionasse em outro local, mas ele se recusou e na discussão disparou os tiros.
“Quem manda aqui é nós”, teria dito o policial segundo uma das testemunhas. Quando todos achavam que o policial iria embora, ele sacou o revólver e desfechou dois tiros contra Ricardo. O terceiro, afirmam, foi dado pelas costas enquanto o jovem tentava fugir.
O policial se encontra preso e já foi envolvido – e absolvido – em outros processos criminais. Estava de folga e agora alega ter agido em legítima defesa. Ele disse que Ricardinho estava com um facão – que não foi encontrado – e que o ameaçou. As testemunhas contradizem categoricamente esta versão e garantem não ter havido qualquer agressão que justificasse os disparos.
Urge a reunificação e desmilitarização das PMs.
Encerra-se, assim, a vida de um jovem e a trajetória de um atleta brilhante que chegou a vencer uma das maiores lendas do surf, o norte-americano Kelly Slater, durante a bateria do World Tour (WT) em Teahupoo, no Taiti, em 2012.
Ricardinho foi vítima de mais um episódio lamentável e inadmissível de arbítrio por parte de um policial. Um caso sintomático que revela aonde chega o despreparo dos nossos policiais e que, lamentavelmente, todos sabemos não se trata de um caso isolado.
Daí a urgente necessidade da reunificação e desmilitarização das PMs, de mudanças mais radicais no currículos das escolas e no treinamento das tropas de choque e dos PMs em geral.
E, sobretudo: é fundamental lembrarmos que as mudanças começam com os governadores adotando políticas de direitos humanos e desautorizando e reprimindo em toda linha a violência como método de ação das policiais.
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DESPREPARO E COVARDIA DA PM DE ITANHANDU - MG =

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