Onde estão as declarações indignadas das entidades médicas contra a chamada “máfia das próteses”? Onde os protestos veementes da categoria? Onde metade daquele povo que foi aos aeroportos agredir os cubanos, denunciar a invasão comunista, o trabalho escravo e a roubalheira?
O Fantástico fez uma reportagem denunciando um esquema em que fabricantes de próteses pagavam comissões para profissionais de saúde prescreverem seus produtos. O negócio estaria ocorrendo em cinco estados.
Alguns ganhavam 100 mil reais por mês pelo serviço. Funcionava assim: o paciente — ou melhor, cliente –, depois de esperar pela cirurgia na fila da rede pública, ia para uma consulta, onde o médico indicava um advogado. Ele ajudava a pessoa a entrar na Justiça pedindo uma liminar que obrigava o governo a pagar pelo procedimento.
O Cade vai averiguar a existência de um cartel dos fabricantes. Segundo o Tribunal de Contas da União, os gastos com medicamentos e insumos para cumprimento de decisões judiciais passaram de 2,5 milhões reais em 2005 para 266 milhões em 2011.
Ou seja, a história é antiga. De acordo com a Zero Hora, quatro casos estão há um ano sob investigação do Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio Grande do Sul (Cremers). Os processos, diz o jornal, “ocorrem sob sigilo e estão em fase de julgamento”.
Um dos nomes envolvidos na bandalheira é o do ortopedista Fernando Sanchis. Entre outras coisas, Sanchis estaria metido num pedido de liminar para que um plano bancasse uma cirurgia de coluna de um homem em Pelotas. O advogado indicado por Sanchis entrou com o pedido, orçado em 110 mil reais. A liminar foi suspensa e a operação foi realizado por pouco mais de 9 mil.
Sanchis é um combatente ativo contra o programa Mais Médicos. Nas redes sociais — e também para seus clientes, é claro –, gritava contra a corrupção, o socialismo e postava estranhas fotos de execuções policiais. Criou um cartão como uma espécie de resposta para as caixinhas de Natal: “Você votou na Dilma porque ela disse que o Brasil estava maravilhoso e é pra mim que você vem pedir doação ou gorjeta? Vá pedir para a Dilma”, lê-se.
Distribuidores e dirigentes de hospitais estão sendo investigados. Na terça, o presidente da Associação Médica Brasileira soltou uma nota: “Condenamos relação comercial entre médicos e indústria que influenciem condutas, assim como levantem suspeitas sobre a atividade médica. A confiança no médico é fundamental para pacientes. Incentivamos segunda opinião, especialmente em casos mais complexos.”
Se os conselhos e entidades de classe empregarem um milésimo da energia que gastaram contra o “bolivarianismo” para tentar apurar essa sujeira, já será um avanço. Mas eu aposto com você que, no que depender dos médicos, há assuntos mais importantes a tratar.
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*** *** A AGONIA DA EDITORA ABRIL.
A família Civita e o busto do fundador, antes do declínio.
A retirada do busto de Victor Civita do saguão da sede da editora Abril neste começo de janeiro é um capítulo dramático do declínio acelerado daquela que foi uma das maiores empresas de jornalismo.
A Abril está morrendo.
Victor Civita foi abatido porque a Abril já não tinha mais como bancar o aluguel do megalomaníaco prédio da Marginal de Pinheiros.
Ao devolver uma das duas torres, perdeu o direito de exibir o fundador da empresa. Para os futuros inquilinos, o busto de VC, como era chamado, não faria sentido nenhum.
A morte de uma empresa de jornalismo é um processo lento. Não é fácil identificar o momento em que as coisas começam a dar errado.
Depois tudo se aclara, e o fim é evidente. As últimas etapas são agônicas, e é isto o que a Abril está vivendo.
A torre remanescente dificilmente sobreviverá por muito tempo, bem como uma série de revistas e, lamentavelmente, centenas de empregos.
Como todas as empresas que gozam de reserva de mercado e são objeto de mamatas do Estado – anúncios copiosos, financiamentos a juros maternais em bancos públicos – a Abril nunca foi exatamente um modelo de administração.
É o preço que se paga por privilégios. Você não tem que ser o melhor da classe para receber prêmios.
Isto vale para a Abril e todas as grandes empresas jornalísticas brasileiras, a começar pela Globo.
Nunca foram expostas à competição estrangeira e sempre foram mimadas por sucessivos governos: não há receita mais eficaz para a ineficiência gerencial.
Dito isso, a agonia da Abril se deve muito mais a uma mudança de mercado do que a uma gestão trôpega em vários momentos.
Produzir revistas nestes tempos é como fabricar carruagens no final do século 19, quando os carros começavam a ganhar as ruas.
Nem o mais fabuloso fabricante de carruagens sobreviveu com o correr dos dias.
A Abril antecipa o que deve acontecer, no futuro, com outra potência da mídia brasileira: a Globo.
Anos atrás, ninguém imaginava um mundo sem revistas. Mas hoje é fácil imaginar.
Até há pouco também, igualmente, ninguém imaginava um mundo sem tevê como a conhecemos. Mas hoje já não é tão difícil imaginar.
Uma pesquisa recente americana traduziu isso em números. A pergunta que foi feita era a seguinte: você acha que seria duro viver sem o quê?
As alternativas eram internet, celular e televisão. A televisão ficou em último lugar. Alguns anos atrás, na mesma pesquisa, ficara em primeiro: a maior parte dos entrevistados não considerava a hipótese de ficar sem tevê.
Tanto a Abril como a Globo se empenham em ter relevância na internet. Mas jamais se replicará, no universo digital, a relevância que elas tiveram em mídias que vão se tornando obsoletas.
Aproxima-se velozmente do fim o tempo em que a Globo consegue cobrar uma fortuna por comerciais de uma programação em constante declínio.
E está muito distante a era em que a publicidade na internet terá preços remotamente praticados pela Globo na tevê.
Entre uma coisa e outra, a Globo entrará no que se poderia definir como “Vale do Desespero”, para usar uma expressão em voga entre os economistas.
Na destruição de um velho mundo na imprensa e na construção de um novo, a remoção do busto de Victor Civita é um marco histórico.
*** *** *** BOLSONARO DIZ QUE A IMPRENSA VAI MORRER DE FOME SEM VERBAS PÚBLICAS. Jair Bolsonaro prevê censura à @RachelSherazade by @DepBolsonaro
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TERRAS ALTAS DA MANTIQUEIRA = ALAGOA - AIURUOCA - DELFIM MOREIRA - ITAMONTE - ITANHANDU - MARMELÓPOLIS - PASSA QUATRO - POUSO ALTO - SÃO SEBASTIÃO DO RIO VERDE - VIRGÍNIA.
quarta-feira, 7 de janeiro de 2015
Onde está a gritaria das associações de médicos contra a “máfia das próteses”?
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