quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Falta um craque na articulação política do governo.

Falta um craque na articulação política do governo
Falta um craque na articulação política do governo, que seja capaz de inspirar um time que não cria situações de gol…

A derrota para Eduardo Cunha na eleição para a presidência da Câmara Federal, apenas explicitou o desacerto de uma área de extrema importância para qualquer administração pública, a articulação política.
A presidenta Dilma Rousseff vem cometendo erros em uma sequência medonha, desde a sua vitória em outubro de 2014.
Um dos primeiros equívocos foi desmobilizar toda a força empenhada para garantir sua vitória, por movimentos sociais, centrais sindicais, lideranças estudantis e partidos de esquerda, tão logo a conquista do segundo mandato, as duras penas, foi confirmada.
Dilma não soube aproveitar toda a onda criada para reverter, em apenas três semanas, uma derrota que se anunciava para o candidato do PSDB, Aécio Neves.
As bandeiras políticas que ora parecem fadadas a derrota, como a regulação econômica da mídia e a reforma política, deveriam ter sido levadas a opinião pública, em forma de conclamação a um pacto nacional, fazendo jus ao mote de sua campanha: “governo novo, ideias novas”. O conselho político deveria ter mobilizado seus mais progressistas apoiadores e ocupado a agenda do Congresso e da sociedade, já no dia seguinte da declaração do TSE.
Mas o que se viu foi o contrário,o esvaziamento dessas forças a esquerda, desmotivadas por um silêncio sepulcral da presidenta. O primeiro mandato encerrou-se prematuramente e daí instaurou-se um vácuo de poder e de liderança.
A segunda gestão iniciou-se velha. Dilma acatou um ministério fisiológico, com nomes sem grande representatividade no meio político, salvo poucas e boas exceções, como Jacques Wagner, Patrus Ananias, Miguel Rosseto e o controverso e Gilberto Kassab.
Este novo plantel não é novo, nem tampouco traz ideias novas em seu bojo, vide a intervenção de Joaquim Levy na área econômica.
O governo parece sofrer de um inacreditável envelhecimento precoce, que ameaça a hegemonia do PT e a continuidade dos seus mais elogiados programas sociais. Isto, também,está em jogo.
A paralisia política e a desconexa comunicação da equipe de governo com setores importantes da sociedade, são sinais desta velhice antecipada.
O ministério montado para agradar a muitos e assegurar o comando do Legislativo demostraram, inquestionavelmente, o fracasso nas duas ações propostas. A constatação de momento é de que a base aliada não cedeu a Dilma e que, agora, mexer no ministério não resolverá a questão.
A fatura apresentada ao Planalto pelo PMDB é de que esta montagem não lhe garante governabilidade, mas serve de penhora para a sobrevivência política, com limitação de ações e monitorada por pesquisas de opinião.
Cunha não é do tipo que se joga, como um jovem aventureiro, em causas controversas. A priori, nem será aliado, tampouco será o pesadelo mais temido do Planalto de imediato. Seu grupo parece mais disposto a cobrar a conta, para qualquer lado que estiver disposto a pagar, da governabilidade limitada ou do impedimento da presidenta, sem qualquer pressa, pois sabe que tem dois anos de possíveis negócios proveitosos pela frente. Seu estilo é de levar adiante negociações que consumam tempo e recursos, comer pela beirada a melhor parte do banquete servido.
A solução para Dilma, se seus mais próximos auxiliares forem capazes de mobilizar, é conclamar a esquerda e a sociedade organizada progressista, para levar adiante reformas essenciais para a modernização do país, mas para isso terá que, forçosamente, acenar para estes grupos com contrapartidas sociais reclamadas e o barramento da agenda recessiva em curso.
Os sinais precisarão ser muito claros e o apelo convincente para conseguir retirar milhões de brasileiros da descrença de que seu governo não mais parece saudável para arrancar, de seus velhos adversários conservadores, mais avanços na área social.
A sustentação política de Dilma terá que vir das ruas e a presidenta terá que comunicar, em alto e bom som, o que pretende.
Os votos que Cunha amealhou para vencer a disputa pela presidência da Câmara, seriam, indubitavelmente, o piso de um processo de impedimento no Congresso, não há espaço para mais trapalhadas políticas.
O governo não conseguiu, até este momento, preservar suas políticas públicas mais vitoriosas, devido aos erros colossais de suas lideranças [ou falta delas].
Não se pode deixar de especular que, pela paisagem arruinada na coalizão, Lula não é ouvido por Dilma, ou seus assessores, em suas intervenções.
Usando uma metáfora futebolística, que tanto tem feito falta em situações como a que se apresenta, é que Dilma comanda um time em que apenas a camisa não é mais capaz de resolver tudo em campo. Faltam articuladores talentosos escalados nas posições corretas. O que se vê nesta formação é uma defesa desarrumada, um meio campo desconexo e um ataque inoperante, que a bola não chega e não volta para marcar.
O craque, fora de campo, que a tudo assiste, não pode ser convocado para resolver este jogo, porque não está inscrito no certame. Mas bem que poderia ser chamado para dar suas imprescindíveis preleções.
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