terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

O caso Agripino não foi o primeiro em que o Fantástico sonegou o nome de Aécio — e não será o último.

Eles
ELES.


O empresário potiguar George Olímpio deu uma longa entrevista ao Fantástico relatando ter pagado propina para aprovar uma lei que o beneficiava no Detran do Rio Grande do Norte.
Contou que deu dinheiro ao ex-governador Iberê Ferreira de Souza (PSB), ao filho da ex-governadora Wilma Faria (PSB), Lauro Maia, e ao senador José Agripino Maia (DEM-RN), presidente nacional do DEM.
Olímpio declarou ter desembolsado 1 milhão de reais a Agripino a pedido dele. Agripino teria feito uma chantagem, dizendo saber que o interlocutor contribuiu com 5 milhões para a campanha de Iberê de Souza (já morto).
De Miami, Agripino se defendeu: “Eu nunca pedi nenhum dinheiro, nenhum valor a George Olímpio. E conforme ele próprio declarou em cartório, não me deu R$ 1 milhão coisíssima nenhuma.”
Agripino é mais um paladino da moral que engana trouxas com um discurso atacando a corrupção. É também ex-coordenador da campanha de Aécio Neves à presidência, informação que o Fantástico sonegou aos telespectadores na matéria de 7 minutos e 40 segundos. Isso não é um detalhe de sua biografia, evidentemente.
O histórico de Aécio no Fantástico é de blindagem. Em 2012, o programa foi a Cláudio — que ficaria famosa mais tarde por causa de seu aeroporto — para falar de um esquema de venda de habeas corpus para libertar traficantes de drogas.
A polícia apreendera 60 quilos de pasta base de cocaína, parte encontrada numa camionete. O motorista foi preso com um traficante. Foram libertados por decisão de um desembargador chamado Hélcio Valentim de Andrade Filho.
Em frente à cachaçaria Mingote, o repórter falou que a sentença para libertar os homens foi negociada ali, com a presença do juiz e de Tancredo Tolentino, o Quedo.
O nome de Aécio, naquela ocasião, também não foi mencionado — nem para dizer que ele é primo de Quedo, nem para lembrar que a cachaçaria lhe pertencia e nem para esclarecer que foi ele quem nomeou Hélcio Valentim.
“Aécio tem o espírito de homem público, íntegro e, além disso, um homem que trará muita sorte para o país”, disse Agripino sobre seu candidato no ano passado. É o show da vida.
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JOSÉ AGRIPINO, PRESIDENTE DO DEM ACUSADO DE RECEBER 1 MILHÃO EM PROPINA, PREGA CONTRA A CORRUPÇÃO.


José Agripino no combate à corrupção.


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JOSÉ AGRIPINO EXPLICA SUA FUNÇÃO COMO COORDENADOR GERAL DA CAMPANHA DE AÉCIO NEVES.


José Agripino coordena campanha de Aécio Neves.

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O QUE MORO TEM A DIZER SOBRE AS CONDIÇÕES EM QUE VIVEM OS PRESOS DA LAVA JATO ?

Um banheiro precário para ser usado em público pelos detidos para o que for
Um banheiro precário para ser usado em público pelos detidos para o que for.


A Folha confirmou, sem citá-lo, algo que presumo não fazer parte de seu manual de jornalismo, Paulo Henrique Amorim.
Poucos dias atrás, PHA gravou um vídeo em que relatou as condições abjetas em que vivem na cadeia, em Curitiba, os presos do juiz Sérgio Moro na Operação Lava Jato.
Folha foi atrás da pauta, com uma de suas jornalistas mais prestigiadas, Mônica Bergamo, e encontrou exatamente o quadro descrito no vídeo de PHA. (Vejo agora, ao fazer uma breve pesquisa, que o Globo também seguiu a PHA. Imagino o quanto ele tenha rido com isso tudo.)
Não é algo que honre muito Moro a vida que levam os detidos.
Os presos da Lava Jato têm, em cada cela, um arremedo de banheiro que utilizam, seja para que for, à vista de todos.
Nas refeições, uma faca de plástico incapaz de cortar carne os obriga a comer com a mão.
No capítulo das misérias, foi-lhes proibido o uso de relógio na prisão, o que significa ficar o dia inteiro sem saber as horas. É algo particularmente torturante para quem está preso e não tem nada a fazer. Também não podiam ler.
Há uma clara situação de direitos humanos violados, sob o comando de Moro, e é um horror que a mídia tenha ficado inerte até que PHA se movimentasse.
Inerte, não. Com sua habitual canalhice, a Veja, em dezembro, teve acesso ao dia-a-dia dos presos. O texto sugeria que eles tinham regalias dignas de um hotel.  A revista disse ter ouvido uma familiar, que teria afirmado o seguinte:  “Não há do que reclamar do ponto de vista humanitário.” Quem acredita que essa familiar exista, e que a frase seja genuína, acredita em tudo, como disse Wellington.
Nunca nenhuma grande empresa jornalística fez uma campanha pela melhora das prisões brasileiras.
Tanto dinheiro público jorrando nelas – anúncios, compras de livros e assinaturas, financiamentos camaradas em bancos oficiais – e mesmo assim nenhum jornal ou revista separou, em qualquer instante, os recursos necessários para lutar por uma causa social tão relevante.
Você conhece um país por suas cadeias, e as brasileiras são degradantes. Na Noruega, numa missão jornalística, visitei o presídio de Bastoy, próximo de Oslo. Os prisioneiros vivem em chalés, dispõem de cavalos e campos de futebol para se entreter e, nos finais de semana, podem receber parentes e amigos para um churrasco.
Naturalmente, podem usar relógios à vontade.
A isso se dá o nome de civilização.
“Nosso objetivo é recuperar os presos, e isso não se consegue submetendo-os a castigos e humilhações sem sentido”, me disse o diretor da cadeia de Bastoy, uma referência mundial.
Quando a imprensa vai criar vergonha e pressionar por condições humanas para os presos?
Tenho a resposta. Apenas quando o dono de alguma grande empresa jornalística for preso.
Sonegação, em sociedades avançadas, dá cadeia. O antigo presidente do Bayern, que era tido como cidadão modelo na Alemanha até que se descobrisse uma conta secreta na Suíça, cumpre sentença hoje de cinco anos numa prisão alemã.
Arrependido, ele decidiu não recorrer da decisão da Justiça, por entender que dera um péssimo exemplo para os alemães e tinha que mitigar os danos à sociedade de alguma forma simbólica.
Só assim a imprensa se mobilizará: no dia em que um dos barões enfrentar uma situação parecida com a dos detidos da Lava Jato.
Tão entretida em bajular Moro por motivos ideológicos e partidários, os donos da mídia fecharam os olhos para seu lado b, assim como já tinham feito com Joaquim Barbosa.
Nosso garoto-pobre-que-mudou-o-Brasil, aspas e gargalhada, inventou uma empresa em Miami para driblar o fisco americano na compra de um imóvel. Mesmo assim, por ter sido poupado pela mídia amiga, ainda se julga em condições de dar lição de moral aos brasileiros.
A revista Época, da Globo, disse há pouco que Moro é um dos homens que “estão mudando” o Brasil.
É muita gente “mudando” o Brasil para que tudo – vantagens, privilégios de um pequeno grupo – permaneça exatamente como está desde sempre.
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O DIRETOR DA GLOBO QUE QUER CASSAR 54 MILHÕES DE VOTOS.

Sem noção
Sem noção.
O que acontece quando um jornalista acredita na Veja e é formado pela Globo?
Bem, são grandes as chances de ele se tornar Erick Bretas.
Bretas, que ocupou diversas posições de destaque no telejornalismo da Globo e hoje é seu diretor de Mídias Digitais, fez ontem uma coisa que desafia a capacidade de compreensão.
Defendeu, no Facebook, a cassação de 54 milhões de votos dados há menos de cinco meses para Dilma.
Ele acha que Dilma deve ser objeto de impeachment. E fez questão de avisar que estará na manifestação pela queda do governo eleito em 15 de março.
Uma jornalista da grande mídia, extremamente incomodada com a fanfarronice de Bretas, foi quem me avisou.
Eu jamais ouvira falar dele, e lamento tê-lo conhecido. Mas não me surpreendo.
É uma oportunidade de as pessoas saberem como é feito o jornalismo da Globo, para além dos comentaristas e apresentadores que estão na tela.
Atrás deles, há coisa igual ou pior, como Bretas.
Ele foi diretor executivo de jornalismo da TV Globo, cargo no qual foi substituído pela jornalista Sílvia Faria, celebrizada por ter mandado tirar o nome de FHC do noticiário da Lava Jato.
Você lê Bretas e descobre por que o jornalismo da Globo é o que é.
Ele cita a Veja, publicação sem nenhum compromisso com a verdade há muitos anos, como um muçulmano se refere ao Corão.
Isso o faria um analfabeto político, apenas, não fosse a posição que ocupa na Globo.
Imagine a forma como ele editou as reportagens quando ocupou posições de chefia na emissora. Agora pense no que esperam os consumidores do jornalismo digital da Globo sob seu comando.
E o fato é que Bretas é um na multidão dentro da Globo.
Fica claro, lendo o seu bestialógico, por que a Globo escondeu o helicóptero com meia tonelada de pasta de cocaína descoberto no helicóptero de um amigo fraternal de Aécio.
Também ficou evidente por que o aeroporto de Cláudio não mereceu uma cobertura minimamente decente da Globo.
Com editores como Bretas, como esperar que a Globo fosse tratar como deveria o espetacular caso das contas secretas do HSBC?
Isso só vai virar assunto se aparecer, na lista das contas, alguém ligado ao governo. Desde que, naturalmente, nela não figure alguém da família Marinho.
Bretas é uma aberração jornalística, e uma tragédia para o jornalismo brasileiro. Dado o alcance da Globo, e seu poder de manipulação, é uma ameaça à sociedade. Quantos cidadãos ingênuos não são deformados pelo trabalho de jornalistas como ele?
Pessoalmente, gostaria de saber se sua indignação não se estende à sonegação multimilionária de sua empresa.
Também queria saber, imaginando que ele seja um advogado do livre mercado, sua opinião sobre a reserva que ainda hoje beneficia a Globo e demais empresas jornalísticas.
Talvez fosse bom também ouvi-lo sobre o Mensalão eterno da Globo – o dinheiro público em doses colossais que acorre à empresa por meio de publicidade federal.
Sem esse dinheiro, coisa de meio bilhão ao ano de reais apenas do governo federal (sem contar os estaduais), a Globo, tal como conhecemos, verga e quebra. E Bretas, o homem que quer cassar Dilma, perde sua boquinha.
Ele avisa, num tom estranhamente solene, que vai para a rua em 15 de março — não como um repórter para cobrir o protesto, ou mesmo como um editor para observar as coisas, mas como o que de fato é: um militante de direita fantasiado de jornalista.
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