quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

O partido com maior poder no Brasil é clandestino.



Por Fernando Castilho*


Mídia, ”Hoje você é quem manda
Falou, tá falado
Não tem discussão
A minha gente hoje anda
Falando de lado
E olhando pro chão, viu
Você que inventou esse estado
E inventou de inventar
Toda a escuridão…” (trecho de Apesar de Você, de Chico Buarque)
Não pensem que o partido que comanda a direita no Brasil é o PSDB. Também não é o PMDB, embora possua maior número de cadeiras no Congresso.
O partido com mais poder no Brasil não é nenhum desses. Ele não tem sigla, não tem presidente nem número.
Nele não se vota, antidemocrático que é. E por não ser democrático, ajudou há mais de 50 anos atrás a derrubar a democracia do Brasil. E ainda hoje estimula golpes de estado , haja vista a pregação de colunistas a favor do impeachment da presidenta Dilma.
Dispõe de tempo ilimitado na TV, fora do horário político. Às vezes nem percebemos que está fazendo propaganda, pois utiliza-se largamente de mensagens subliminares.
Não tem plataforma política, projeto ou programa para o Brasil. Tem para si próprio, mas não os revela. Nem poderia, pois são contrários aos interesses da grande maioria da população.
Não aparece nas pesquisas eleitorais, uma vez que seu nome nunca nelas é incluído, partido clandestino que é.
É pródigo e pragmático em fazer alianças com partidos legalizados que fazem o jogo da direita, sua orientação política por excelência. Utiliza-se de PSDB e PMDB como instrumentos para atingir seus objetivos inconfessáveis. Como em qualquer aliança desse tipo, em caso de vitória de sua ”coligação”, cobrará mais tarde a fatura.
Recentemente fez campanha para que o deputado Eduardo Cunha (PMDB) vencesse a eleição para a presidência da Câmara, ele que é o lobista a favor da grande mídia, mais influente no Congresso.
Mas, se vitorioso, esse partido jamais fará parte oficialmente do Governo, uma vez que prefere ficar nos bastidores dando a devida cobertura aos seus títeres, encobrindo deslizes e fraudes e enaltecendo medidas inócuas ou de caráter duvidoso como sendo as mais importantes para o país. Já fez isso antes e quer fazer de novo.
Não hesita em vender à população a ideia de uma Petrobrás falida, pois é sua intenção desvalorizar a Companhia para que seja vendida mais tarde a preços módicos para os americanos, que babam pelo Pré-Sal.
Não hesita também em injetar na mente das pessoas o ódio ao PT e a outros partidos de esquerda, obstáculos para atingir seu intento.
Por ser clandestino, esse partido é dissimulado. Não revela suas reais intenções. Não assume publicamente sua orientação. Pelo contrário, diz-se neutro, de centro, democrático.
Não titubeia em distorcer fatos, mentir, destruir reputações, criar escândalos, acusações sem provas nem fontes, enfim, tudo que estiver ao seu alcance para atingir seus objetivos. Para isso utiliza-se de um número fabuloso de panfletos, alguns vendidos diariamente, outros semanalmente. Alguns vendidos também na TV e na internet.
Nesses panfletos, conhecidos como revistas e jornais, militantes pagos, conhecidos como jornalistas e colunistas, figuras bem conhecidas do público, de fala empostada e eloquente, invariavelmente aparecem como figuras indignadas com o ”descaso” ou a corrupção” dos adversários. Somente dos adversários.
Pois é, a grande mídia brasileira é um partido clandestino. Também chamado de PIG, Partido da Imprensa Golpista.
Já dizia Joseph Pulitzer, ”Com o tempo, uma imprensa cínica, mercenária, demagógica e corrupta formará um público tão vil como ela mesma”
Segundo Altamiro Borges do Blog do Miro, “A mídia é um duplo poder: econômico e político, o único que tem liberdade é o dono. Ainda tem os interesses ideológicos e a consequente manipulação da informação. O que não interessa é omitido e o que interessa é realçado. Atualmente, 30 impérios comandam a comunicação no mundo. No Brasil, está na mão de apenas sete famílias: Marinho (Globo), Abravanel (SBT), Saad (Band), Macedo (Record), Frias (Folha), Mesquita (Estadão) e Civita (grupo Abril).”
Está claro que o Brasil precisa de uma Lei de Democratização dos Meios de Comunicação.
Trata-se de uma lei que existe nos Estados Unidos desde 1934. Ela exclui a possibilidade de um detentor de Concessão Pública de TV, como a Globo, por exemplo, possuir jornais e revistas. Lá ela não poderia.
Essa lei também existe em quase todos os países avançados democraticamente. Recentemente foi aprovada na Argentina e na Inglaterra.
Nelson Breve presidente da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), diz: “Há uma grande contradição entre o que é serviço público e o que é atividade econômica. O problema é que o poder público transfere um serviço público para ser atividade econômica e muitas empresas privadas não cumprem esse dever público de princípios e deveres. É o poder público que tem o poder de regulamentação, o poder privado é apenas uma atividade complementar. Isso está no artigo 220 da Constituição.”
O jornalista Laurindo Leal Filho, professor da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP) lembrou que ”na década de 50 existia no Rio de Janeiro, por exemplo, dezoito jornais diários. O mesmo ocorria em São Paulo e em várias capitais. Hoje, existem três ou quatro veículos replicados por todo Brasil (Globo, Folha e Estadão, com algumas presenças regionais em nível de maior representação).”
A Democratização de Meios daria possibilidade de surgimento de um número maior de jornais, que poderiam equilibrar forças com os jornalões.
As Concessões de Rádio e Televisão têm que ser revistas, principalmente no sentido de se exigir que em sua grade haja maior número de produções educativas e nacionais. Além disso, há a necessidade da divulgação do contraditório a quaisquer comentários de cunho econômico, social ou político.
Mas qual é o perfil de quem lê os principais jornais escritos todos os dias?
Uma parte, a maior, acredita em tudo aquilo que está publicado. No dia seguinte repete tudo como se fora papagaio, seja no trabalho, em roda de amigos ou nas redes sociais.
Outra parte, nessa me incluo, lê para ter um indicativo, uma fonte a mais, mas nunca a definitiva. São pessoas que buscam informações sobre os assuntos publicados, em outras fontes. Só após isso, definem uma opinião. E como há fontes a pesquisar, não?
Venício A. de Lima, professor, aposentado como titular de Ciência Política e Comunicação da UnB defende que durante o processo de discussão ampla para elaboração de um Projeto de Lei de Democratização de Meios de Comunicação, seja consultado um grande leque de representantes da sociedade civil, inclusive os próprios meios de comunicação, para que sejam atendidos, democraticamente os anseios da população nessa área.
Estamos acompanhando no momento a desvalorização do profissional jornalista que se sujeita a salários cada vez menores e é obrigado a assinar um contrato como Pessoa Jurídica, abrindo mão de direitos trabalhistas.
Enquanto isso, jornalistas recém-formados e estagiários dispostos a lamber as botas do patrão para fazer carreira rapidamente, vão preenchendo as vagas de jornalistas mais tarimbados. É por isso, que lemos e vemos diariamente repórteres e colunistas sem nenhum compromisso com o cidadão, deitando o verbo em qualquer coisa que o governo faça ou desfaça, ou mesmo não faça.
Com isso, mesmo que a tiragem dos jornais e a audiência dos telejornais despenquem, como vem acontecendo, os magnatas da mídia mantém seus altos lucros.
A internet com suas redes sociais publicando e compartilhando os mais variados assuntos em tempo quase real, mesmo que tenham fontes duvidosas e não confiáveis (exatamente como na grande mídia), conquistam dia a dia público cada vez maior. Além disso, os blogs, principalmente os de política, com seus autores antenados e perspicazes, são outra grande ameaça à imprensa.
No ano passado tivemos um exemplo de como a grande mídia ficou revoltada, espumando de ódio por Lula preferir conceder entrevista a blogueiros e não a ela. Desprestígio.
Não está muito longe o dia em que a grande mídia deixará de ter a mesma força que tem hoje.
De qualquer forma, não parece estar preocupada com isso, já que está prometido por FHC, desde que o PSDB perdeu as eleições para Lula em 2002, uma generosa ajuda do BNDS se os tucanos um dia voltarem ao poder…
*Fernando Castilho é arquiteto urbanista, formado pela USP. Professor e blogueiro, mantém o blog “Análise e Opinião”. Mora no Japão de onde passa a ser colaborador fixo do QTMD?

Nenhum comentário: