sexta-feira, 17 de abril de 2015

Moro dividiu ainda mais um país já suficientemente dividido. Por Paulo Nogueira.

Ele jamais deveria ter subido a esse palco
Ele jamais deveria ter subido a esse palco.


Se Moro fosse um produto lançado recentemente, e não um juiz, caberia para ele a seguinte palavra: flopou.
Moro flopou.
Flopar, como sabemos todos, vem de flop, fracasso em inglês.
Pois é. Moro fracassou. Fracassou miseravelmente.
A maior de todas as razões é que ele acabou trazendo ainda mais divisão a um país que já estava suficientemente dividido antes que ele saísse da obscuridade paranaense em que vivia e trabalhava.
Como Joaquim Barbosa antes dele, Moro é hoje idolatrado pelos conservadores e detestado pelos progressistas.
A culpa é dele ou das circunstâncias, você poderia perguntar.
Claro que as circunstâncias favorecem. Você tem hoje um Brasil parecido, sob certos aspectos, com a Venezuela – visceralmente dividido.
Mas Moro com certeza deu sua contribuição pessoal. Ele jamais deu à Lava Jato uma coloração apartidária, assim como Joaquim Barbosa e o STF, um pouco atrás, para o Mensalão.
Mais uma vez, fica a sensação que o principal alvo não é exatamente a corrupção, mas o PT e o governo Dilma.
E disso resulta a percepção, entre tantos brasileiros, de uma justiça injusta, simbolizada há algum tempo em JB e agora em Moro.
Os desvios de conduta da Lava Jato se manifestaram, ao longo da campanha eleitoral, em vazamentos descaradamente construídos para minar Dilma.
Só agora, muito depois das eleições, é que se soube, por exemplo, que o doleiro Youssef citou Aécio e sua irmã no jamais investigado Caso Furnas.
Imagine o impacto que isso teria nas urnas.
Aécio foi poupado dos vazamentos, como em tantas outras coisas, ao passo que Dilma foi massacrada.
Que Aécio ainda assim tenha sido derrotado mostra a sua fragilidade como candidato, e a deterioração de seu partido.
Moro jamais se pronunciou contra os vazamentos, ou tomou alguma atitude que demonstrasse seu desagrado.
Especulo aqui que seu comportamento seria provavelmente outro se vazassem coisas sobre Aécio.
Passadas as eleições, Moro cometeu uma monumental tolice ao aceitar um prêmio da Globo e subir ao palco, num contentamento provinciano, com João Roberto Marinho.
Justiça e imprensa não podem se misturar. Não em circunstâncias normais, e menos ainda no quadro vivido pelo país.
Você jamais vê na Inglaterra, para pegar apenas um exemplo, um juiz confraternizando com Murdoch. É ruim para a imagem de ambos, e a sociedade simplesmente não tolera esse tipo de associação.
Agora, a discutível prisão do tesoureiro do PT — no mesmo dia em que a esquerda marcara protestos contra a terceirização – lança ainda mais sombras sobre a isenção de Moro.
No twitter, uma hashtag que viralizou nesta quinta retrata o que muita gente pensa, e não estou falando apenas de petistas.
Ei-la: #ExplicaMoroPorqueSoPT.
O fato é que Sérgio Moro não tem nenhuma explicação razoável para isso.
O país necessita, com urgência, vencer uma divisão que o vai tornando parecido com a Venezuela.
Moro veio para dividir ainda mais.
Por isso flopou. Por isso fracassou.
Por isso, também, ele é uma figura que faz mal ao país.
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http://www.diariodocentrodomundo.com.br/moro-dividiu-ainda…/

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AO BUSCAR O IMPEACHMENT, AÉCIO TEM TUDO PARA SER VÍTIMA DA HISTERIA COLETIVA QUE AJUDOU A CRIAR.


Ele

O ódio, já apontou alguém, não é um bom conselheiro. Aécio Neves tem tudo para ser uma vítima da histeria coletiva que ajudou a fomentar.
Tentando pegar uma carona nos protestos, o senador está articulando com outros cinco partidos a pavimentação para um pedido de impeachment.
Depois de o PSDB encomendar pareceres a juristas, Aécio afirmou que, caso se comprove a participação de Dilma nas chamadas “pedaladas fiscais”, vai agir “como determina a Constituição”. Leia-se tentar o impedimento.
Líderes dos movimentos antigovernistas se reuniram com ele e com dirigentes do DEM, PPS, PSB, PV e SD. Cobraram uma posição clara sobre o afastamento de Dilma e de Toffoli, entre outras reivindicações listada numa Carta do Povo Brasileiro (sacou a pegadinha?).
Rogério Chequer — chamado popularmente de “Chequer Sem Fundo” –, do Vem Pra Rua, falou que o resultado das manifestações dependia agora do Congresso. “Por que a oposição não pode se organizar? Chegamos ao nosso limite, levamos 3 milhões de pessoas as ruas”, disse.
“Quero deixar claro que viemos aqui para dizer um sonoro sim para a pauta das ruas e queremos o apoio das redes sociais, dos movimentos, isso é o impulso que essa Casa precisa para fazer valer esse sentimento”, devolveu Aécio. “Vocês tem o instrumento que nos faltava, que é o apoio popular”.
Até ontem, Aécio era um golpista recalcitrante. No dia 15, deu o ar da graça na janela do apartamento no Leblon com uma camisa da seleção brasileira. No 12, não atendia nem o telefone. Isso depois de gravar um vídeo conclamando a população a ir para a avenida. Foi xingado, posteriormente, de cagão para baixo.
Enquanto isso, Jair Bolsonaro era tratado como heroi. O deputado fascista foi tietado e apareceu em mais selfies na Paulista do que os PMs. Seu competidor era Ronaldo Caiado, o médico que veste uma camiseta amarela com quatro dedos em homenagem a Lula e está a cada dia mais celerado, especialmente depois da cacetada que tomou de Demóstenes Torres.
Embora esses grupos tenham dado um voto útil para Aécio contra Dilma, a agenda é obscurantista e antidemocrática, embora supostamente liberal. Têm como ponto em comum a inspiração em Olavo de Carvalho e seu anticomunismo doidivanas. O velho Olavo que considera o PSDB “um partido da Internacional Socialista” e que disse que Aécio foi uma “ejaculação precoce” em 2014. A tal carta cita uma das obsessões lelés olavísticas, o Foro de São Paulo.
Em Curitiba, o vereador tucano Professor Galdino saiu escorraçado da marcha do dia 12, depois de tomar cascudos. Um retrato do pessoal que essas milícias estão mobilizando está na pesquisa conduzida pelos professores Pablo Ortellado, da USP, e Esther Solano, da Unifesp, em São Paulo no 12 de abril. Apenas 23% confiam muito em Aécio e 11% no PSDB.
“Baixa confiança nos partidos; baixa confiança na imprensa: pilares da democracia liberal colocados em xeque”, resumiram Ortellado e Ester num artigo.
É com essa massa cheirosa que Aécio Neves está flertando em sua louca cavalgada. Parabéns aos envolvidos.
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