sábado, 9 de maio de 2015

É absurdamente cedo para avaliar o segundo mandato de Dilma. Por Paulo Nogueira.

Começo de jogo ainda
Começo de jogo ainda.


Uma das coisas mais difíceis é enxergar o óbvio.
Lula,em sua visita ao Acre, mostrou que é muito bom nisso.
Ele lembrou algo que todo mundo parece ter esquecido no calor das discussões políticas: Dilma está há apenas cinco meses em seu segundo mandato.
É cedo, absurdamente cedo, para um julgamento definitivo.
Num jogo de futebol, seria o equivalente a tecer considerações com base em dez minutos de partida.
Tirada toda a espuma, o que há de concreto neste começo de Dilma 2?
A Petrobras acabou? Não.
O dólar desembestou? Não.
A inflação saiu do controle? Não.
O desemprego deslanchou? Não.
Note: tudo isso, e muito mais, era propagado freneticamente pela imprensa e por políticos como Aécio e FHC.
De concreto, o que existe é que, como basicamente todos os países do mundo, o Brasil vai enfrentar um 2015 desafiador na economia.
As previsões giram em torno de uma queda de 1% no PIB. Não é muito diferente do cenário de outros países.
A Rússia, para ficar num caso, trabalha com a hipótese de uma redução de 5% no PIB.
A própria China dos 14% de crescimento anual refez para baixo suas contas. Se avançar 7% em 2015, a China vai fazer muita festa.
Há um fator psicológico neste outono do descontentamento brasileiro.
A palavra-chave, aí, é “ajuste”.
Acho que o governo deveria, espertamente, ter trocado “ajuste” por qualquer outra coisa: “acerto”, “equilíbrio” etc.
Se você olhar sem paixão, vai entender que ajuste é uma coisa rotineira na vida das pessoas, das empresas e dos países.
O que faz a diferença é o teor dos cortes.
Em meus dias de executivo de mídia, promovi vários ajustes. Estávamos gastando além de nossas possibilidades e de nossas receitas.
Sempre procurei poupar, nos cortes, o conteúdo. Evitei demitir jornalistas e coisas do gênero.
Num governo é a mesma coisa. Cortes de despesas muitas vezes são vitais para que, logo depois, você volte a crescer mais.
Dilma está fazendo um acerto, e Aécio também faria.
Qual seria a diferença?
Dilma tem um compromisso com os “descamisados”. E Aécio é um homem do 1%.
Nos primeiros quatro anos, os fatos comprovaram o foco social de Dilma.
Agora é uma nova etapa.
Dizer que ela esqueceu os pobres neste momento, com cinco meses de mandato, é uma afirmação míope, cínica ou, simplesmente, tola.
Há que esperar.
Quando se trata de governo, você julga pela floresta, e não por uma árvore.
Dilma pode fazer um péssimo segundo governo, é verdade. Mas ainda é mais verdade que não existe a mais remota base para afirmar isto agora, em maio de 2015.
O maior talento de Lula talvez seja o de ver as coisas óbvias quando outros políticos, incluídos gente de seu próprio círculo, enxergam brumas e interrogações.
No Acre, ele fez isso.
Voltando à parábola futebolística, é como se você estivesse na arquibancada e, logo no começo do jogo, alguém gritasse, ululante: “Perdemos!”
Você diria: “Calma. Deixa o jogo ser jogado.”
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O FACTOIDE SOBRE MUJICA E O MENSALÃO É MAIS UM GOLPE BAIXO PARA ATINGIR LULA 2.018.

Eles
Eles.


A campanha contra Lula 2018 produziu mais um capítulo infame. O Globo “revelou” que Lula teria dito a Pepe Mujica que sabia do mensalão. A história teria sido tirada da recém-lançada biografia de Mujica, “Una oveja negra al poder”, dos jornalistas uruguaios Andrés Danza e Ernesto Tulbovitz.
O trecho que serviu para esquentar a matéria desmente a manchete. Hove uma reunião em Brasília nos primeiros meses de 2010. Segue o que se passou:
‘Lula não é um corrupto como Collor de Mello e outros ex-presidentes brasileiros’, disse-nos Mujica, ao falar do caso. Ele contou, além disso, que Lula viveu todo esse episódio com angústia e com um pouco de culpa. ‘Neste mundo tive que lidar com muitas coisas imorais, chantagens’, disse Lula, aflito, a Mujica e [o vice] Astori, semanas antes de eles assumirem o governo do Uruguai. ‘Essa era a única forma de governar o Brasil’, se justificou. Os dois tinham ido visitá-lo em Brasília, e Lula sentiu a necessidade de esclarecer a situação.
A frase sobre “a única forma de governar o Brasil” é um complemento daquela sobre “as coisas imorais, chantagens”. Você precisa de uma dose grande de má fé para enxergar a tal “confissão” ou o sonhado “Eu sabia”.
O próprio Danza declarou ao G1: “O que Lula transmitiu ao Mujica foi que é dificil governar o Brasil sem conviver com chantagens e ‘coisas imorais’”.
Danza e Tulbovitz trabalham na revista Búsqueda, que, na descrição do jornal, é uma das “semanais mais respeitadas do Uruguai” (é remotíssima a possibilidade dos jornalistas do Globo haverem folheado uma Búsqueda na vida).
Eles acompanham a trajetória de Mujica desde 1998 e afirmam que tiveram encontros pessoais toda semana. As conversas foram utilizadas na obra de 303 páginas.
Mujica fala bem e bastante e o livro tem diversas passagens que, retiradas do contexto, viram fofocas ao gosto do freguês. Sobre seu vice Danilo Astori, por exemplo: “Falta-lhe sex appeal. Sempre está para ser presidente e vai continuar aí porque não tem picardia, lhe falta maldade. Danilo não tem isso, é puramente racional e não alcança o coração das pessoas. Ele pode ser admirado, não amado. Outro problema que tem é falar uma língua que as pessoas não entendem um caralho. Isso é um pecado capital para ganhar votos.”
A respeito de seu sucessor Tabaré Vásquez: “Outro dia eu o vi perto de Anchorena sem nenhuma maquiagem. Tabaré é dos que se produzem. Mas eu o vi sem nada e está velho. Psicologicamente, ele e Astori estão mais velhos do que eu. Ser jovem é um pouco louco e Tabaré não vai cometer nenhuma loucura”.
O ex presidente Julio María Sanguinetti é “um capo, um encantador de serpentes”. Depois do episódio em que chamou Cristina Kirchner de “velha” e o marido Néstor de “caolho”, Mujica teria falado em seu país: “Eu caguei. Estraguei tudo, puta que o pariu”.
E por aí vai.
O Institulo Lula não respondeu, por enquanto. Mujica provavelmente não vai falar nada porque não há nada a falar. Segundo a biografia, ele quase não usa computadores. “Estou cansado de ler idiotices”, diz. Batata.
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