Não disse o que disseram que ele disse no Congresso do PT.Por Paulo Nogueira
Alguém posta no Twitter uma nota do Painel da Folha, e acabo lendo a coluna toda.
Eles sempre destacam uma frase, e foi ela, a deste domingo, que me chamou a atenção.
É de Cássio Cunha Lima, senador do PSDB. Trata-se de um caso raro: mesmo sendo do PSDB ele conseguiu ser cassado quando era governador da Paraíba.
Dado o regime de impunidade para tucanos que vigora no país, você pode imaginar as coisas que ele fez para ser chutado do poder.
Ele se elegeu senador em 2010, mas foi impugnado pela Lei da Ficha Limpa. Mas recebeu uma mãozinha do STF, que decidiu fazer valer a lei para apenas a partir das eleições municipais de 2012.
E então esse ínclito senhor conquistou sua vaga no Senado.
Para ganhar o destaque do Painel da Folha, ele fez o básico, uma tática infalível para os que querem os holofotes da mídia: atacou Lula.
Segundo ele, e a Folha consequentemente, Lula perdeu “completamente o pudor por comemorar a demissão de jornalistas”.
A mesma tese fora defendida já pelo blogueiro Josias de Souza em outra empresa de mídia da Folha, o UOL.
Josias usou apenas um verbo diferente: de acordo com ele, Lula “debochou” dos jornalistas demitidos.
Deboche ou comemoração, isso teria ocorrido no Congresso do PT em Salvador.
O único problema é o seguinte: Lula não comemorou as demissões e nem muito menos debochou dos demitidos.
O vídeo da fala deixa claro isso.
É um caso de brutal má fé, de distorção selvagem de palavras, de atribuição canalha de intenções.
Lula simplesmente registrou as demissões na mídia. Seu ponto era que as pessoas parecem ter se cansado de ouvir as mentiras da imprensa.
Mentiras, por exemplo, como estas do UOL e, pela boca do impoluto senador tucano, da Folha.
Como um estudioso da mídia, eu acrescentaria que Lula contou parte da história – a desonestidade da imprensa.
A outra parte é a Era Digital, que transformou em dinossauros as grandes corporações jornalísticas.
Mesmo que fossem imparciais, bem escritos, brilhantes, jornais e revistas não escapariam da agonia, uma vez que o consumo de notícias se consagrou na internet.
Muito melhor emaior do que similares brasileiros, a revista americana Time agoniza.
Os donos da Time – durante décadas uma referência mundial de jornalismo – tentam há anos encontrar comprador para a revista, inutilmente.
A grande rival da Time, Newsweek, outro símbolo para jornalistas da minha geração, simplesmente desapareceu.
A Veja, que nasceu como cópia da Time, agoniza como a revista que a inspirou. Com publicidade despencando, ela se agarra a uma última falácia: a da circulação de 1 milhão.
A Abril gasta uma fortuna para manter essa miragem. Milhares e milhares de ex-assinantes continuam a receber a revista sem pagar nada.
Antes, a conta – cada exemplar custa alguns reais — era paga pela publicidade. Agora que os anúncios se foram, a empresa tem que gastar dinheiro dela mesma para imprimir revistas distribuídas gratuitamente.
É mais que previsível que, em breve, a Abril faça um ajuste na circulação da Veja para trazê-la para a dura realidade – talvez, com sorte, metade do falso milhão.
Lula não colocou este contexto ao falar na crise da imprensa, mas ele não estava numa conferência de mídia.
E muito menos comemorou ou debochou: registrou um fato.
O problema maior não está nos jornalistas demitidos: a carreira jornalística acabará se reorganizando na internet.
O drama real está nas grandes empresas – para as quais o destino tende fortemente a ser o dos fabricantes de carruagens quando surgiram os carros.
Dado o mal que elas fazem à sociedade ao defender um modelo de privilégios e desigualdade, quem lamenta?
***
*** *** EDUARDO CUNHA, PRESIDENTE DO ESTADO EVANGÉLICO DO BRASIL.
Ele.
Por Kiko Nogueira
Eduardo Cunha aparelhou e domesticou o legislativo com seu time de evangélicos. No vácuo de poder deixado por uma presidente enfraquecida, ele é, efetivamente, quem pauta a agenda política.
O estilo cesarista casa perfeitamente com o medievalismo de seus aliados pentecostais. Aos poucos, diante de pouca ou nenhuma resistência, eles foram entrando como ratos em cada cômodo da casa.
Cunha anunciou que acha normal manifestações religiosas na Câmara, como a que aconteceu na semana passada quando deputados rezaram o Pai Nosso e berraram “Viva Jesus” num protesto contra a Parada Gay. Absolutamente à vontade, os pseudo ultrajados passearam pelas tribunas, subiram na mesa, fizeram o diabo.
Foi tudo planejado na véspera com Cunha, embora ele afetasse surpresa quando lhe foi cobrada a afronta à laicidade. “Não posso impedir a manifestação do parlamentar, não posso calar a boca de parlamentar, como não impedi de bater panela”, disse.
A ocasião faz o ladrão e Cunha aproveitou para dar caráter de urgência a um projeto de lei que criminaliza a “cristofobia”. Não foi, evidentemente, a primeira demanda evangélica a que ele dá sustentação e prioridade total.
Anunciou que aborto não vai pautar nem que a vaca tussa, mas reenviou o projeto de proibição de adoção de crianças por casais homossexuais. Ressuscitou a palhaçada do Dia do Orgulho Hétero.
Nomeou para a Diretoria de Recursos Humanos uma certa Maria Madalena da Silva Carneiro, evangélica, advogada e teóloga (pobres teólogos, deus os livre e guarde). Maria Madalena cuidará de 80% do orçamento da Câmara (4,189 bilhões de reais).
Ela não passou por concurso público. Uma semana antes da indicação, Cunha conseguiu a aprovação do plenário de um projeto que lhe deu o poder de escolher o secretário de comunicação social. Chamou o deputado Cleber Verde, da bancada da Bíblia, cujo Partido Republicano Brasileiro é ligado à Igreja Universal.
Incorporou no pacote fiscal uma isenção tributária às igrejas que, se aprovada, pode resultar na anulação de impostos de igrejas que remontam a mais de 300 milhões de reais. Falta a sanção de Dilma.
Algumas das atitudes de Cunha são mais abertas que outras. Na surdina, por exemplo, loteou o nome de Jesus Cristo na internet. Todas as variações de JC com o termo “facebook” são dele, como ”jesusfacebook.com.br”, “facebookjesus.com.br” e “facejesusbook.com.br”. São 212 nomes de site com cunho religioso, 154 deles mencionando “Jesus”.
Por trás de tanta preocupação com a moral e os bons costumes está a tentativa de não se chamuscar na Lava Jato. Na quinta feira passada, quando houve a convocação de Paulo Okamoto, do Instituto Lula, para depor, personagens que o comprometiam foram “poupados” e não foram chamados.
Nada vai parar Eduardo Cunha, o presidente do Estado Evangélico do Brasil. Nem Jesus. Pobre Brasil.
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TERRAS ALTAS DA MANTIQUEIRA = ALAGOA - AIURUOCA - DELFIM MOREIRA - ITAMONTE - ITANHANDU - MARMELÓPOLIS - PASSA QUATRO - POUSO ALTO - SÃO SEBASTIÃO DO RIO VERDE - VIRGÍNIA.
segunda-feira, 15 de junho de 2015
A verdade por trás do “deboche” de Lula sobre as demissões na imprensa.
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