segunda-feira, 8 de junho de 2015

CPI federal da violência contra jovens negros faz diligência no Bairro Alto Vera Cruz.



A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Câmara dos Deputados, que investiga a violência contra jovens negros e pobres no Brasil estará em Belo Horizonte na segunda, dia 8, para duas atividades. A primeira será uma diligência no Bairro Alto Vera Cruz, zona Leste da Capital, considerado o mais violento da cidade, pela manhã. A segunda será a audiência pública na Assembleia Legislativa de Minas Gerais, às 13h30, no plenário, sobre o Genocídio da Juventude Negra.
Em Minas Gerais, em 2011 foram assassinados 1.215 jovens brancos, enquanto que entre os jovens negros foram 2.885 homicídios, mais que o dobro. Os dados são do “Mapa da Violência 2013 – Homicídio e Juventude no Brasil. “Precisamos dar visibilidade a um quadro que ainda é completamente desconhecido da sociedade brasileira. Os indicadores da violência contra jovens negros e pobres são estarrecedores”, explicou o presidente da CPI, deputado federal Reginaldo Lopes (PT-MG).
A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), da Câmara dos Deputados investiga as causas, consequências, custos sociais e econômicos da violência, morte e desaparecimento de jovens negros e pobres, em parceria com a Comissão de Direitos Humanos da ALMG.  Os eventos vão reunir autoridades federais, estaduais e municipais, pesquisadores e estudiosos do tema, representantes de movimentos sociais e parentes de vítimas da violência.
BH: morre um branco a cada três negros mortos.
Em Belo Horizonte, em 2010, foram 653 homicídios de negros contra 189 brancos.  De acordo com Reginaldo Lopes, esse número representa que, para cada pessoa branca que morre assassinada na capital mineira, 3,5 negros são vítimas de homicídio. A taxa de assassinatos por 100 mil habitantes é de 52,5 para negros e 17,2 para brancos, como mostrou o “Mapa da Violência 2012: A cor dos homicídios no Brasil”. “Nos últimos 12 anos tivemos uma redução de 30% nos homicídios de pessoas brancas no Brasil e, neste mesmo período, houve um aumento de 38,5% nos homicídios de negros, especialmente jovens e pobres”, relatou Lopes.
De acordo com o presidente da CPI, a Comissão está examinando a estrutura criminal no país, o modelo de policiamento, mapeando as condições sociais, como é a vida dos jovens que vivem sob risco nas comunidades pobres e o que pode ser feito por eles. “A CPI procura respostas para toda esta tragédia e ambiciona apresentar um plano estratégico decenal para a redução dos homicídios, com foco nas questões mais cruciais e que serão melhor conhecidas com o nosso trabalho. Podemos dizer que está havendo um genocídio no Brasil, um genocídio de jovens negros e pobres. E quem diz isso são os indicadores”, afirmou.
Minas Gerais será o quinto estado a receber a comitiva da CPI que já passou pelo Rio de Janeiro, Bahia, Alagoas e Espírito Santo. A Comissão foi criada em março de 2015 e tem 120 dias para concluir os trabalhos.
Com informação da Assessoria do deputado Reginaldo Lopes(PT?MG)
***
***
***
Wanderson Pimenta: Novos modelos organizativos e o partido “pedagógico”



É muito comum a esquerda reivindicar um programa socialista, mesmo que a definição do termo seja sempre deixada para depois. A tentativa de esmiuçar o socialismo que pregamos me parece bastante acertada, sobretudo, quando buscamos desenvolver o conceito. Em um esforço moderado de análise, o socialismo seria um modelo político que acabaria com as desigualdades sociais, primeiro.
Segundo, os direitos humanos, nas suas mais variadas vertentes, seriam respeitados de modo absoluto. Em terceiro lugar, não existe socialismo sem a luta ecológica e nem existe organização política que esteja sintonizada com os desafios presentes e futuros que não priorize um programa radicalmente ambientalista. A atenção especial  aos movimentos que representam as demandas dos novos atores e atrizes do cenário: os movimentos feminista, negro, LGBT, pessoas com deficiência, quilombolas etc, seria um quarto ponto. Quinto, atenção especial aos novos modelos organizativos, apresentado a seguir. E, por fim, o partido “pedagógico”, outro aspecto a requerer um parágrafo em separado.
Dos pontos elencados acima gostaria de considerar nesse momento dois: os novos modelos organizativos e o partido “pedagógico” como questões que devem ser bem analisadas pela esquerda socialista e pelo PT.
Do ponto de vista dos “novos” modelos organizativos, cito as experiências grega e, principalmente, espanhola. Syriza e Podemos, respectivamente. A frente política que levou um partido de esquerda tido como radical ao Governo da Grécia há poucos meses chamou a atenção da esquerda no mundo todo. Syriza, na Europa, tem algumas semelhanças com o PT no Brasil e está agora diante do dilema que o PT enfrentou no Brasil nesses últimos 12 anos: gerir o Estado capitalista a partir de uma perspectiva de esquerda é possível? São possíveis mudanças estruturais sem rupturas? O Syriza grego parece agregar setores atingidos pela crise econômica na Europa que são, principalmente, os jovens e a classe média que titubeia a cada eleição, pendendo em um momento para um lado e depois para outro.
Já o Podemos é a grande experiência organizativa dos novos tempos. Constituído há pouco tempo a partir de espaços participativos de elaboração coletiva se considera um partido-movimento. Sua base social parece ser parte da juventude que sofre na pele a crise, a intelectualidade progressista, setores médios urbanos etc. O Podemos apresenta um programa de natureza socialdemocrata, mas que se considera capaz de propor rupturas com os modelos arcaicos vigentes. Nos últimos meses se constituiu numa força eleitoral sem precedentes na Espanha.
Aponto esses novos partidos da esquerda europeia que emergiram em um cenário em que a política foi completamente sequestrada pelo capital e a luta parlamentar foi completamente fragilizada como modelos a serem estudados pela esquerda, sobretudo aquela que atua dentro do PT. Imerso na maior crise política da sua história, a perda de vitalidade parece ser um dos nós a ser desatado pelo partido, quando o mesmo se torna prisioneiro de sua própria estrutura.
O PT precisa se preparar para os novos e os velhos desafios, portanto, precisa rever o seu modelo organizativo. De repente, o PT deveria abrir o seu espaço interno para além dos filiados; a partir de critérios democráticos, o PT deveria permitir que a eleição das suas instâncias fosse amplamente democratizada, a partir da participação de simpatizantes no processo e, de uma vez por todas, eliminar as práticas burocráticas que esterilizaram o PT. As etapas livres do Congresso do PT me pareceram iniciativas a serem estimuladas.
Um Partido “Pedagógico”
Nós, da esquerda, temos uma prática “professoral”. Conhecemos de certo modo “o caminho, a verdade e a vida”. De certa forma, a nossa pregação anticapitalista parece ser um programa a ser seguido por outrem e não por nós mesmos. Por exemplo, o “consumismo” que é um dos aspectos mais nefastos do atual modelo, enraizado a partir da criação diária de “necessidades” não necessárias, estimulando a compra desenfreada de bens, objetos etc, absolutamente supérfluos deve ser, aqui, analisado por nós de modo diferenciado.

O que temos feito do ponto de vista pedagógico, na acepção ampla do termo, para que possamos dar o exemplo de que um modelo político e econômico alternativo seja possível? Nesse sentido, Jose Mujica, ex-Presidente do Uruguai, é um personagem não apenas “franciscano” de que é possível fazer política com viabilidade eleitoral sem abrir de princípios e que isso não envolve nenhum sacrifício, guardadas as devidas proporções entre Uruguai e Brasil. Sendo assim, é absolutamente condenável a prática de muitos dos nossos dirigentes políticos, parlamentares e membros dos Governos que passaram a ser os “novos ricos”. Em nossa avaliação, o PT deve dar exemplo e os seus membros, estejam em governos, mandatos etc ou não, não podem levar uma vida diferenciada da maioria do nosso povo. Portanto, é preciso combater práticas do atual modelo econômico dentro do próprio partido, enraizadas a partir da chegada aos governos.
Em apertada síntese o PT precisa adotar um novo modelo organizativo que retire o peso da burocracia na sua vida interna, um partido-movimento, pois o PT precisa de vitalidade para sobreviver; os petistas precisam resgatar as práticas que caracterizaram a esquerda no mundo, ou seja, o combate ao que há de errado lá fora, mas também aqui dentro. O PT deve ser um partido pedagógico.
Wanderson Pimenta é advogado, membro da Direção Estadual do PT – Bahia e da Direção da Militância Socialista
***
***
***
Sedinor amplia programa Brasil Alfabetizado em Minas Gerais.



Com aumento de quase 50 mil vagas, programa vai chegar a todos os 258 municípios da área de abrangência da secretaria.
A Secretaria de Estado de Desenvolvimento e Integração do Norte e Nordeste de Minas Gerais (Sedinor) está ampliando o programa Brasil Alfabetizado em Minas Gerais, em parceria com o Ministério da Educação. O objetivo é contribuir para a superação do analfabetismo, universalizando a alfabetização de jovens, adultos e idosos e a progressiva continuidade dos estudos em níveis mais elevados.
A iniciativa, que contemplava apenas 160 municípios do Norte de Minas e vales do Jequitinhonha e Mucuri, agora vai atender todos os 258 municípios da área de atuação da Sedinor. O número de beneficiários será quase triplicado, passando de 30.136 para 80 mil vagas. Nos municípios atendidos, o programa também chega como uma oportunidade de renda para os alfabetizadores bolsistas, que ministrarão aulas para turmas de 7 a 14 alunos em comunidades rurais e turmas de 14 a 25 pessoas na zona urbana.
Segundo o secretário da Sedinor, Paulo Guedes, a ampliação do programa Brasil Alfabetizado em Minas Gerais atende às diretrizes do governador Fernando Pimentel, que quer priorizar a redução das desigualdades no Estado. “Vamos diminuir as diferenças entre as Minas e os Gerais atacando esse problema crônico que é o analfabetismo. Aliado a outras ações, como abastecimento de água e o incentivo à geração de emprego e renda, vamos promover o desenvolvimento que as regiões Norte e Nordeste tanto precisam”, afirma.
Além de ampliar o número de beneficiários, o Sistema Sedinor/Idene também pretende aperfeiçoar o modelo de execução do programa, com o objetivo de obter melhores resultados. O diretor-geral do Idene, Ricardo Campos, explica que um dos problemas observados nos últimos anos é o baixo índice de alfabetização, uma vez que apenas cerca de 20% dos alunos que concluíam o curso eram considerados alfabetizados.
“O Brasil alfabetizado é um trabalho de mobilização, interlocução e acompanhamento pedagógico. Iremos, neste mês de junho, capacitar nossas equipes em todos os escritórios regionais do Idene para, na segunda quinzena do mês, lançarmos o edital de habilitação do programa”, disse, frisando que a estratégia é criar parcerias com as secretarias municipais de educação, entidades sociais, sindicatos, igrejas, associações de bairros e de produtores rurais. A primeira cidade a sediar a capacitação será Montes Claros, depois será a vez de Diamantina, no dia 10, e das regionais de Governador Valadares e dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, no dia 11.
Para as ações de alfabetização, bem como de continuidade do ensino, está sendo firmada uma parceria entre o Sistema Sedinor/Idene e a Secretaria de Estado de Educação (SEE), que vai disponibilizar espaços, apoio pedagógico e atividades voltadas para a expansão e universalização do acesso à Educação de Jovens e Adultos – EJA.
Fonte: Agência Minas

***
***
***

Leonardo Boff: Recado ao PT: transformar o desalento em teimosia.


Tempos atrás escrevi um artigo com o título semelhante. Relendo-o, vejo sua atualidade face à crise de rumo pela qual passa o PT. Refaço-o com adendos. Não basta a indignação e o desalento face aos crimes cometidos no assim chamado Lava Jato na Petrobrás. Importa tomar a sério a amarga decepção provocada na população, particularmente nos mais simples e nos militantes que agora suspiram cabisbaixos: “nós que te amávamos tanto, PT”.
O que tem que ser suscitada nesse momento é a esperança, pois esta é notoriamente a última que morre. Mas não qualquer esperança, aquela dos bobos alegres que perderam as razões de estarem alegres. Mas a esperança crítica, aquela que renasce das duras lições aprendidas do fracasso, esperança capaz de inventar novas motivações para viver e lutar e que se consubstancia em novas atitudes face à realidade política e com uma agenda enriquecida que completa a anterior.
A corrupção havida é consequência de um estilo de fazer política, desgarrada das bases populares.
O PT foi antes de tudo um movimento nascido no meio dos oprimidos e de seus aliados: por um outro Brasil, de inclusão, de justiça social, de democracia participativa, de desenvolvimento social com distribuição de renda. Como movimento, possuía as características de todo carisma: galvanizar as pessoas e fazê-las ter um sonho bom. Ao crescer, tornou-se inevitavelmente uma organização partidária. Como organização, virou poder. Onde há poder desponta o demônio que habita todo poder e que, se não for continuamente vigiado, pode pôr tudo a perder.
Com isso não queremos satanizar o poder mas darmo-nos conta de sua lógica. Ele é, em princípio bom; é a mediação necessária para a transformação e para a realização da justiça. Portanto, ele é da ordem dos meios. Mas quando vira fim em si mesmo, se perverte e corrompe, porque sua lógica interna é essa: não se garante o poder senão buscando mais poder. E se o poder significa dinheiro, ganha formas de irracionalidade: os milhões e milhões roubados se sucedem sem qualquer sentido de limite.
Há um outro problema ligado à organização: se os dirigentes perdem contacto orgânico com a base, se alienam, se independizam e facilmente se tornam vítimas da lógica perversa do poder como fim em si mesmo. Surgem as alianças espúrias e os métodos escusos. A cupidez do poder produz a corrupção. Foi o que aconteceu lamentavelmente com alguns altos setores do PT. Se estivessem ligados às bases, vendo os rostos sofridos do povo, suas duras lutas para sobreviver, sua vontade de lutar, de resistir e de se libertar, seu sentido ético e espiritual da vida, se sentiriam fortificados em suas opções e não sucumbiriam às tentações do poder corruptor. Mas se descolaram das bases.
Agora para o PT não resta senão a resiliência, dar a volta por cima e fazer dos erros uma escola de humilde aprendizado. Para os militantes e demais brasileiros que abraçaram a causa do PT, embora não sendo filiados ao partido como eu e outros, o desafio consiste em transformar a decepção em teimosia.
A teimosia reside nisso: apesar das traições, as bandeiras suscitadas pelo PT já há 25 anos, devem ser teimosamente sustentadas, defendidas e proclamadas. Não por serem do PT mas porque valem por si mesmas, pelo caráter humanitário, ético, libertador e universalista que representam.
A bandeira é um sonho-esperança de um outro Brasil não mais rompido de cima abaixo pela opulência escandalosa de uns poucos e pela miséria gritante das grandes maiorias, um Brasil com um projeto de nação aberto à fase planetária de humanidade, cujos governos pudessem, com a participação popular, realizar a utopia mínima que é: todos poderem comer três vezes ao dia, irem ao médico quando precisassem, enviarem suas crianças à escola, terem emprego e com o salário garantirem uma vida minimamente digna e, quando aposentados, poderem enfrentar com desafogo os achaques da idade e poderem despedir-se, agradecidos, deste mundo.
Os portadores deste sonho-esperança são as grandes maiorias, sobreviventes de uma terrível tribulação histórica de submetimento, exploração e exclusão. Sempre os donos do poder organizaram o Estado e as políticas em função de seus interesses, deixando o povo à margem. Tiveram e ainda têm vergonha dele, tratado como zé-povinho, carvão para o processo produtivo. Mas ele, apesar deste espezinhamento, nunca perdeu sua auto-estima, sua capacidade de resistência, de sonho e de alimentar uma visão encantada do mundo. Conseguiu organizar-se em inumeráveis movimentos, na Igreja da libertação e foi fundamental na criação do PT como partido nacional.
Essa utopia alimentou o PT histórico e ético. Esta bandeira deve ser retomada, pois é ela que pode refundá-lo, confiando mais na dedicação do que na ambição, mais na militância que na maquiagem dos marqueteiros. Foi esta bandeira que entusiasmou as massas, que teve uma função civilizatória ao fazer que o pobre descobrisse as causas de sua pobreza, se politizasse e se sentisse participante de um projeto de reinvenção do Brasil no qual fosse menos difícil de ser gente.
Porque é místico e religioso (o PT soube valorizar o capital de mobilização que possui esta dimensão?) o povo brasileiro tem um pacto com a esperança, com os grandes sonhos e com a certeza de que se sente sempre acompanhado pelos bons espíritos e pelos santos fortes a ponto de suspeitar que Deus seja brasileiro. É bebendo desta fonte popular que o PT pode se renovar e cumprir sua missão histórica de refundação de um outro Brasil. Se não assumir esta tarefa, vãs serão suas estratégias de subsistência e de esperança de futura vitória.
Leonardo Boff é teólogo e escreveu Depois de 500 anos que Brasil queremos? Vozes 2000.

Nenhum comentário: