sábado, 8 de agosto de 2015

O golpe não toca campainha, derruba a porta.



Por Fernando Castilho(*)

Sinto muito. O coração está apertado, a razão não consegue suplantar a emoção, há motivos e é preciso compartilhar.
Não sou petista, como já revelei em outras ocasiões, porém tudo aquilo que foi feito para as pessoas menos favorecidas em 12 anos de governo do PT é mais que suficiente para que deseje sua continuidade no poder. Não há nenhum outro partido com as mesmas condições de implementar um governo de esquerda.
Não se trata aqui, como alguns poderão pensar, de desejar que a corrupção continue.
Não foi o PT quem a inventou.
Pelo contrário, a corrupção existe no Brasil desde seu descobrimento e nos anos de PT pode ter sido ainda menor que no passado. Deve ter sido.
Esse passado oculto, nebuloso, situado numa zona de penumbra, pode estar escondendo um volume de recursos roubados do país incrivelmente maior do que agora se revela sob a administração petista, já que nada era investigado.
Foi Lula e Dilma quem deram independência ao Ministério Público, à Procuradoria Geral da República e à Polícia Federal para que se investigasse denúncias ou indícios de corrupção. E isso tudo agora aparece sob holofotes.
José Dirceu foi preso, delatado por prestar serviços de consultoria a empreiteiras da Lava Jato. Serviços comprovadamente executados e com impostos recolhidos.
Eduardo Cunha foi delatado por exigir 5 milhões de propina, sem executar nenhum tipo de serviço e segue solto.
O PT se cala sobre Dirceu exatamente como fez no tempo do mensalão.
Dilma não se pronuncia. O ministro José Eduardo Cardozo não se pronuncia. Deputados petistas postam fotos de seus gabinetes transformados em salas de recepções sociais onde não faltam canapés e regabofes.
Foi preciso que Roberto Requião, senador do PMDB, amigo pessoal do juiz Moro, se insurgisse contra a prisão de Dirceu classificando-a como ilegal.
Outras vezes vejo a deputada Jandira Feghali fazendo no plenário os discursos em defesa do governo que os deputados petistas deveriam fazer.
Alguns perguntarão: mas o que o governo pode fazer numa situação dessas?
Ora, para a presidenta falar fica difícil, mas o ministro Cardozo que afinal de contas é ministro e por isso comanda ou deveria comandar a PF, poderia abrir mão de seu republicanismo e demitir a cúpula da polícia por estar agindo com parcialidade, com gana de prender petistas, esquecendo-se dos outros políticos, inclusive da oposição que também estão metidos na operação. O republicanismo só se justifica quando há imparcialidade. Deveria cobrar Janot por não ter aberto investigação contra Aécio Neves, citado na lista de Furnas.
O que o legislativo poderia fazer?
Discursos no plenário já seriam muito bem-vindos, mas não são suficientes. Deveriam viajar, visitar suas bases, esclarecer a injustiça que está acontecendo, pedir união aos movimentos sociais e defesa do governo eleito democraticamente de Dilma, de Lula, da Constituição e do Estado de Direito.
O partido deveria procurar os movimentos, sindicatos, MST, FUP, etc., para preparar a reação. Deveria também conclamar o maior número de advogados e juristas que estejam prontos a defender a Constituição que está sendo violentada.
Se não for agora, não será nunca. Estamos incorrendo no mesmo erro daqueles que foram surpreendidos pela escalada do fascismo na Europa e não reagiram. Quando perceberam a fria em que se encontravam, não havia mais reação possível.
Zé Dirceu foi preso e não tenham dúvidas, Lula está bem próximo de sê-lo.
Dirão: ora, mas existe uma Constituição, ninguém pode ser preso sem provas, o STF não deixará e blá, blá, blá.
Inclusive há muita gente formadora de opinião descartando completamente o golpe, o impeachment e a prisão de Lula, como se a lógica ainda fosse do 2 + 2 = 4.
Entendam que se o STF quisesse segurar o juiz Moro já o teria feito.
Esqueçam as leis. Já vivemos o golpe.
Dia 16 próximo será o termômetro.
Se realmente for o sucesso que parece que vai ser, Moro se sentirá muito à vontade para prender Lula.
E depois leremos as manchetes dos jornais e ficaremos nos lamentando estupefatos, aguardando que o STF impeça mais essa arbitrariedade.
Estou pessimista. Não acho que resistiremos. A oportunidade é muito boa para a direita e ela não a desperdiçará.
A reação está difícil, as pessoas não se sentem confortáveis em defender um governo que está fazendo quase tudo aquilo que a oposição faria caso tivesse sido eleita. E Dilma não fala, não age, não reage…
A oposição assiste de camarote.
A hora de defenestrar o PT é agora, senão Lula volta em 2018.
Falta pouco para entregarmos os pontos.
Está tudo perdido? Devemos jogar a toalha? Claro que não, mas a hora de reagir é agora.
Gostaria que entendessem o texto não como uma desistência da luta, mas como um chamamento de atenção para o risco que está bem próximo de nós.
*Fernando Castilho é arquiteto urbanista, formado pela USP. Professor e blogueiro, mora no Japão e mantém no QTMD? a coluna “Em memória de Getúlio”.

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