Por Rogério Maestri
Os ratos não podem abandar o navio porque nunca estiveram dentro!
Uma boa reflexão que podemos fazer neste momento em que as políticas nacionais desenvolvimentistas dos governos populares da América do Sul estão se esgotando é o papel da intelectualidade no apoio ou contestação destas políticas.
No momento em que a possibilidade de que um impeachment do Governo Dilma aparentemente se mostra esgotado, no momento que crises estruturais advinda da crise externa que perdura a mais de uma década e fragiliza o modelo exportador adotado por vários governos latino-americanos, mais uma vez fica confortável criticar os erros destes governos progressistas dentro de óticas de esquerdas. Coloco no plural as esquerdas pois não há outra forma de destacar mais ainda a fragmentação destas e a total falta de criação de uma pauta propositiva mínima para qualquer governo que queira ser progressista na América Latina.
Os governos que estão no poder sofrem críticas pelo que não fizeram e não pelo que fizeram, uma ótima e vazia forma de exercer a prática da crítica tão usual nas diversas esquerdas.
Porém estas esquerdas críticas esquecem que para criticar tem que ao menos ter proposto em algum tempo uma alternativa ao que se está fazendo. E agrego mais um pressuposto que é ignorado olimpicamente por todos os críticos, para fazer uma crítica a um governo por ele não ter feito uma política mais a esquerda, teria pelo menos que esta esquerda tivesse participado em algum momento da teorização de uma nova plataforma de governo.
O problema das esquerdas não levantarem sugestões a uma nova forma de sociedade é simplesmente motivado pela total e completa ausência de um mínimo consenso quanto a propostas reformistas ou mesmo revolucionárias.
É extremamente fácil e confortável se declarar um livre pensador e desta forma ser uma areia num deserto que não precisa e não deseja se envolver com nada. Livres pensadores não se atêm a partidos políticos ou mesmo fracções ou divergências de fracções, seus compromissos são simplesmente com a sua consciência, e como esta pode ser resolvida colocando a cabeça no travesseiro e sonhando, nada o compromete.
Um livre pensador, mal comparando, é um adepto de um serviço de Buffet de ideologias, não vai procurar se servir de um prato proposto por alguém, pois estaria pegando algo que outro estaria propondo, é simplesmente necessário se servir um pouco disto e um pouco daquilo, ficando livre de pensar.
Livres pensadores são extremamente importantes para a história da humanidade, pois deles é que partem novas formas e novas estruturas de pensar, entretanto este livre pensador que falo, não é aquele que tem um livre pensar simplesmente para criticar, tem um livre pensar para criticar e propor de forma dialética novos rumos a serem seguidos.
A figura do livre pensador nos séculos passados era de alguém que a partir de uma boa análise de toda uma realidade existente criticava-a e propunha novos rumos para a vida social.
Hoje em dia, livres pensadores, são como diria um famoso humorista brasileiro, são “pensadores livres”, pensam sobre uma realidade parcial do todo e emite uma opinião, esta de preferência deve ser desvinculada de qualquer realidade prática de implantação de sua proposta. Isto é necessário, pois ela é desestruturada e não tem vínculos com as centenas de interferências que esta opinião possa ter com o restante.
A intelectualidade de esquerda brasileira, além da dificuldade de criar um programa mínimo que ligaria os seus diversos constituintes age como o “pensador livre”, e como tal nunca se animou a se engajar numa proposta completa de governo. Conseguiu aderir por algum tempo em propostas para pequenas comunidades e governos locais, em que os problemas mais globais eram atribuídos aos governos dos estados ou da União, de forma que se isentava de compromissos futuros, pois a superestrutura que envolvia as soluções regionais era a desculpa da não solução dos problemas locais.
Logo, a intelectualidade de esquerda brasileira nunca entrou de forma propositiva no processo político, simplesmente para não assumir as limitações e os erros que todos os governos fazem e ter que aceitar as soluções dadas pelos coletivos.
Se isto fosse algo somente teórico que não envolvesse as pessoas, este distanciamento poderia ser desculpado, mas como em política a lógica de muitos fatos é binária, ou seja, existe ou não existe determinada ação. Se os governos desenvolvimentistas, reformistas ou qualquer denominação que se queira dar, não agissem com programas reais que tem nome e sobrenome tais como, Minha Casa Minha Vida, Mais Médicos, Bolsa Família, Prouni e mais outros, simplesmente não existiriam.
Se estes programas “assistencialistas”, “sociais-democratas” ou outras denominações pejorativas não existissem, o que ocorreria se não houvesse estes governos “populistas de esquerda” ou “reformistas”. Milhões de brasileiros estariam passando fome, sem atendimento médico, sem casa para morar e mais outros detalhes na vida de um cidadão que talvez os “pensadores livres” que possuem já suas casas, três refeições por dia e cursos superiores que foram financiados pelo povo brasileiro, não vejam a importância ter estes “assistencialismos”.
Mesmo que com o tempo, políticos liberais assumam o poder, e eliminem estes “benefícios” para grande parte da população, ficará claro e na memória de muitos que houve uma época que um governo se preocupou com sua moradia, refeições e educação, coisas que são tão evidentes para “pensadores livres” que eles nem se lembram.
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segunda-feira, 11 de janeiro de 2016
Os ratos não podem abandonar o navio porque nunca estiveram dentro.
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