quarta-feira, 16 de março de 2016

Um ministro para a virada - Apesar da campanha brutal movida contra ele, Lula continua sendo a grande referência política para amplas camadas da população brasileira.






Fórum 21


Face aos rumores a respeito do convite dirigido ao ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva para integrar o ministério da presidenta Dilma Roussef, a direção do Fórum 21 reuniu-se em caráter emergencial no final da semana passada, com presença de membros convidados para esse fim específico, e discutiu detidamente os prós e contras da eventual aceitação da proposta, tendo decidido pelo apoio condicional a  tal opção.

Ao considerar a referida hipótese, a direção do Fórum 21 partiu do pressuposto de que, assim fazendo, Lula teria assegurada plena autonomia, não apenas para conduzir os assuntos afeitos à sua pasta, mas para definir os rumos gerais da política do governo e velar por sua aplicação.

Nesse caso, o argumento corrente de que esta seria uma forma de proteger-se contra investidas torpes que setores do aparelho de Estado vem dirigindo contra sua pessoa – representando, pois, um movimento de fuga -- não tem nenhum cabimento. Ao ingressar no governo como o seu condutor publicamente reconhecido, Lula estaria assumido um risco redobrado. Além de não afastar, senão momentaneamente, o risco de uma violência contra si encoberta com verniz jurídico, ele estaria pondo em jogo o seu imenso patrimônio simbólico, como o maior líder popular da história brasileira, expressão personificada dos anseios e das esperanças de milhões de homens e mulheres humildes, espalhados por todo o Brasil.   

O risco é muito grande porque Lula estaria assumindo responsabilidades de governo em condições muitíssimo adversas. Não apenas pela gravidade da crise econômica e pela paralisia do sistema decisório que o golpismo da oposição produziu nesses últimos anos. Mas também porque para a oposição (o complexo político-empresarial midiático com seus respectivos entornos) o fracasso desse ensaio será uma questão de vida ou morte.  Pois, em caso de sucesso, a entrada em cena de Lula representará para essas forças a certeza de uma fileira de futuras derrotas amargas.

No momento, elas estão acenando com a miragem da solução parlamentarista para a crise política. Agora, parlamentarismo com Lula na condição de primeiro-ministro bem sucedido seria sinônimo de presidencialismo forte na primeira esquina. Seria algo como a experiência Itamar-FHC, com a diferença que no início dela FHC era um político bissexto carente de voto, e Lula é o gigante que conhecemos. Se vitorioso nessa quadra dramática de nossa história, chegaria a 2018 como um verdadeiro santo.

Condições tremendamente adversas, pois. Mas isso apenas torna mais elevada a aposta; nada nos  diz sobre se ela deve ser feita ou não.
Ao considerar os dados do problema, os participantes da reunião destacaram dois elementos contrapostos.


1) A situação quase terminal do governo Dilma, e a catástrofe política e social que representaria --  para o país e para os trabalhadores -- a implementação do programa que anima a frente direitista -- com outra pessoa na Presidência, ou com Dilma inteiramente rendida. 


2) Os compromissos que Lula teria necessariamente que fazer para romper o cerco imposto ao governo e viabilizar as suas políticas.

Mais do que o fracasso da experiência, o grande risco envolvido na hipótese reside precisamente nesses compromissos.

Como se disse antes, apesar da campanha brutal movida contra ele, Lula continua sendo a grande referência política para amplas camadas da população brasileira. O vigor dos laços que ele mantém com os setores populares foi evidenciado há dias nas reações provocadas pela violência de sua detenção.  Elas desencadearam um movimento de solidariedade e resistência ao golpe em curso, que está ainda em seus primeiros estágios, no País e fora dele.

Sabemos que governar é negociar, levando em conta relações de força e condições objetivas. Sabemos também que, sem o respaldo do voto, e no quadro adverso acima aludido, Lula precisará negociar muito para garantir efetividade às ações do governo – o que implica recobrar o poder de comando sobre os órgãos da administração pública, aí incluída a Polícia Federal.


Mas não temos elementos para avaliar se os compromissos necessários para tanto serão compatíveis com o imperativo de preservar o legado associado a seu nome.

Na medida que o sejam, apoiamos a entrada de Lula no governo, e nos preparamos desde já para os próximos embates.
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