segunda-feira, 7 de março de 2016

Uma péssima imitação da 'Mãos Limpas' - Símbolo dos setores mais golpistas do Poder Judiciário brasileiro, o juiz Sérgio Moro não esconde sua aliança com a Globo para atacar o PT.

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Darío Pignotti, de Brasília, para o Página/12


De Luiz Inácio Lula da Silva a Silvio Berlusconi: uma Operação Mãos Limpas mal contada. O juiz brasileiro Sérgio Moro, responsável da causa que investiga a corrupção na Petrobras, a que ontem levou Lula a ser conduzido sob coerção à sede da Polícia Federal, disse em conferência recentes que tomou como modelo o processo impulsado Nos Anos 90 na Itália, dirigido pelo fiscal Antonio Di Pietro.

“A forma coercitiva como Lula foi levado a depor à polícia é um absurdo, o que o juiz Moro está fazendo se parece a um golpe de Estado”, atacou ontem o deputado Wadih Damous (PT-RJ), ex-presidente da sede fluminense da Ordem dos Advogados do Brasil.

“Com a orientação de Moro, a Polícia Federal está se tornando uma polícia política. A perseguição contra Lula se assemelha aos operativos do DOPS”, segundo o deputado Carlos Zarattini (PT-SP), quem não hesitou em comparar o operativo com os do departamento criado pela ditadura militar brasileira para perseguir opositores.

Graças ao seu estilo implacável e sua indiferença para com as garantias dos acusados, Moro conquistou popularidade entre as classes médias, que ontem gritavam “o Brasil nunca vai ser comunista”, perto da sala onde o ex-presidente era indagado por sua suposta vinculação com a cadeia de delitos constituída dentro da Petrobras.

Nas marchas golpistas do ano passado, Moro foi ovacionado por milhares de inconformados, que além de exigir o impeachment de Dilma e a prisão de Lula, também louvavam a Moro como um salvador da pátria, e não faltaram os que ventilavam seu nome como candidato à presidência.

Essas expressões de idolatria pelo juiz certamente se repetirão no próximo domingo 13 de março, quando os partidos conservadores pretendem realizar outra mobilização nacional em favor do impeachment de Dilma.

O pensamento teórico de Moro é modesto e sua carreira acadêmica não exibe elaborações de brilho. Se graduou como advogado em 1995, pela Universidade Estadual de Maringá, no interior do estado do Paraná, e logo realizou algumas viagens de estudos nos Estados Unidos, uma delas para se especializar no combate à lavagem de dinheiro, ditada pelo Departamento de Estado. Em seu currículo consta que possui um mestrado e um doutorado.

Da produção de textos do juiz, onde tampouco surge nenhum aporte original ao conhecimento do direito brasileiro, sobressai a resenha “Considerações sobre a Operação Mãos Limpas”.

Entre as conclusões do texto, ele sustenta que é “inegável que essa operação foi uma das mais bem sucedidas cruzadas judiciais contra a corrupção política e administrativa” na que a Justiça desempenhou um papel `regenerador´ de todo o cenário político dominado pelo Partido Democrata Cristão, em conluio com o Partido Socialista, de Bettino Craxi”.

O grau de promiscuidade política na Itália dos Anos 90, segundo o trabalho de Moro, “chegou a tal nível que, para resumi-lo, podemos nos servir da expressão do procurador Antonio Di Pietro, quando falou em `democracia vendida´”.

Moro parece assombrado pelo eficaz acionar de pinças da imprensa e dos magistrados, o que desembocaria na “deslegitimação total” del sistema político, ocorrida na Itália.

Em sua translação linear da experiência da Operação Mãos Limpas à realidade brasileira, Moro estabeleceu uma sociedade com a cadeia televisiva Globo, e para ela tem filtrado seletivamente as informações mai sensíveis da Operação Lava Jato, que investiga os delitos perpetrados dentro da Petrobras por uma organização integrada por grandes empresas construtoras e gerentes da companhia que receberam centenas de milhões de dólares em propina.

Tudo isso com a possível anuência ou a indiferença de dirigentes de vários partidos políticos, entre eles o próprio Partido dos Trabalhadores, que está no governo desde janeiro de 2003.

Moro se identifica com o conglomerado de meios de comunicação más concentrado de toda a América Latina, cuja expansão oligopólica foi garantida por sua sociedade com a ditadura militar. Por outro lado, ele vê no Partido dos Trabalhadores um vetor do atraso, imagina uma organização mafiosa encrustada no aparato do Estado, buscando saqueá-lo e entregá-lo aos sindicatos.

Mas o alvo principal no imaginário do juiz é, sem nenhuma dúvida, Lula: “praticamente todos os passos dados no processo sobre a Lava Jato foram para asfaltar o caminho para chegar ao ex-mandatário”, explicou recentemente Rui Falcão, presidente do PT, que convocou a militância ontem, para se unir contra a escalada desestabilizadora.

O ex-presidente da OAB-RJ, Wadih Damous, contou meses atrás a este diário que Moro “está cercado de um grupo de promotores fanáticos, uns jovens sem nenhum saber jurídico, que se assumem como se fossem predicadores do bem contra a política, que têm uma ojeriza contra tudo o que tenha relação com a política”.

Para Damous, o juiz estrela da Operação Lava Jato padece com as “veleidades” surgidas por sua própria miopia: “ele imagina ser um Antonio Di Pietro brasileiro, mas não tem a solidez jurídica do promotor milanês, e acredita que está fundando uma nova ordem, mas o que está alimentando é a restauração do velho sistema conservador brasileiro”.

“O pior é que Moro ignora o fato de que da implosão do sistema político italiano surgiu Silvio Berlusconi. Ou será que ele quer, na verdade, ser o Berlusconi brasileiro?”, arremata Damous.

Tradução: Victor Farinelli

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