quinta-feira, 14 de julho de 2016

Apoiar Erundina não deveria exigir discussão, mas o PT não aprende.


Por Pablo Villaça
Aguardando para fazer uma tomografia retiniana, leio a notícia de que o PT havia decidido lançar Maria do Rosário como candidata à presidência da Câmara, enquanto o PCdoB fizera o mesmo com Orlando Silva. Isto dois dias depois de o PSOL confirmar que Erundina concorreria.
Acho que quem precisa de avaliar a visão não sou eu, mas a esquerda. Aliás, os líderes dos partidos poderiam aproveitar para fazer uma tomografia no cérebro também.
Será que não aprenderam NADA? Mesmo depois do colapso completo que testemunhamos nos últimos meses?
Só há um motivo para a direita não ter conseguido destruir a esquerda completamente no Brasil: falta de liderança. Eles não têm um nome sequer capaz de cimentar a posição do grupo e servir como foco estratégico. O que a direita tem é um "cada um por si e Cunha por todos" - e não é à toa que Temer, o Pequeno, vem manobrando para salvar o mandato do amigo (lembrem-se do que Jucá, BRAÇO DIREITO de Temer, o Pequeno, disse; "Temer é Cunha e Cunha é Temer"). A estratégia, agora, é adiar ao máximo a votação da cassação de Cunha no plenário e de eleger alguém apoiado por ele para a presidência da Câmara: Rogério Rosso.
Mas como a direita é o que é, em vez de apoiarem Rosso, os deputados acabaram conseguindo a proeza de lançar mais QUINZE candidaturas.
E o que a esquerda faz para aproveitar a pulverização dos votos do outro lado?
Exatamente: decide pulverizá-los também do lado de cá.
Erundina é um nome histórico da esquerda. Uma mulher que SEMPRE manteve coerência absoluta em suas posições, criticando os próprios partidos aos quais pertencia quando estes abandonavam seus princípios. Fez isso com o PT e com o PSB quando este decidiu apoiar Aécio. Foi Erundina (ao lado de Moema Gramacho, do PT) quem ocupou a cadeira de Cunha num protesto belíssimo quando este se encontrava no auge do poder.
Apoiá-la não deveria exigir nem um segundo de discussão.
Mas, claro, o PT não aprende. Primeiro, um grupo dentro do partido defendeu apoiar RODRIGO FUCKING MAIA - um cara que lutou ardorosamente pelo impeachment. Agora, derrotados (e com a candidatura de Rosário retirada), estes deputados apoiam Marcelo Castro. Tudo bem, Castro foi ministro de Dilma e votou contra o impeachment.
MAS É DO PMDB E DISSE, ONTEM, QUE O GOVERNO TEMER NÃO PRECISA SE PREOCUPAR COM ELE.
Será que a esquerda QUER ser relegada ao esquecimento?
Eu tenho mil ressalvas ao PSOL. Acho Luciana Genro uma líder absolutamente desastrosa (e cheguei a esta conclusão mesmo depois de ter considerado votar nela em 2014, como falei aqui na época). Genro não tem visão estratégica e já demonstrou que não se importaria em ver a esquerda toda se ferrando caso isso aumentasse sua influência e a do PSOL.
Mas não há como negar que quadros gigantes do PSOL sempre correram para defender a esquerda quando esta precisou: Jean Wyllys, Erundina, Chico Alencar, Ivan Valente, Freixo. A fidelidade do PSOL à luta contra o golpe é mais exemplar do que a de MUITOS quadros do PT.
Além do mais, Erundina é Erundina.
Ela teria chance de vencer? Provavelmente não. Mas se apoiada em bloco pela esquerda poderia no mínimo obrigar Temer, o Pequeno, a escancarar mais ainda seu apoio a Rosso. Além do mais, foi o pragmatismo, esse pensamento de "ah, mas não teríamos chance", que nos trouxe até aqui.
Já passou da hora de o PT entender que já não é o gigante da esquerda que foi um dia e que precisa desesperadamente de fechar questão com os outros partidos do lado de cá.
Ou faz isso ou afundará com todos eles.
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