sexta-feira, 19 de agosto de 2016

Golpe: fair play inexplicável em um jogo roubado, por Romulus.


Golpe: o inexplicável fair play de Dilma, Lula e do PT em um jogo roubado
"É golpe, po!" (Fernando Haddad)
Por Romulus
(Escrito após ler o post “As razões para não tratar o golpe como 'golpe'”, de Luís Nassif, e os comentários dos leitores)
– Metáfora futebolística: Perdeu o jogo? Ora, pense no campeonato! Ser derrotado é do jogo. Mesmo em jogo "roubado". Mas tem que ter garra. Primeiro, não aceitar a derrota até o apito final. Segundo, perder de cabeça em pé, deixando o exemplo – e preservando o respeito da torcida. E sem esquecer: dando entradas duras no adversário. Deixando-o desfalcado pros próximos jogos.
– A partir de determinado ponto, seguir na farsa, apenas desempenhando o papel designado, é um erro injustificável.
– O ponto de não-retorno foi seguir no teatro do "as instituições estão funcionando" depois que já ficara claro que o STF estava dividido entre (a) quem estava no golpe e (b) quem se acomodaria nele sem grandes problemas.
– Os membros do bloco dos acomodados no golpe não farão nada. E tampouco estarão “ultrajados” a ponto de pedir para sair.
– Cortezões... amigos do rei... com holofotes e microfones à disposição. “Rei morto, rei posto”. Em eleição ou em golpe. Dá igual, ora. Vida que segue. Corte que segue. Estado de direito que se vai.
– Já eu digo: se é para cair e para ir para o sacrifício, que ao menos valha de alguma coisa na luta histórica. Que ao menos, num abraço de afogados, se levem junto as demais instituições – que se revelaram apodrecidas – do sistema de 88.
*   *   *
Enquadro a questão de usar a expressão “golpe” ou não – e usar com maior ou menor “ênfase” – em algo maior: o "fair play" de Dilma, Lula e o PT durante todo o processo.
Para mim já passou do ponto.
E não estou "prevendo o passado". Eu previ foi o futuro! Disse aqui no GGN várias vezes – em posts e em comentários, que seria um erro, a partir de determinado ponto, seguir na farsa, apenas desempenhando o papel designado a Dilma e ao PT no script do golpe.
No início podia ser compreendido:
"Há que manter as aparências de haver Estado de direito no país, pensando:
(i) em não rebaixá-lo – antes do tempo – a uma república de bananas internacionalmente; e
(ii) no dia de amanhã, evitando, assim, conflagração irreparável, inclusive institucional – a não ser em ultima hipótese".
Ok, entendo.
São "razões de Estado". Acima do juízo de certo e errado.
Talvez – penso até que provavelmente – fizesse o mesmo.
Isso se justificava não por um "patriotismo altruísta” – ir para o sacrifício para "não dividir o Brasil" à la Jango, mas porque, então, ainda se tinha esperança de derrotar o golpe e ter de administrar o dia seguinte.
“Contenção de danos” – no presente e no futuro imediato – determinava seguir interpretando o papel pré-designado para Dilma na farsa: no Senado, no STF e no discurso político diante da população em geral e da militância em particular.
Dilma e o PT nunca cogitaram um questionamento (que dirá combate) do sistema viciado, que atua claramente com viés deliberado contra ambos. Erdogan – que não deixa de ser um proto-fascista digno de todas as restrições – foi pelo caminho inverso. Não só denunciou como foi para o confronto aberto.
[Se Erdogan sabia previamente das articulações para um golpe e preparou um contra-golpe fulminante – minha avaliação – é irrelevante para esta análise]
*
Tudo tem limite
ponto de não-retorno – e aí não há explicação para o “erro” de avaliação continuado – foi seguir no teatro do "as instituições estão funcionando" DEPOIS que já ficara claro que o STF – em quem se depositou esperanças de "última trincheira" - estava dividido entre (a) quem estava no golpe e (b) quem se acomodaria no golpe sem grandes problemas.
Bem, descontando-se ginásticas retoricas sofríveis à guisa de justificativa para não ficar mal na foto... onde Ministro que não faz nada diz que “não pode mesmo fazer nada” como álibi para se distanciar de algo que ficou “feio”.
E isso apenas em público, hein! Em colóquios informais que gerarão notas na imprensa.
Notas na imprensa...
Registros escritos...
hmmmm....
Será pensando na biografia?
Ou melhor, nas menções do obituário?
Bem, se esse é o objetivo, terá de se esforçar mais. Como disse em título de post ainda outro dia – post esse sobre demonstração de tibieza e oportunismo de outros atores dessa farsa – “o mal do malandro é achar que os outros são otários”.
¬¬
Aceite-se:
– Não farão nada – falando isso calculadamente em colóquios ou, como outros, silenciando. Mas tampouco estarão “ultrajados” a ponto de pedir para sair e se recusar a fazer parte dessa farsa.
Altruísmo? Querem evitar o mal maior? Ficar lá para garantir o “menor dano” às garantias individuais e ao Estado do bem-estar social de 1988 diante da volta do arbítrio?
Sei...
Deve ser o mesmo tipo de “altruísmo” da Secretária (negadora) de Direitos Humanos, Flávia Piovesan. Aquela que inovou na política brasileira – e mundial! – criando as palmas de reprovação, enquanto seu chefe no golpe era vaiado no Maracanã.
Os Ministros do STF que não estão no golpe também “aplaudem reprovando”?
É isso?
Se sim, há ainda que se definir até onde vai o aplauso e até onde vai a reprovação. E a sinceridade de cada um deles.
Eu, para mim, cheguei à conclusão de que em vez de altruísmo o que há é sentimento pequeno. Sacrificam-se as ideias que tinham (com sinceridade ou apenas no discurso) para poder manter a vida com que sempre ambicionaram. Esta geração não é capaz de “varejar a capa preta de Ministro no chão do STF”.
Não cogitam, em nenhuma hipótese, abrir mão da vida há tanto almejada:
– Cortezões... amigos do rei... com holofotes e microfones à disposição.
E a glória: nominhos assinando atas do STF e escrevendo a jurisprudência a ser “citada e estudada nas próximas décadas”. Ah... sem esquecer de bônus de peso: como abrir mão da carteirada de “ministro de suprema corte”? Um luxo em colóquios... ainda mais internacionais! Anos luz da reles carteirada de “professor de prestigiada faculdade de direito”, que a seu tempo cumpriu o seu papel.
“Rei morto, rei posto”. Em eleição ou em golpe. Dá igual, ora.
Vida que segue. Corte que segue.
(Estado de direito que se vai)
*
Pois bem.
O sistema de 88 exibe agora alguns defeitos insanáveis. E, em vez de denunciá-los, os atores mais prejudicados leem as falas escritas para si pelos autores da farsa.
E, atores disciplinados, não inserem nessas falas nem sequer um “caco”!
Já eu – ao ver que a vaca vai para o brejo – jogaria o diálogo roteirizado no lixo. E partiria para uma improvisação redentora, para pânico dos “escritores” e dos “diretores”:
– Se é para cair e para ir para o sacrifício, que ao menos valha de alguma coisa na luta histórica. Que ao menos, num abraço de afogados, se levem as demais instituições – que se revelaram apodrecidas – do sistema de 88 junto.
Aqui, sim, cabia um "patriotismo altruísta".
Houve diversas oportunidades para denunciar a parcialidade da PGR e do STF e o seu concurso para o golpe.
E, a partir de dado momento, não havia mais nada a perder!
Como agora também não há.
Houve até chances de denunciar o golpe internacionalmente, com pompa e circunstância, ainda ocupando a cadeira.
Lembram das diversas declarações de Ministros ao diligente Jornal Nacional de que "impeachment não é golpe" – fazendo contraponto direto e cronometrado ao discurso da Presidenta sitiada?
De Janot oferecendo denúncia vazia contra Dilma para tirar o argumento de que não era sequer denunciada?
Lembram dos grampos do Sérgio Machado?
Dos "entendimentos com MinistroS" ali relatados?
Pois é.
Ali o jogo já estava jogado.
E o lado "pragmático demais" da direção do PT se impôs, confortável no papel de oposição institucional a Temer - "que pode até dialogar" com ele para reformas, vejam só!
Pragmatismo? Estupidez? Ou rabo preso?
Sim, porque confiar - de novo! - num "acordo de cavalheiros" com quem lhe enfia a faca se explicaria como?
Alguém realmente acredita que a direção do PT é tão inocente a ponto de achar que as eleições de 2018 serão normais? Que terão chances de voltar ao poder? Que Lula será preservado?
Ora, por favor!
É na não-combatividade do PT que reside o verdadeiro "mistério".
*   *   *
Leviandade nas indicações para o STF
Lula de início não entendeu a importância da nomeação de Ministros do STF. Os cargos entraram, como tudo mais, no loteamento politico (Min. Direito, Carmen Lucia, p.e.).
Dilma, no inicio, tampouco deu a importância devida.
Caiu na lábia do esperto Fux.
Mas quem pode culpá-la? Dirceu – “o preparado”, que “entende de poder e de Estado” – não caiu também?
Fux “matou os dois no peito”, ora.
E hoje pode até pregar:


Mas aí uma diferença: Dilma, com seus erros, foi tirando lições.
Suas indicações posteriores foram de pessoas "sérias".
Seriedade – e até amizade! – não se mostrou suficiente com Rosa Weber.
Novos requisitos então:
– Bagagem intelectual e acadêmica robusta para não ser intimidado pelo bloco de Gilmar; e
– Indivíduo de princípios e convicções. Acima de tudo, um(a) legalista.
E quem chegou?
Teori, Barroso, Fachin...

"Ah, mas ela podia era ter se garantido e nomeado o Stédile pro STF!"
Ah, sim... com certeza nomes assim passariam na sabatina do Senado...
E qual foi o problema então com as novas nomeações?
O homem.
O seu caráter.
Ou melhor: a sua fraqueza de caráter.
Como prever que alguém é, no seu amago, uma pessoa pequena?
Como saber a priori que figuras "referenciais" do direito podem ter esqueletos no armário e, assim, se tornarem suscetíveis a pressões "não republicanas"?
Que podem ter medo de grampos e de dossiês?
O Dirceu Chefe da Casa Civil compreendia isso. Não à toa fez varredura no passado de candidatos a Ministro do STF. Quando encontrava algo “inconveniente”, instruía para que fosse “apagado”, o que era feito. Não sem, em dado episódio, gerar ódio figadal no candidato escrutinado.
Dilma fez varreduras dos seus indicados?
Se fez, foram suficientes?
O fato é que parece haver pressões "não republicanas" vindas da casa menos republicana de Brasília (a “sede do inferno”, digamos assim). E essas pressões surtem efeito!
Se até hoje ninguém de fora conseguiu descobrir o instrumento dessas pressões, será que Dilma poderia tê-lo descoberto antes das nomeações?
Não sei nem se tentou. Certo ou errado, a história de Dirceu e do ódio figadal do escrutinado ficou como lição, não?
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Em resumo:
Compreendo os "erros" de Dilma nas nomeações para o STF.
Não compreendo – mais para não aceito – não levar STF e PGR pro buraco junto de si, se for o caso de ir pro buraco.
*   *   *
A ação da resistência democrática e as metáforas futebolísticas
Sinto muita falta de ouvir Lula sobre tudo isso. Tanta falta sinto que tentei, a anos-luz do seu brilhantismo, emular a sua técnica de produzir metáforas futebolísticas.
Julguem se fui feliz ou não na tentativa:
Perdeu o jogo? Ora, pense no campeonato!
Ser derrotado é do jogo. Mesmo em jogo "roubado". Mas tem que ter garra. Primeiro, não aceitar a derrota até o apito final. Segundo, perder de cabeça em pé, deixando o exemplo – e preservando o respeito da torcida. E sem esquecer: dando entradas duras no adversário. Deixando-o desfalcado pros próximos jogos.

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(iii) E, claro, aqui no GGN: Blog de Romulus
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Quando perguntei, uma deputada suíça se definiu em um jantar como "uma esquerdista que sabe fazer conta". Poucas palavras que dizem bastante coisa. Adotei para mim também.
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