segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Lula faz aniversário e lidera as pesquisas - Mesmo com três processos na justiça, o ex-mandatário se mantém na frente de todos os cenários eleitorais para o primeiro turno de 2018.

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Do Página/12


No dia em que chegou aos 71 anos, Luiz Inácio Lula da Silva, o homem que chegou a ser chefe de Estado da economia mais importante da América Latina, através do seu Partido dos Trabalhadores, aparece como líder nas pesquisas que avaliam os cenários para as eleições presidenciais de 2018. Em meio a uma atípica situação judicial – Lula enfrenta três processos –, o presidente corre o risco de ver sua nova candidatura à Presidência ser impedida pela lei eleitoral.

Nesse clima, e somente na companhia de alguns parentes e amigos mais próximos, incluindo a visita da presidenta destituída Dilma Rousseff, Lula passou seu aniversário de forma reservada, buscando se desligar um pouco das batalhas judiciais e midiáticas.

Pela primeira vez, o ex-mandatário está sendo investigado por corrupção, após o juiz Sérgio Moro aceitar uma denúncia do Ministério Público que o vincula ao escândalo na Petrobras. Lula acusou os promotores de agir por convicção política, e não respaldados em provas – a partir da declaração de um deles nesse sentido.

Este aniversário foi o primeiro depois da queda de Rousseff, sua pupila. Três personagens políticos ligados a ele – o ex-ministro de Economia, Antônio Palocci, o ex-chefe da Casa Civil, José Dirceu, e o ex-tesoureiro do PT, João Vaccari – estão presos por suposta ligação com os desvios de recursos na Petrobras. Do outro lado, as eleições municipais reduziram a presença do PT nas prefeituras do país em 60%. Neste cenário adverso que Lula enfrenta, também deve-se considerar o contraste entre o discurso dos grandes meios de comunicação, que é amplamente desfavorável ao ex-presidente, e o tamanho do apoio popular que ele ainda mantém nas pesquisas, se posicionando como favorito.

Na opinião de Rui Falcão, presidente do PT, toda a militância de esquerda, não só a do seu partido, está se organizando de forma espontânea em defesa de Lula, e não apenas por causa do seu aniversário. “A injustiça da qual Lula é vítima é um golpe ao Estado de direito no Brasil. Há uma estratégia baseada em formar a figura do inimigo número das instituições, e esse relato é construído por parte dos setores judiciais e pela imprensa”, afirmou o ex-deputado.
 
O panorama político pós-queda de Rousseff não é favorável para o atual governo. A crise econômica, com um desemprego que afeta 12 milhões de pessoas – 11,8% da população, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) –, não se dissipou com as medidas de austeridade adotadas desde maio por Michel Temer, primeiro como presidente interino e logo como mandatário definitivo, desde o dia 31 de agosto.
 
Curiosamente, quanto maiores os problemas que o governo acumula, mais a Justiça avança sobre Lula, que se vê no centro das investigações realizadas pela chamada Operação Lava Jato, sendo caracterizado, segundo os promotores, como “o comandante máximo da corrupção” durante o seu governo – imputação que não foi aceita pelo juiz Sérgio Moro, que o processou e abriu um juízo por corrupção, por supostamente ter recebido um apartamento no balneário de Guarujá, por parte da construtora OAS.
 
Nesta semana, Lula ganhou uma pequena batalha político-jurídica, após o Comitê de Direitos Humanos das Nações aceitar sua denúncia por abuso de poder e perseguição, contra o juiz Moro.
 
Este ano de 2016 vem sendo um dos mais turbulentos da história brasileira, e também na história cinematográfica da vida deste nordestino que driblou a morte por desnutrição no semiárido, que viajou duas semanas em caminhão até chegar em São Pablo, conseguiu emprego de torneiro mecânico, e a partir daí, e da luta sindical, forjou sua carreira política. Um dos momentos mais críticos do líder do PT foi o dia 4 de março, quando o juiz Moro o levou a um depoimento forçado, no aeroporto de Congonhas, em ação da Polícia Federal. O episódio provocou uma onda de manifestações no país. “Fui sequestrado durante seis horas”, recordou Lula.
 
Em meio à batalha judicial, Moro conseguiu impedir que Lula assumisse o cargo de chefe de gabinete de Dilma Rousseff, ao divulgar uma série de conversas telefônicas do ex-mandatário nas que criticava a Operação Lava Jato, por ter prejudicado economicamente as empresas que comandam a indústria naval e petroleira. Ele também disse que o Supremo Tribunal Federal, órgão máximo do Poder Judiciário no Brasil, estava acovardado diante da situação.
 
Segundo o porta-voz do Instituto Lula, o centro de estudos que ele dirige desde os Anos 90, o ex presidente teve uma festa reservada com familiares e amigos. Em sua conta no Facebook, Lula manifestou que o melhor presente em seu aniversário foi o vídeo que mostra a estudante paranaense Ana Júlia Ribeiro, de apenas 16 anos, discursando na Assembleia Legislativa do Estado do Paraná. Na ocasião, a jovem denunciou o “desmonte do Estado”, se referindo às reformas do ensino médio e à emenda com a qual o novo governo pretende congelar os investimentos em educação pelos próximos vinte anos.
 
Lula deixou o cargo de presidente em 2010, quando tinha 89% de popularidade. Após os governos de Dilma Rousseff, ele perdeu boa parte do seu apoio popular, que agora se posiciona novamente de forma positiva, favorecendo sua eventual candidatura para as eleições de 2018. Caso seja condenado em segunda instância, mesmo que não seja preso, ele ficará inabilitado para concorrer a qualquer disputa eleitoral. Nas pesquisas mais recentes, Lula aparece como líder em todos os cenários de primeiro turno, segundo o verificado por diferentes institutos.
 
Além da causa liderada por Moro, Lula enfrenta outros dois casos, que estão tramitando em Brasília: um por suposta facilitação de créditos públicos à empresa Odebrecht para investir em Angola e beneficiar um familiar, e outro por suposta obstrução da Justiça, a partir de uma denúncia do ex-senador petista Delcídio Amaral.
 
Os chamados “pixulecos” – bonecos infláveis de Lula vestido de presidiário – funcionaram como alegoria para a direita nos protestos contra Rousseff, mas também formam parte da agenda cotidiana que o líder mais popular do Brasil vive, aos seus 71 anos. Apesar dessa imagem, ele ainda aparece como o político com maiores chances de vencer as próximas eleições.
 
Os analistas explicam porque a imagem do ex-presidente é sustentada por boa parte dol eleitorado. O professor de pós-graduação da Universidade Federal de Bahia, Camilo Aggio, diz que “muita gente recorda os anos de prosperidade de Lula, com o Brasil saindo do Mapa da Fome da ONU, com a desigualdade em baixa, e com a melhora na distribuição da renta. Isso conta muito para as pessoas, quando pensam ou se expressam a respeito do seu candidato preferido”.
 
Tradução: Victor Farinelli

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