Apesar do resultado eleitoral desfavorável, elegendo 256 prefeitos nas eleições municipais deste ano, ante 630 em 2012, o PT não está morto. Na avaliação do coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST),Guilherme Boulos, embora tenha havido inegável vitória dos setores conservadores, é preciso considerar o massacre sofrido pelo PT no último ano e meio. Para ele, é preciso superar o atual sistema político: "E não tomar a institucionalidade como o único espaço da política".
“Um massacre midiático, jurídico. Houve um trabalho para dizimar o PT. Poucos partidos não seriam destruídos com uma campanha dessas. Era esperado que o PT sofresse com isso, o antipetismo foi disseminado no país”, afirmou.
Boulos, porém, avaliou que “o PT sai enfraquecido, mas não foi dizimado”. E que precisa, com os demais atores da esquerda – movimentos sociais, sindicatos, movimento estudantil, demais partidos –, retomar as bases de um projeto pautado em superar o atual sistema político. “A esquerda tem condições de construir uma alternativa coerente a esse sistema político, que está falindo, com a radicalização sobre a democracia. De confrontar os efeitos da crise econômica sobre os mais pobres, com um programa de reformas populares e estruturais. E não tomar a institucionalidade como o único espaço da política”, afirmou. Para ele, compõem esse raciocínio dois outros fatores: o crescimento do Psol, que disputará a prefeitura do Rio de Janeiro e de Belém no segundo turno, e o maior índice de abstenções e votos brancos ou nulos da história em várias cidades. “O que está em jogo é uma perda de credibilidade do sistema político. Os números da eleição mostram uma profunda insatisfação social com esse sistema político, que ainda não foi vocalizada na construção de alternativas, mas que é um contrapeso a esse avanço da direita”, afirmou Boulos. A alternativa que a esquerda tem de apresentar, na opinião do militante sem teto, são novas formas de se fazer política, com maior participação social, valorizando as ruas e os espaços de decisão popular. “Dizem que a esquerda está sem resposta, que o programa da esquerda se esgotou. Mas dizem isso considerando os 13 anos de governo petista. O programa da esquerda, com as reformas estruturais, nem sequer foi colocado efetivamente neste tempo. Esse discurso apareceu apenas em setores muito minoritários”, ponderou. Para ele, a eleição de João Doria (PSDB) à prefeitura de São Paulo é, em parte, resultado desse esgotamento do sistema político, que leva as pessoas a buscar aqueles que negam a política. Mas que logo deve ser desmascarado. “Há uma crise brutal de representatividade. E quando chega alguém dizendo ‘eu sou de fora’, isso pode captar o sentimento do povo nesse sentido. Mas que logo vai ser traído, porque o Doria, por exemplo, representa o que há de mais velho na política. Quem acreditou no discurso dele de novo vai se desiludir novamente”. O militante sem teto não descarta que possa haver uma escalada repressiva contra os movimentos sociais, considerando a aliança que haverá entre município e governo estadual, administrado pelo também tucano Geraldo Alckmin, em São Paulo. Mas ironizou a afirmação de Doria, de que não permitirá ocupações na capital paulista. “O que é importante é que saibam que de nossa parte não vai haver recuo. Como assim não vai poder fazer ocupação? Tem déficit habitacional, desemprego crescendo, população não consegue pagar aluguel. Ninguém vai pedir licença pro Doria pra fazer ocupação, ele não tem de admitir ou não. Os conflitos sociais, principalmente com o avanço da crise econômica, se agravam. E da parte do MTST, e estou seguro que da maioria dos movimentos sociais, garanto que não vai haver recuo”, concluiu.
Fonte: Rede Brasil Atual
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*** *** Centrais defendem frente ampla após resultado negativo nas urnas.
A eleição do empresário João Dória (PSDB) em São Paulo no primeiro turno revelou a força do poder econômico na eleição majoritária. Pesquisa divulgada pelo portal G1 mostrou que entre os 37 prefeitos eleitos no primeiro turno no país, 23 declararam possuir patrimônio de um milhão de reais ou mais. O resultado aumenta o desequilíbrio – em favor dos empresários - na queda de braço entre governo e trabalhadores. João Carlos Gonçalves, o Juruna, secretário-geral da Força Sindical confirmou que as forças conservadores que querem as reformas se fortaleceram. “Nós já somos minoria no Congresso, nestas eleições houve mais perda de capacidade eleitoral. Isso fragiliza a ação dos trabalhadores”, afirmou. Para Adilson, o “conluio entre mídia e judiciário” serviu para desequilibrar a disputa municipal. Na opinião dele, as ações da operação Lava Jato durante a campanha foram decisivas contra o Partido dos Trabalhadores (PT), por exemplo. “O desemprego crescente, o uso seletivo da Lava Jato, criminalizando, prendendo e condenando pessoas que, até que se prove o contrário, teriam direito à presunção da inocência. Isso foi temperando a eleição municipal”, disse Adilson. Atuação programática desfavorável O diretor-técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos (Dieese) avaliou que o resultado das eleições é preocupante mesmo sem ter efeito imediato sobre as bancadas federais ou nos governos municipais. “Há uma sinalização muito clara de restrição a um campo, digamos, mais de centro esquerda enquanto há um fortalecimento de outros partidos de visão que ainda não se conhece bem, com exceção do PSDB, que tem posição definida”, ressaltou o diretor do Dieese. “Saem fortalecidos nos âmbitos municipais o PSDB e Temer e as políticas de Estado mínimo, aumento da participação privada no setor público, um forte esforço de mudar o padrão regulatório com mudanças que atingem a constituição, as áreas trabalhista e previdenciária. Observa-se nestas forças que saíram vitoriosas um esforço muito grande de restringir o curso do estado brasileiro”, completou Clemente. Balanço e resistência Fazer um balanço e extrair lições para apontar novos caminhos. É a conclusão do presidente da CTB sobre o atual quadro político. Para ele, o país encerrou um ciclo e está diante de um período de retrocessos, que busca se consolidar. “O ciclo que se inicia é extremamente conservador que carrega más intenções no sentido de precarizar, de flexibilizar direitos sociais e trabalhistas e conduzir uma agenda privatista e que atenda o interesse do capital estrangeiro”, comparou. Segundo Adilson é hora de repensar a esquerda e construir uma frente ampla que dialogue com a sociedade. Juruna compartilha da mesma opinião de Adilson. Para ele o isolamento corporativo na defesa dos trabalhadores não amplia o debate. “Eu creio que as centrais tem que fortalecer a unidade de ação mas é preciso também buscar aliados no Congresso, nas universidades, artistas, intelectuais. Não podemos ficar isolados”, defendeu. “Quando a gente se vê em uma situação de perigo faz com que a gente se movimente, mas tem que ter uma presença nos locais de trabalho, distribuindo os jornais do sindicato, incentivando os trabalhadores junto com os delegados, com os que participam das cipas, fazer esse trabalho na base para que tenhamos o trabalhador do nosso lado para que acabemos falando sozinhos”, sugeriu Juruna. Imprensa sindical Na opinião dos dois dirigentes a imprensa do movimento sindical tem papel fundamental na mobilização da sociedade em torno da defesa dos direitos. Adilson defendeu a criação de uma publicação de alcance nacional com as pautas dos trabalhadores para fazer o contraponto à ofensiva dos meios de comunicação. “Vamos ter que voltar a aprofundar o diálogo sobre que tipo de comunicação precisaremos para fortalecer a mídia alternativa. O movimento sindical precisa repensar de que forma vai usar os seus recursos já que detêm uma certa estrutura”, ressaltou Adilson. Clemente Ganz enfatizou a necessidade de o movimento sindical liderar o debate sobre a retirada de direitos nas bases de trabalhadores e também nos diversos segmentos da sociedade. “Não há outra alternativa senão resistir apresentando o debate público, sobre os motivos, as divergências em relação a essas iniciativas que sinalizam retirada de direitos. É necessário fazer um esforço para que o debate ganhe presença pública para que a sociedade possa entender o que está acontecendo”.
Do Portal Vermelho
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terça-feira, 4 de outubro de 2016
Para Boulos "a institucionalidade não é o único espaço da política”
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